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Nubank reconsidera a Argentina: "É impossível ignorar o que Milei está fazendo", diz Vélez

Banco avalia o país e pode tomar uma decisão nos próximos 12 a 24 meses; maior oportunidade potencial é em crédito ao consumidor, afirma o fundador

"Velocidade com que a situação na Argentina está mudando impressionou absolutamente todos", diz empresário (Nubank/Divulgação)
"Velocidade com que a situação na Argentina está mudando impressionou absolutamente todos", diz empresário (Nubank/Divulgação)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 23 de outubro de 2024 às 12:34.

Última atualização em 23 de outubro de 2024 às 12:40.

O México virou a nova fronteira de crescimento para o Nubank, que no Brasil já tem 60% da população brasileira como cliente (algo como 105 milhões de pessoas). Mas há um outro país no radar de crescimento da fintech: a Argentina.

"Estamos reconsiderando a Argentina. Acho que é impossível ignorar o que Milei está fazendo e a reviravolta do país. Acho que todo mundo na América Latina está torcendo para que ele seja bem-sucedido", disse David Vélez a uma plateia lotada no Bloomberg New Economy, evento promovido pela Bloomberg nesta quarta-feira, 23, em São Paulo.

O fundador e CEO do banco digital, que disputa com o Mercado Livre e a Petrobras o papel de empresa mais valiosa da América Latina, diz que ainda é cedo para uma decisão, mas os próximos 12 a 24 meses podem ser definitivos. "A velocidade com que a situação na Argentina está mudando impressionou absolutamente todos, e é uma das maiores economias da América Latina", diz.

A oportunidade, diz Vélez, está no mercado de crédito, que praticamente inexiste ao consumidor. "Os bancos argentinos basicamente captam dinheiro do consumidor a zero e compram LEBACs (títulos de crédito do banco central argentino). Em economia de baixo desempenho, você imaginaria que esse mercado inteiro precisa existir em algum momento. Então estamos definitivamente curiosos para ver o que vai acontecer."

Enquanto o país vizinho é território de interesse, os Estados Unidos passam longe da mira do Nubank. Mesmo com uma população considerável de sub-bancarizados e respondendo pelo "maior PIB de latinos", o mercado americano é mais complexo, segundo Vélez, pela forte regulação do setor.

"Foi interessante ver o Brasil ultrapassar completamente os Estados Unidos nos últimos 10 anos em termos de digitalização. Há tanta captura regulatória pelos grandes bancos que não há chance de fintechs entrarem. E talvez o argumento por outro lado seja que ninguém realmente descobriu qual é a estratégia certa."

Espaço para crescer no Brasil

O Nubank já tem 60% da população brasileira como cliente, mas seu CEO vê espaço para ir muito além.

"Entre  os brasileiros, 6 em cada 10 são nossos clientes. Os outros 4 deveríamos conversar depois para ver o que está acontecendo." Hoje, o Nubank tem apenas cerca de 14% de participação de mercado em cartões de crédito, 7% em empréstimos pessoais, 2% em investimentos e poupança. "Portanto, ainda há um enorme potencial de crescimento dentro do que temos no Brasil", diz.

Para Veléz, um novo salto no negócio virá menos de uma mudança de trajetória e mais sobre explorar o caminho já aberto com as contas bancárias. "O Nubank já é maior em conta bancária principal para os clientes do que os bancos tradicionais. Isso é algo que você realmente não vê em nenhum mercado ao redor do mundo, onde fintechs conseguem construir carteiras digitais, mas fazer a transição de carteiras digitais para conta bancária principal é extremamente difícil"

A pedra no sapato do roxinho, porém, tem sido o segmento de alta renda, um mercado muito mais competitivo, na visão do CEO do Nubank. "É onde os bancos tradicionais têm agências, gerentes particulares, muito serviço. Nós não temos isso. E não acho que necessariamente chegaremos lá dessa forma."

O "plano de ataque" do Nubank para ganhar musculatura na alta renda passa pelo número de produtos.  O banco lançou, por exemplo, o empréstimo consignado para funcionários públicos federais, grupo que reúne muitos clientes de alta renda.

Também já tem grande fatia das contas empresariais de pequenas e médias empresas, em que muitos donos dos negócios já são clientes com maior poder aquisitivo.

Além disso, o Nubank lançou um marketplace, que agora incluirá mais serviços. O cliente pode comprar no e-commerce pelo app, reservar um quarto de hotel ou comprar uma passagem aérea, por exemplo.

"Esse é o início do lançamento de mais verticais fora dos serviços financeiros. Se há alguma empresa de consumo ou startup de consumo no Brasil que precisa adquirir clientes, nós podemos ajudar. Temos 100 milhões de clientes e sabemos como analisar crédito. Conseguimos reduzir custos para o parceiro na aquisição do cliente", afirma.

Para ele, telecomunicações, educação, comércio e saúde são, além dos serviços financeiros, as verticais de crescimento no Brasil e para as quais o Nubank olha em busca de parcerias. 

IA e o banco (completo) no bolso dos clientes 

Outra oportunidade para o Nubank é o avanço da tecnologia e da adoção da inteligência artificial, de acordo com Vélez. Do primeiro ponto está a redução de custos. Hoje, diz ele, o Nubank trabalha com 6 mil funcionários para 100 milhões de clientes, enquanto seus concorrentes – os bancos tradicionais – têm 100 mil funcionários.

O outro lado é que os smartphones começaram a resolver uma parte dos serviços financeiros, mas as pessoas ainda não sabem realmente como usar o banco. Mesmo que a pessoa tenha um banco no bolso, ela não sabe como investir seu dinheiro e não sabe qual é o fundo mais eficiente em termos de impostos para investir suas economias de vida.

"Acreditamos que a IA colocará um gerente bancário e um banco no bolso de todos, e essa será a próxima fase da inclusão. Isso será realmente aconselhamento financeiro para cada pessoa. E quando você olha para o acesso a esse aconselhamento financeiro, é muito desigualmente distribuído hoje."

  

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

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