Logo Exame.com
Empresas

Magalu dá baixa contábil de R$ 830 milhões por correção em bonificações

Considerando créditos fiscais, impacto no patrimônio vai ser de R$ 322 milhões

Magazine Luiza: no operacional, melhora da margem bruta é destaque (Leandro Fonseca/Exame)
Magazine Luiza: no operacional, melhora da margem bruta é destaque (Leandro Fonseca/Exame)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 13 de novembro de 2023 às 20:35.

Última atualização em 27 de dezembro de 2023 às 17:22.

A divulgação do terceiro trimestre do Magazine Luiza veio trazendo consigo uma novidade inesperada. A empresa está reapresentando seus balanços de 2022 e do primeiro semestre de 2023 com uma baixa contábil de R$ 830 milhões.

O ajuste vem na esteira de uma denúncia anônima recebida em março de irregularidades nas operações de bonificação com fornecedores — e deve mexer com os ânimos dos investidores, num momento já complicado para papéis de varejo. A denúncia veio logo depois da divulgação do escândalo da Americanas, que ampliou o escrutínio sobre a forma como as varejistas contabilizam os descontos e incentivos dados pelos fornecedores.  

Segundo o Magalu, o Comitê de Auditoria, Riscos e Compliance da companhia, o escritório de advocacia Tozzini Freire e a auditoria PwC concluíram, após meses de trabalho, que a denúncia — que apontava práticas de bonificação que feriam o código de ética — era improcedente.  

Mas o pente fino nessas práticas acabou identificando “incorreções” nos lançamentos contábeis. Havia um “descasamento”, explica o CFO, Roberto Bellissimo, entre o lançamento da bonificação e a conclusão da campanha.  

O Magazine Luiza contabilizava a bonificação com base na emissão da nota que era assinada pelo fornecedor, mas esse valor só deveria ser reconhecido depois de encerrada a campanha e vendidos todos os produtos, ou seja, com o cumprimento da obrigação atrelada àquela bonificação.  

“São muitas campanhas e não tínhamos um sistema automatizado para controle”, diz Bellissimo. Por isso, o conselho de administração da companhia determinou um mecanismo para automatizar a gestão de verbas de fornecedores e o cumprimento das obrigações. “Esse foi um ajuste temporal e, a partir daqui, as bonificações vêm contabilizadas dentro do período de competência correto.”   

Dos R$ 830 milhões, R$ 696 milhões são referentes ao período anterior a 2022, R$ 226 milhões ao ano de 2022 e no primeiro semestre deste ano, o reconhecimento contábil traz um ganho de R$ 93 milhões.   

Em contrapartida, a companhia reconheceu créditos fiscais de PIS/COFINS sobre bonificações recebidas de seus fornecedores em períodos anteriores a 2022 no montante de R$507 milhões, líquidos de impostos.  

Esses créditos se basearam em decisão do STJ e na opinião de seus assessores legais, o que levou o impacto total no patrimônio líquido para R$322 milhões.  

O ajuste não alterou o fluxo de caixa operacional, nem o saldo ou a dívida do período, mas representa 1% dos ativos e 3% do patrimônio líquido atual.   

Balanço ajustado 

Com a reapresentação dos números de 2022, o resultado contábil do terceiro trimestre foi a reversão na última linha do balanço de um prejuízo de R$ 191 milhões no ano passado para um lucro líquido de R$ 331 milhões.  

Considerados ajustes, no entanto, a empresa reduziu em 15,7% o prejuízo líquido, para R$ 143,4 milhões, ao fim do terceiro trimestre de 2023.   

Além dos créditos fiscais reconhecidos nesse trimestre, o resultado da companhia reflete algumas melhorias importantes. As vendas totais, que somam vendas das lojas físicas, das operações on-line e do marketplace, ficaram 4,8% maiores e somaram R$ 14,8 bilhões. A receita líquida da companhia cedeu 2,6%, para R$ 8,6 bilhões -- em função da volta do Difal (diferença de alíquota de ICMS nas vendas interestaduais), as deduções sobre a receita bruta no trimestre passaram de 18,1% para 18,9%, influenciando a receita líquida de mercadorias. Por outro lado, a receita líquida de serviços cresceu 30,4%.  

Esse bom desempenho na linha de serviços é uma das principais explicações para a melhora de rentabilidade operacional. A margem bruta da empresa chegou ao seu maior patamar em seis anos: 30,4%. A margem bruta foi quase 3 pontos a mais do que ano anterior. “Com o crescimento do marketplace que já é 30% das vendas totais e mais de 40% das online, a tendência é a margem bruta continuar crescendo”, destaca Eduardo Galanternick, vice-presidente de negócios do Magazine Luiza.   

“Foi mais um trimestre em que aumentamos a rentabilidade no marketplace, reflexo dos aumentos de tabela e melhoria de eficiência”, acrescenta Galanternick. Hoje, das vendas do marketplace 80% já são entregues pelo sistema de logística do Magalu, por exemplo.  

Uma estrutura que inclui também as lojas físicas: pelo menos 70% das vendas totais do grupo, sejam diretas ou pelo marketplace, passam pelas lojas. “Fazem parte da nossa estratégia online”. A empresa encerrou o trimestre com 1.303 lojas, cem a menos do que um ano antes.  

Com um balanço pressionado por dívidas, as despesas financeiras ficaram R$ 100 milhões menores, com ganhos de capital de giro, aumento do uso do PIX e redução do desconto de recebíveis se somando à queda da Selic.  

Cada um ponto de redução da taxa básica de juros, são R$ 150 milhões de economia anuais com custo de dívida da varejista. A posição de caixa ao fim do trimestre foi de R$ 8,1 bilhões.   

Na demanda, os ventos contrários cessaram, mas ainda não são favoráveis. Mesmo assim, a companhia está confiante de que a Black Friday será de crescimento. Em outubro, a empresa diz que seguiu com trajetória de crescimento de vendas e elevou a margem Ebitda (resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) para um patamar entre 6% e 7% -- no terceiro trimestre, a margem Ebitda foi de 5,7%.  

“Vai ser uma Black Friday mais tradicional, sem efeito da Copa”, diz o vice-presidente. A companhia reduziu em R$ 500 milhões os estoques versus o ano anterior, mas aumentou em R$ 300 milhões na comparação com o segundo trimestre deste ano, por causa da preparação da data promocional e do Natal. 

Para quem decide. Por quem decide.

Saiba antes. Receba o Insight no seu email

Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade

Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

Continua após a publicidade
Líder em whey protein no Brasil, Supley vai às compras para ganhar mais musculatura

Líder em whey protein no Brasil, Supley vai às compras para ganhar mais musculatura

Azzas faz simplificação de portfólio e dá adeus a Alme, Dzarm, Reversa e Simples

Azzas faz simplificação de portfólio e dá adeus a Alme, Dzarm, Reversa e Simples