Vibra nega oferta da Eneva – mas deixa porta aberta para contraproposta
Distribuidora de combustíveis diz que "relação de troca é injustificável", mas está disposta a conversar sob termos "significativamente" melhores
Natalia Viri
Editora do EXAME IN
Publicado em 28 de novembro de 2023 às 20:13.
Última atualização em 11 de dezembro de 2023 às 17:12.
Num movimento já esperado dada a reação do mercado, a Vibra acaba de rejeitar proposta de fusão apresentada pela Eneva, alegando que a “relação de troca é injustificável” e que “não possui qualquer atratividade para os acionistas da Vibra”.
No entanto, deixou a porta aberta para ajuste de termos, afirmando que o conselho de administração “estará atento a uma eventual nova manifestação da Eneva, caso seja de seu interesse melhorar significativamente os termos apresentados” – já sinalizando que espera um preço bem maior para se sentar à mesa.
A proposta da Eneva era uma ‘fusão de iguais’, o que implica de largada um prêmio de 25% para a própria companhia frente ao pregão de sexta-feira, anterior ao anúncio do interesse. A Eneva era avaliada em cerca de R$ 20 bilhões, enquanto a Vibra valia R$ 25 bilhões.
O mercado não gostou da proposta a princípio, penalizando as ações de ambas as empresas. A Eneva caiu 5,5% nesta semana, com a Vibra recuando menos, 1,7%. Aos valores de hoje, as empresas embutem uma relação de troca de 43% para 57%, respectivamente.
Acionistas relevantes na Vibra, como a Squadra, que tem pouco menos de 5%, já vieram a público dizer que não concordavam com os termos da transação e que votariam contra nos moldes propostos.
Fontes próximas à Dynamo, que tem participação tanto na Eneva quanto na Vibra, com 10% em cada empresa, disseram que a relação de troca também não agradou a gestora – que, no entanto, segue vendo sentido estratégico na transação.
A principal objeção do conselho da Vibra diz respeito ao valuation. No fato relevante, a companhia disse que não está entrando por ora no “mérito estratégico de uma possível fusão”, mas pediu mais esclarecimentos sobre as potenciais sinergias indicadas pela Eneva.
“As potenciais sinergias indicadas na proposta precisam ser aprofundadas e foram, em grande medida, baseadas na solidez da nossa própria estrutura de capital e base única de clientes”, disse o board no documento. A Vibra pediu ainda mais esclarecimentos sobre o modelo de governança de uma eventual empresa combinada.
Na sua proposta, a Eneva destacou a complementariedade dos negócios. Enquanto a empresa de térmicas a gás tem um pipeline robusto de projetos e um histórico de alocação de capital a bons retornos, a Vibra tem um negócio gerador de caixa, mas que tem desafios de perpetuidade, uma vez que a distribuição de combustíveis como é hoje deve perder relevância em meio à transição energética.
No documento divulgado há pouco, a Vibra deixou claro também que vê avenidas de crescimento, independentemente da fusão, com expansão no segmento de agronegócio, consolidação da estratégia de renováveis, principalmente via Comerc, e aceleração de iniciativas como a comercializadora de etanol Evolua.
“Estamos convictos de que reunimos escala, equipe e fortalezas financeiras para alimentar nossos vetores de crescimento estratégico e atender nossos clientes tanto em nosso principal negócio, quanto em novos segmentos voltados para fontes de energia, conveniência e mobilidade”, ressaltou a companhia.
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Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.