Warner e Paramount: início de namoro ou balão de ensaio?
Com balanços pressionados, fusão dos estúdios não parece óbvia – mas pode ser só cortina de fumaça
Publicado em 21 de dezembro de 2023 às 16:47.
Última atualização em 21 de dezembro de 2023 às 21:38.
Tidas como dois potenciais alvos de compra em meio ao ambiente cada vez mais competitivo dos estúdios de cinema e streaming, Warner Bros. Discovery e a Paramount surpreenderam o mercado com o início de uma conversa de fusão.
O episódio ainda é piloto. Como noticiou ontem o Axios, a possibilidade entrou no cardápio de um almoço esta semana do CEO da Warner, David Zaslav, com o CEO da Paramount, Bob Bakish. As conversas ainda são iniciais.
A transação, no entanto, parece desafiar a lógica. Ambos os estúdios têm um caminhão de dívidas e vem sofrendo para conseguir ficar no azul e gerar caixa.
Na Warner, que tem o estúdio do mesmo nome e é dona de marcas como HBO e CNN, a dívida é de US$ 40 bilhões contra um fluxo de caixa livre de US$ 5 bilhões nos últimos 12 meses. Isso após uma ampla ofensiva de cortes de custos que tornou Zaslav persona non grata para muitos produtores de Hollywood ao cortar contratos, inclusive de produções que estavam prontas, para economizar custos de marketing e lançamento.
No caso da Paramount – que também está entre os maiores estúdios de cinema americanos e é dona da rede de TV aberta CBS, além de MTV e Comedy Central –, o problema é ainda maior. A dívida é de US$ 15 bilhões, mas a empresa nem sequer gera caixa.
A favor da transação está o fato de que as plataformas de streaming das duas empresas – Max e Paramount+ – são bem menores que a Netflix e a Disney+ e uma fusão poderia dar mais escala para o negócio. A título de comparação, o Max (HBO Max, no Brasil), tem cerca de 95 milhões de assinantes e o Paramount+ tem 63 milhões. Na Netflix, esse número é quatro vezes maior: 247 milhões.
Além disso, as duas companhias têm direitos de streaming valiosos para esportes, como NLF e Premier League, o que pode ajudar a atrair assinantes.
Mas a fusão resultaria numa empresa com uma dívida astronômica e pouca geração de caixa para pagá-la – quanto menos para investir em novas produções para fazer frente à concorrência.
Como aponta o The Information, a Paramount faz mais de dois terços da receita com a operação de TV aberta ou a cabo, um negócio que vem perdendo tração e não costuma agradar os investidores.
Ontem as ações da Warner caíram 6% e as da Paramount, 2%, depois que o Axios noticiou as conversas. Hoje, os papéis caem mais 2,8% e 3,3%, respectivamente.
Entre investidores e na mídia especializada, no entanto, especula-se que o movimento do CEO da Warner pode ter sido um balão de ensaio para trazer potenciais interessados no seu negócio para a mesa.
Há meses, especula-se que a NBCUniversal, da Comcast, é uma das compradoras mais óbvias para o negócio. Os estúdios da Universal e da Warner Bros – os dois maiores e receita este ano – poderiam se fundir, gerando eficiência e escala. Além disso, a NBCUniversal tem bolsos mais fundos para fazer uma compra, se tornando um parceiro financeiramente mais atraente.
O fato de as conversas entre Zaslav e Bakish terem vazado menos de 24 horas após o encontro ajudaram a dar tração às teorias da conspiração.
“Abrir as discussões com a Paramount Global deve dar a Warner Bros um sinal de como a Comcast vai se posicionar. Ela está OK com a fusão? Ou [o CEO Brian] Roberts quer se unir com a Warner Bros Discovery, deixando a Paramount Global sem um parceiro de dança?”, escreveu o repórter Alex Sherman, da CNBC (que pertence à NBCUniversal).
A temporada de fusões em mídia parece ter começado. A grande questão agora é quem vai se unir com quem. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.
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Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.
Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado