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EXCLUSIVO: Gustavo Paulus será indicado ao conselho da CVC após oferta de ações

Família fundadora terá direito a dois assentos no colegiado - segundo nome ainda não está definido

CVC: companhia vai se reinventar, três anos depois de ampla reestruturação (Germano Lüders/Exame)
CVC: companhia vai se reinventar, três anos depois de ampla reestruturação (Germano Lüders/Exame)

Publicado em 5 de junho de 2023 às 20:30.

Última atualização em 13 de dezembro de 2023 às 19:47.

Para entender a CVC do futuro, basta olhar para a empresa do passado. É essa a ideia que a companhia quer passar tanto com as mudanças já anunciadas na direção executiva quanto nas que devem ser realizadas no conselho. Depois de mostrar ao mercado um novo CEO já conhecido de longa data da família fundadora, uma das cadeiras do conselho poderá ser ocupada por Gustavo Paulus (filho do fundador, Guilherme). O nome do executivo será indicado após a conclusão do follow-on anunciado na última sexta-feira, de acordo com pessoas próximas à operação ao EXAME IN.

A operação prevê a injeção de, no mínimo, R$ 200 milhões no caixa da CVC, dos quais R$ 75 milhões serão pagos por um fundo controlado pela família. O valor aportado pelos Paulus no fato relevante não representa uma cartada final, uma cifra fechada, mas sim uma base do que pode ser investido, a depender da demanda.

O acordo dos fundadores com o Opportunity (maior acionista da CVC hoje, com cerca de 18% da companhia) estabelece que os papéis saiam cotados a R$ 3,00. Os Paulus não são obrigados a comprar, caso o valor fique acima disso, mas, ao que tudo indica, não há vontade de desistir de um pedaço relevante da empresa. O aporte, na verdade, pode ficar bem maior, como o EXAME IN apurou. "Não há um teto estabelecido hoje", afirma uma pessoa próxima à negociação.

Considerando a oferta mínima, a Mar Capital, gestora da família, terá uma participação de, no mínimo, 7%, o que dará direito a duas cadeiras no colegiado da companhia de viagens. Além de Gustavo, que já é um nome certo, há dúvida sobre o outro -- e não está excluída a possibilidade de que seja o de Guilherme Paulus.

Procurado pelo EXAME IN, Guilherme afirmou que não tem intenção de concorrer a nenhuma vaga. "Tenho muita coisa para tocar. Já foi meu tempo, já passei pela CVC. Meu nome foi muito ventilado, cria uma expectativa grande no mercado, e eu não posso responder pelo mercado", afirmou. Questionado a respeito de como sua experiência poderia ser útil para a empresa, o executivo respondeu: "Estou à disposição. Se me chamarem para dar palpite, para dar uma palestra sobre turismo... Tenho feito muito isso em vários eventos do setor".

Na semana passada, quando não havia a confirmação do nome de Paulus como um acionista da companhia, o executivo foi questionado pela Exame Invest, e respondeu que não estava em conversas com a CVC. “Estou feliz com minha atuação na área de enoturismo”, afirmou. 

Ainda com a dúvida pairando sobre a segunda cadeira, fato é que a volta da família (de pelo menos um dos integrantes) aos cargos não deve demorar. Isso porque, no fato relevante divulgado na última sexta-feira, uma das condições para que a oferta subsequente de ações seja realizada -- contando com um aporte de R$ 75 milhões do fundador por meio de um fundo de investimento -- é um acordo de voto entre o GJP Fundo de investimento (controlado pelos Paulus) e os acionistas de referência da empresa para eleger novos conselheiros. Não se trata de um acordo de acionistas tradicional, mas válido somente para esta reunião. O que influencia, é claro, diretamente a forma como a companhia será conduzida dali pela frente, e sinaliza uma direção em um objetivo comum por ambos. Na sexta-feira, o tópico já foi aprovado pelo conselho da companhia.

