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Natura&Co volta ao lucro em 2023, mas Avon ainda é desafio

Ano marcou o fim do sonho grande — e da alavancagem idem — mas operacional ainda vacila

Natura: separação é aposta da empresa de que a soma das partes vale mais, diz gestor
Foto: Leandro Fonseca (Leandro Fonseca/Exame)
Natura: separação é aposta da empresa de que a soma das partes vale mais, diz gestor Foto: Leandro Fonseca (Leandro Fonseca/Exame)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

12 de março de 2024 às 08:56

O ano de 2023 marca o fim do sonho grande para a Natura &Co, bem como a volta ao lucro e o adeus uma alavancagem elevada que custou caro às ações.

No ano, a última linha registrou um ganho de R$ 3 bilhões, com um reforço de caixa da venda de Aesop e The Body Shop que permitiu voltar a pagar dividendos — R$ 979 milhões, bem acima dos pouco mais de R$ 230 milhões obrigatórios pelo estatuto (e um dividend yield de 4%).

Mas se as pressões financeiras foram resolvidas, o operacional ainda vacila e precisa se provar nos próximos meses, especialmente na Avon.

O Goldman Sachs diz que o quarto trimestre foi de números mistos, embora mostre tendências positivas.

Os olhos do mercado se voltam para tão falada Onda 2, que integra as forças de venda de Natura e Avon na América Latina — o que ainda restaria para provar ganhos da aquisição feita em 2019.

“O turnaround desafiador ainda nos deixa conservadores, mesmo com sinais de melhora”, escreve a equipe de varejo e consumo do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).

A grande questão em Natura &Co é que, apesar de melhora importante também nas margens brutas da operação da América Latina e da Avon Internacional, o ritmo de recuperação ainda é incerto.

No último trimestre do ano, com a venda da The Body Shop, uma baixa de R$ 664 milhões em Avon e maiores despesas tributárias em alguns paises (especialmente a hiperinflacionada Argentina), o resultado contábil foi uma perda de R$ 2,7 bilhões, em linha com o previsto pelo mercado.

Com ajustes a esses efeitos não recorrentes, o prejuízo foi de R$ 506 milhões.

De outubro a dezembro, as vendas somaram R$ 6,6 bilhões, 4,5% de crescimento em moeda constante, mas uma queda de 17,4% em reais quando comparado ao mesmo período de 2022.

No ano, as vendas somaram R$ 26,7 bilhões, aumento de 3,5% em moeda constante e queda de 8,5% em reais, quando comparado a 2022.

O destaque positivo do operacional continuou a ser a marca Natura, que cresceu na América Latina, puxada pelo Brasil, onde a receita avançou 8,6%. No entanto, as mudanças comerciais da Onda 2 da integração com a força de vendas da Avon continuaram a impactar o resultado consolidado da Natura Latam.

A Avon International também foi impactada por uma base menor de consultoras e por mudanças causadas pela otimização de portfólio.

No último trimestre do ano passado, houve melhora na estrutura de despesas das duas marcas, com destaque para as economias geradas na Avon International.

A Natura &Co conseguiu expansão da margem bruta, que atingiu 63,8% no ano, impulsionada por estratégias eficazes de preços, melhorias no mix de produtos e otimização do portfólio, aliada a reduções nas despesas gerais e administrativas. O Ebitda ajustado totalizou R$ 2,7 bilhões.

A empresa estuda, agora, separar em duas companhias listadas separadamente a Natura &Co Latam e a Avon International. Ainda não há uma decisão sobre isso, mas a potencial mudança, que reforça a tese de passos atrás nos planos de grandeza, foi bem recebida pelo mercado.

Um gestor ouvido pelo INSIGHT diz que a separação das duas em uma holding é positiva. Seria, diz ele, “a Natura & Co Latam como um superativo e a Avon como um ativo pequeno e ruim, mas que queima pouco caixa.”

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado