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Peloton faz mega fábrica para não usar: um conto sobre excessos

Erro nos cálculos com demanda pandêmica fez companhia perder valor de mercado e dispensar colaboradores. Em tempos de incerteza, a empresa levanta a questão: ainda há espaço para errar?

Peloton: aposta em tempos incertos rendeu consequências nada favoráveis para a companhia (Peloton/Divulgação)
Peloton: aposta em tempos incertos rendeu consequências nada favoráveis para a companhia (Peloton/Divulgação)
KS

Karina Souza

30 de maio de 2022 às 17:10

A Peloton, empresa norte-americana de equipamentos e mídia para exercícios, virou uma epítome de nossos tempos. Primeiro, viveu o auge durante a pandemia. Avaliada em US$ 50 bilhões e com as vendas no maior patamar histórico, a companhia anunciou um investimento de US$ 400 milhões em uma nova fábrica para dar conta da quantidade de pedidos. Um ano depois, o cenário é completamente outro – e os planos foram pelo ralo. 

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A empresa vale aproximadamente um décimo do auge, cerca de US$ 4,9 bilhões, e a nova fábrica nem mesmo será utilizada após a inauguração. A unidade, que custou 400 milhões de dólares, está à venda. A situação mostra que as incertezas de previsões feitas na pandemia atingiram empresas para além do mercado de tecnologia. E que nem só de previsões completamente equivocadas se faz um fracasso. A Peloton, por exemplo, conhecida por suas bicicletas ergométricas, acertou na demanda por fábricas mais próximas do mercado consumidor, puxada por quebras nas cadeias globais. Mas errou, e muito, na escala. 

“Sentimos que há uma oportunidade tão grande que precisamos investir fortemente na cadeia de suprimentos por muitos e muitos anos para mantê-la. Nós não vemos uma ‘normalidade’ pós-covid”, afirmou John Foley, co-fundador da Peloton, no auge dos lockdowns em 2020, deixando de lado a ideia que a empresa estava crescendo muito com base em uma demanda temporária.

A fala foi lembrada pelo WSJ nesta segunda-feira, junto ao fato de que as vendas de equipamentos caíram 40% em relação ao registrado no último ano e às novas expectativas da empresa de vendas em baixa ao longo de 2022. Também neste ano, a Peloton demitiu centenas de funcionários e acumulou um estoque bem maior do que o previsto.

A euforia sobre a empresa durou bem pouco: 2020 foi o ano em que a companhia se tornou rentável pela primeira vez, mas já no fim desse período amargava as consequências da reabertura de academias e, pouco tempo depois, começou a fazer promoções das bicicletas, anunciando por um preço em média 20% menor, como relembra o WSJ.

O jornal ainda levanta a questão sobre o que fazer em tempos tão complicados como os da pandemia e relembra que outras grandes empresas tomaram a direção contrária durante o auge da demanda, como Procter & Gamble e Clorox. Longe de construírem fábricas, as empresas contrataram profissionais temporários e aumentaram turnos de produção, por exemplo. 

O caso da Peloton exemplifica a discussão e a dificuldade de entender o que vai dar certo ou não em tempos de crise. Nesse tema, segue impossível deixar de lembrar dos casos de startups que fizeram rodadas de captação no auge da euforia do mercado e agora têm de se adequar a novas estruturas, de olho no breakeven. As demissões e cortes de investimentos mostram que a cobrança por projeções de crescimento consistentes e que se provem acertadas voltaram à moda. 

Quem conseguiu atender a esses critérios, em boa medida, conseguiu evitar um tombo tão grande quanto o da Peloton. Para ficar em um setor similar, a rede de academias Smart Fit, que abriu capital em 2021 e captou R$ 2,3 bilhões, conseguiu mostrar no balanço do primeiro trimestre deste ano que está mais perto de respirar aliviada. O volume de clientes da empresa, considerando as mesmas academias de 2020, chegou a 80% da demanda pré-pandemia, completando 10 meses consecutivos em crescimento.

O Ebitda também teve evolução positiva em R$ 45,1 milhões e, ainda com o apoio dos recursos da captação, a alavancagem da empresa está em 0,33 vez. Há que se lembrar que a companhia ainda opera no vermelho, em um prejuízo menor do que o do ano passado, e também sofre com o mau humor do mercado. As ações, que estrearam a R$ 23, hoje são negociadas a R$ 14,90. Ainda assim, a meta para este ano segue firme: inaugurar 195 unidades, ante 165 no ano anterior. 

São um cenário e um nicho diferentes dos da companhia norte-americana, mas exemplificam o tom do mercado para o futuro próximo: vale mais quem consegue também pedalar ladeira acima. 

 

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