Esse ponto não preocupou o mercado, que focou principalmente nos aspectos financeiros pós-transação. Nesta segunda-feira (5) as ações da companhia fecharam em alta de 10,83%, cotadas a R$ 3,99. Analistas ouvidos pelo EXAME IN destacaram, na ponta mais otimista, a perspectiva de um 'voto de confiança' de Guilherme Paulus na CVC em meio a um momento complicado para a empresa, combinado a um anúncio de um CEO com experiência no ramo. O nome indicado, para lembrar, é o de Fábio Godinho, ex-VP de produtos da companhia, que também mantém uma relação próxima com os Paulus de longa data.

Godinho é o homem de confiança da família para colocar em prática os novos planos para a CVC. Há quinze anos, veio para a companhia por indicação de Gustavo Paulus e, desde então, comandou vários negócios da família. Uma pessoa próxima à operação afirma que a percepção dos futuros novos sócios é de que tudo deve mudar daqui para frente. De que era preciso "voltar ao básico", em termos de atendimento ao cliente e presença em diferenças praças, reforçando a essência de varejo, com cultura de vendas. Esse era o ponto central das conversas, que começaram há cerca de três meses, a respeito do futuro da companhia. Para cumprir esse objetivo, a condição era trocar todos os cargos de diretoria executiva.

A 'reforma' pela qual a CVC deve passar vem três anos depois de uma ampla reestruturação conduzida pela companhia nos mesmos cargos. Em 2020, no início do primeiro ano da pandemia, a empresa divulgou ao mercado erros contábeis de R$ 362 milhões, resultado acumulado de balanços de 2015 a 2019. Um período no qual Guilherme Paulus ainda atuava na empresa, como mostram os formulários de referência disponíveis na CVM, que apontam o fundador como presidente do conselho de administração entre os anos de 2015 e 2017. O executivo se desfez de sua participação mais relevante em 2018, ano em que saiu após admitir o pagamento de 161 milhões de reais em propinas para evitar uma cobrança de tributos.

Com a turbulência gerada pela crise de confiança, somada às perdas geradas pela covid-19 -- que somaram mais de R$ 1 bilhão no primeiro trimestre daquele ano -- um grupo de acionistas resolveu se unir, de olho em melhorar a governança da CVC. O Opportunity, com quem os fundadores negociaram a volta, agora, montou uma posição de mais de 10% no papel (hoje é de 16%) e foi seguido pela Equitas, que tinha 5,16% (hoje não aparece entre os maiores acionistas da empresa).

Um dos primeiros passos do novo grupo de controle foi o anúncio de Leonel Andrade (ex-Smiles) como CEO, um nome que foi muito bem recebido pelo mercado, causando uma alta de ações na mesma data do anúncio. O executivo permaneceu no cargo até duas semanas atrás, quando saiu da companhia alegando motivos pessoais. 

Em entrevista ao videocast do EXAME IN há cerca de três meses, Andrade apontou o que viu logo que chegou: um momento de tempestade perfeita, para resumir. “Era uma confusão generalizada. A companhia vinha passando por problemas de gestão e tinha programação de troca de gestores e conselheiros. (...) Havia um trabalho muito forte com os acionistas. Era importante mostrar o que acontecia e passar credibilidade de que consertarmos o que precisava ser feito. Iríamos instituir uma governança nova que desse sustentabilidade para a companhia no futuro”. Desde o fim de 2020, Andrade afirmou, ainda, que a companhia deixou de ter riscos de continuidade avaliados pela auditoria — um ponto presente quando assumiu o comando. De olho na nova fase da companhia, a ideia é manter os ganhos de governança conquistados até aqui.

Tudo isso ainda depende da conclusão da operação, primeiro passo para toda a "nova CVC" ser colocada em prática. A oferta, que deve sair em até 60 dias contados a partir da última sexta-feira, já começou a ser articulada com os novos executivos buscando bancos de investimento para a emissão. Ainda não há definições sobre datas, preços e o sindicato a ser formado, mas se o apetite pelo papel ficar próximo ao que esta segunda-feira mostrou, será uma boa briga. Hoje, as ações da CVC saltaram quase 11% e fecharam o dia cotadas a R$ 3,99. Aos 51 anos, a empresa quer mostrar que tem fôlego de sobra para se reinventar.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.

Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

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