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Arábia Saudita anuncia exploração de lítio, siderúrgica e fábricas em diversificação histórica

Maior exportador de petróleo anunciou planos de diversificação com a ambição de posicioná-lo como protagonista na energia verde

Lucas Amorim
Lucas Amorim

Diretor de redação da Exame

Publicado em 15 de janeiro de 2025 às 08h52.

Maior exportador de petróleo do mundo, a Arábia Saudita anunciou nesta quarta-feira, 15, uma série de medidas com o objetivo de ampliar sua diversificação econômica. A ambição do reino é se consolidar como o “Vale do Silício” da mineração, atraindo investimentos e talentos globais.

A Saudi Aramco, petroleira estatal com US$ 1,8 trilhão de dólares de valor de mercado, anunciou descoberta de lítio próximo a suas jazidas. O anúncio marca a ambição do país em diversificar sua economia, investindo no processamento e exportação de lítio, essencial para baterias de veículos elétricos, com planos de desenvolver instalações comerciais nos próximos três a cinco anos.

“Temos um conhecimento de 90 anos do subsolo saudita, o que nos coloca em posição privilegiada”, disse Nasir Al-Naimi, da Saudi Aramco.

A petroleira também anunciou uma joint venture com a mineradora estatal, a Ma’Aden, para ampliar os investimentos em mineração no país. Bob Wilt, CEO da Ma’Aden, anunciou que o plano da companhia é multiplicar por 10 sua receita até 2040, posicionando o reino como protagonista de setores que vão além de suas forças atuais na mineração, como ouro e fosfato.

O objetivo é transformar o país num megahub de produção de minério e aço. A siderúrgica chinesa Bao Steel, uma da maiores do mundo, anunciou uma parceria com os sauditas para a construção de um complexo siderúrgico. O plano é investir cerca de US$ 6 bilhões numa planta focada em aços especiais.

O plano saudita ainda inclui, segundo anúncio, a construção de uma fábrica de baterias e de uma fábrica de torres de energia eólica para atender a demanda local e regional.

O lítio é essencial para a produção de baterias utilizadas em veículos elétricos (EVs) e a demanda tem sido impulsionada pelo rápido crescimento do mercado de carros elétricos, com projeções de aumento de até sete vezes na demanda até 2040.

“Hoje não existe apenas uma Arábia Saudita, mas muitas Arábias Sauditas”, disse Khalid Al-Falih, ministro de investimentos. “A mineração é importante como setor, mas também para impulsionar a industrialização e como uma base para construir outros setores. É um passo importante para inovação e para abrir o país para jovens talentos e fazer o país crescer cada vez mais rápido”.

A Arábia Saudita tem sido uma voz cada vez mais ativa na necessidade de desconcentrar a exploração de minerais essenciais para construção, indústria, baterias e energias renováveis: dos 18 minerais críticos, os três maiores produtores têm de 75% a 85% da produção.

A reportagem da EXAME está em Riad acompanhando o Future Minerals Fórum, evento criado justamente para posicionar a Arábia Saudita como protagonista na mineração assim como é historicamente no mercado de petróleo.

“Temos o compromisso de encarar o desafio de nossos tempos, endereçando a demanda de minerais e a energia necessária para o futuro”, disse Bandar Al Khorayef, ministro saudita da indústria e recursos minerais, na abertura do evento.

A Arábia Saudita tem 2,5 trilhões de dólares de potencial da mineração, segundo o ministro, o suficiente para fazer do país um grande competidor global no setor. Entre as principais descobertas estão urânio, lítio e outras seis terras raras utilizadas em componentes como baterias e carros elétricos. Ampliar os investimentos é parte do plano 2030 de diversificação econômica do reino, para além do petróleo, responsável por 95% de sua economia. A abertura inclui também pautas sociais, como a permissão para que mulheres dirijam e frequentem estádios junto com os homens, por exemplo — avanços a conta gotas numa das sociedades mais fechadas do mundo.

“Vamos extrair cada onça, grama, molécula, átomo e elétron de nossos recursos e você está convidado a participar”, afirmava uma apresentação saudita.

Durante 3 dias representantes de 180 países se reúnem em Riad para debater oportunidades e desafios do mercado global de mineração. “Desafios comuns exigem soluções comuns”, disse o ministro brasileiro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, num painel na abertura do FMF.

Nesta terça-feira, a mineradora saudita Ma’aden anunciou investimentos de R$ 8 bilhões no Brasil e abertura de um escritório em São Paulo.

Parcerias como países como o Brasil são essenciais para o projeto saudita de diversificação. Especialistas ainda se questionam sobre o real potencial mineral da região, o que demandaria que o projeto saudita envolva um olhar amplo para o potencial de regiões como África e América Latina. Sobre a capacidade de um país com pouco mais de 100 anos de história de investir pesado para diversificar e industrializar sua economia, quanto a isso não restam muitas dúvidas.

*O jornalista viajou a convite do Future Minerals Forum

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