BRF divulga edital para assembleia que vai debater a exclusão da poison pill
Mercado reagiu positivamente ao follow-on, que vai aumentar a participação da Marfrig no negócio, além de trazer o fundo árabe Salic
Karina Souza
Repórter Exame IN
Publicado em 1 de junho de 2023 às 18:43.
Última atualização em 13 de dezembro de 2023 às 19:48.
A BRF divulgou nesta quinta-feira, 1º, o edital de convocação da assembleia geral extraordinária, a ser realizada no dia 3 de julho, para deliberar sobre o aumento de capital da companhia e sobre a exclusão da poison pill (mecanismo previsto no estatuto da companhia que condiciona acionistas com mais de 33% do capital social a fazerem uma oferta pública de aquisição). A supressão desse artigo é um fator necessário para que o follow-on de R$ 4,5 bilhões seja realizado, conforme os comunicados divulgados ontem mostraram, uma vez que a Marfrig, hoje acionista de referência da BRF, deve ultrapassar o limite previsto por essa regra.
O mercado continua reagindo de forma positiva ao follow-on anunciado nesta quinta-feira, 31. Depois de alta de 12% nos papéis da BRF, hoje, as ações da dona da Sadia e da Perdigão fecharam em mais uma alta, de 4,18%. Nesta manhã, o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) resumiu com uma expressão o que o mercado tem mostrado nos últimos dias: a operação “mata dois coelhos com uma cajadada só”. Na verdade, vários “coelhos”. A operação resolve boa parte do endividamento da BRF, sem aumentar o da Marfrig, e aproxima a companhia de um de seus principais mercados para exportação, a Arábia Saudita.
A oferta combinada entre Marfrig e Salic prevê 500 milhões de novas ações, a um preço máximo de R$ 9, ou seja, uma injeção de capital de R$ 4,5 bilhões. Ontem, quando foi anunciado, o movimento representava um prêmio de 24% em relação ao fechamento do dia 31. Depois do anúncio, as ações dispararam mais de 10% e, hoje, operam em alta de 5%, levando o preço dos papéis para R$ 8,55 – bastante próximo do que foi anunciado para o follow-on.
Ao anunciar a oferta de ações por um preço superior ao que estava sendo negociado ao mercado, a Marfrig e o Salic faziam com que uma dupla função fosse cumprida: afastar os investidores de curto prazo do interesse pela ação, ao mesmo tempo que buscavam uma diluição menor aos atuais investidores. Ainda assim, cabe lembrar que os atuais acionistas vão tomar alguma diluição diante do follow-on: no limite, a Marfrig ficará com 38,7% da companhia e, o fundo árabe, com 15,8%. Além disso, traz para dentro de casa (depois de conversas nos últimos meses com Molina) o principal acionista da Minerva Foods.
Os investidores entram em um momento complicado para a companhia, tanto diante do endividamento atual quanto pela suspeita de gripe aviária. Fatores que, combinados, fazem com que o fato de os minoritários ficarem com uma fatia menor da companhia compense, como apontaram BTG, Safra e Itaú BBA em relatórios divulgados nesta manhã.
Caso os R$ 4,5 bilhões entrem no caixa da BRF, a dívida líquida da companhia deve cair para R$ 14,8 bilhões, levando a uma alavancagem (dívida líquida/Ebitda) de 3,5 vezes, segundo o BTG. Ainda há riscos relacionados a uma possível gripe aviária e a um primeiro trimestre que veio abaixo do esperado, mas, deixando esses fatores de lado, o banco projeta que a empresa possa entregar um Ebitda de mais de R$ 5 bilhões neste ano, resultado 22% maior do que o registrado em 2022.
Além do lado financeiro, a entrada dos novos acionistas também melhora a competitividade da companhia, em uma região considerada a “joia da coroa” do balanço da BRF. "A Arábia Saudita tem adotado uma agenda protecionista, procurando aumentar a participação de produtos 'locais' no consumo de frango, que aumentou de 39% da população em 2010 para 62% em 2022. Há tempos, a BRF tenta adicionar uma camada local às suas operações na região. Em teoria, ter o Salic como um dos acionistas de referência pode ajudar a companhia a assegurar a competitividade", dizem os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin. Recentemente, a Seara (da JBS) e a Tyson Foods fizeram investimentos no país, também de olho em disputar esse mercado.
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Karina Souza
Repórter Exame INFormada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.