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Com R$ 6 bi sob gestão, Oikos quer deixar a marca de um wealth management 'do futuro'

Gestora criada a partir da fusão da Concepta Asset Management com family office da família Grisi foca no nicho de famílias com mais de R$ 100 mi para investir

Oikos: maior parte da alocação está fora do país, acompanhando patrimônios de famílias da 'velha' e da 'nova' economia (Jorge Araujo/Fotos Públicas)
Oikos: maior parte da alocação está fora do país, acompanhando patrimônios de famílias da 'velha' e da 'nova' economia (Jorge Araujo/Fotos Públicas)
Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 8 de junho de 2023 às 12:02.

Última atualização em 13 de dezembro de 2023 às 19:39.

Em um cenário no qual o pico da taxa de juros já parece ter ficado para trás, a Oikos Wealth Management acredita que o momento é ideal para se manter atento aos ativos estressados. Os descontos, somados à proximidade da queda da Selic, fazem com que essa classe esteja na mira, ainda que com bastante cautela para diferenciar o joio do trigo. A atenção ao nicho vem em um momento no qual a gestora tem pouquíssima exposição em renda variável por aqui. Fora do país, no entanto — onde está a maior parte da alocação — a Oikos tem um leque completo de alocações: renda fixa, renda variável, câmbio, private equity, venture capital e por aí vai. Tudo, é claro, de acordo com o apetite de cada família que investe no multifamily office. Hoje, a gestora já tem mais de R$ 6 bilhões sob gestão, de famílias que têm pelo menos R$ 100 milhões só para investir. 

O objetivo é, como se pode imaginar, a de preservar o patrimônio dos clientes, acrescentando ganhos a esses montantes nada irrisórios. Para isso, a Oikos parte de uma abordagem diferente. “Normalmente, multi family offices ou private banking são mais alocadores, a gente faz gestão mesmo, chega a ficar zerado em algumas classes de ativos, dependendo do ciclo econômico. Os últimos dois anos têm sido mais intensos pelo desafio de navegar tanto aqui quanto lá fora, mas, olhando para o Brasil, a gente ainda vê a necessidade de um gatilho específico para direcionar nossa atenção à bolsa local”, diz Fernanda Raimo, sócia da gestora responsável pela divisão de Family Office, ao EXAME IN

Os últimos dois anos resumem a história recente da gestora, criada a partir da união de experiência de sobra em dois 'mundos' completamente distintos: a Concepta, gestora dedicada principalmente a cuidar do patrimônio de fundadores de startups e de outros profissionais do mundo da tecnologia -- que ajuda a entender o porquê da maior parte da alocação fora do país -- e o family office da família Grisi (fundadora do banco BCN, posteriormente vendido ao Bradesco). No ano passado, o Blue Bird, da família Zarzur, também se juntou ao negócio. A partir dessa combinação inusitada, a firma tem um perfil de cliente bastante variado: desde os mais ‘tradicionais’, de setores como o financeiro, indústrias e real estate, até os empresários de setores que passaram a existir só recentemente. 

Apesar das diferenças entre um e outro grupo, o ponto comum entre ambas as famílias é a necessidade, no fim das contas, de ter alguém cuidando de toda a organização das finanças e, principalmente, fazer toda a governança necessária desse dinheiro. Durante a conversa, a sócia da gestora faz uma analogia simples: a de que a Oikos é “a tesouraria” das famílias. Mas não qualquer uma.

A estratégia de investimento passa longe do tradicional 60/40, divididos, nas respectivas proporções, entre ações e títulos de renda fixa. O motivo tem a ver justamente com a experiência de investimento fora do país, atrelada principalmente ao tipo de cliente que a firma atende, hoje. Basicamente, famílias que têm muita liquidez e que, portanto, têm uma maior flexibilidade de alocação visando ao longo prazo. A atenção ao internacional tem a ver principalmente com três fatores: a origem dos recursos de boa parte dos clientes atendidos (da 'nova' economia de startups), a alocação tradicional de clientes da 'velha' economia como hedge e a própria divisão patrimonial das famílias, atendendo às regiões onde os membros de cada uma delas está.

Em um setor de alta concorrência e no qual, muitas vezes, é difícil identificar semelhanças e diferenças entre family offices, a Oikos ressalta dois diferenciais. O primeiro tem a ver com tecnologia. Sem esquecer do fator humano, essencial para o wealth management, aqui, esse atributo entra como uma oportunidade de trazer mais eficiência ao dia a dia de um family office: melhorar relatórios, de cálculo de cotas, de acesso à consolidação do que a empresa tem, do que está nos bancos, participação societária, etc. 

“Há uma série de complexidades, que geralmente ficam restritas só a um excel, vamos dizer assim. As famílias têm mandatos com diferentes bancos, que têm diferentes formas de apresentar resultados, o que pode facilitar a chance de que erros aconteçam. Por isso, é necessário fazer uma gestão completa, conhecendo todo o portfólio, advogados, contadores das famílias e por aí vai. Só com essa análise cuidadosa, dá para identificar uma série de ineficiências, com custos, por exemplo, ou com risco”, diz a sócia. 

Além do ‘digital na veia’, a Oikos tem outro ponto que a diferencia: a forma como a empresa é remunerada. Basicamente, a gestora não ganha dinheiro por produtos, somente das famílias, e também investe capital próprio junto com o de seus clientes que atende. É uma independência completa, sem tirar dinheiro a partir de comissões de produtos e do famoso 'rebate' da indústria de fundos.

“Faz muita diferença. Não só na hora de selecionar os melhores ativos, mas de colocar a empresa procurando o que faz mais sentido. E é uma coisa ainda incipiente no Brasil, sem falar na confusão que se faz de escritórios que são vistos como family offices mas são afiliados a instituições financeiras” diz Raimo. A atuação independente, hoje, faz com que a gestora consiga olhar portfólios de bancos e diferentes casas de investimento, sem falar nas oportunidades que os próprios relacionamentos com os clientes trazem -- como a chance de participar de rodadas de captação exclusivas, além de negócios entre diferentes empresários. Um círculo bastante fechado e exclusivo.

Hoje, apesar de acumular um extenso relacionamento com clientes -- a partir da experiência de longa data dos sócios -- a gestora ainda tem um longo caminho de explicar o que significam, na prática, em um primeiro contato com as famílias. São reuniões e mais reuniões para entender como esses mecanismos funcionam e, principalmente, desmistificar a preocupação comum de que estejam sendo enganados em relação ao que vai acontecer com o próprio dinheiro -- uma queixa comum nos primeiros contatos. Na outra ponta, clientes mais experientes, que já tiveram um single family office, por exemplo, tendem a ter mais conhecimento sobre esses assuntos, comissões e remunerações.

O que mudou, de forma geral, segundo Raimo, tem a ver com as preocupações a respeito de governança. “Evoluiu muito nos últimos dez anos. As pessoas querem entender mais sobre o assunto, é uma dor mais consciente. É dolorida a implementação, mas a gente vê uma crescente atenção a isso”, diz a sócia. 

Disseminar o entendimento de que é uma empresa diferenciada em gestão de fortunas é o que a Oikos quer fazer. A gestora quer aumentar a presença no nicho em que está, se tornando altamente especializada, sem perder o ponto da exclusividade. Hoje, R$ 100 milhões para investir são suficientes para cravar um nicho -- mas nada impede que esse valor possa crescer no futuro. Um novo family office, para um grupo seleto: é essa a marca que a firma quer deixar.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.

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