CCR: Votorantim investe R$ 1,3 bi e compra quase 6% das ações
Ações foram adquiridas na bolsa e movimento ligou radar de analistas e investidores
Publicado em 24 de novembro de 2021 às 10:10.
Última atualização em 25 de novembro de 2021 às 09:25.
As interrogações que vão surgir sobre o futuro da CCR, companhia de concessões e operações ligadas à mobilidade e avaliada em mais de R$ 23 bilhões na B3, não são pequenas. E elas mostrarão que o controle da empresa segue despertando atenção. No começo da noite de ontem, dia 23, o mercado soube que o grupo Votorantim adquiriu uma participação de 5,8% na empresa — um investimento de nada menos do que R$ 1,35 bilhão pela cotação atual. Isso mesmo. Saiu comprando na bolsa e chegou nesse percentual.
Nada trivial ver a holding do conglomerado, por mais que hoje se posicione como uma empresa de investimentos, fazendo esse tipo de movimento. Em geral, o grupo é dono, sócio majoritário, de onde investe. Quando o ativo é muito grande, essa posição pode ser alcançada por meio de acordo de acionistas, com algum sócio relevante. Mas é sempre preponderante e atuante na gestão.
Menos trivial ainda pensar que o grupo apenas viu um ativo de infraestrutura desvalorizado e uma oportunidade na bolsa, considerando o volume investido em termos absolutos. Por essa a razão, a novidade ligou os radares. O grupo de gestoras americanas da Capital detém quase 15% da empresa também, mas sem compor nenhum acordo societário.
Quem for à pagina do grupo Votorantim, controlado pelos Ermírio de Moraes, na internet, encontra logo de cara: “Somos uma companhia de controle familiar com 103 anos de história e propósitos e compromissos claros. Investimos em negócios duradouros e estamos comprometidos com as localidades em que atuamos. Assim, desenvolvemos o nosso jeito de empresariar, investindo em empresas de diversos segmentos, com estratégia e visão de longo prazo, pautada pela responsabilidade, pelo respeito e pela confiança no futuro.” Nem um pio sobre investimentos em bolsa.
O esclarecimento da empresa no comunicado à CCR só aumenta o mistério. “Ressalte-se que, especificamente em relação à participação relevante aqui informada [ou seja, os 5,8%], não há o objetivo de alterar a composição do controle ou a estrutura administrativa da companhia.”
A compra dessa participação chega em um momento em que os sócios à frente da gestão, os grupos Soares Penido e Mover (antiga Camargo Corrêa), fecharam as portas para uma negociação com o fundo de private equity IG4, de Paulo Mattos, que vinha com recursos de ninguém menos do que a Macquire (a maior empresa de investimentos dedicada à infraestrutura do mundo).
A proposta de R$ 5 bilhões que a IG4 fez pela participação da Andrade Gutierrez (AG), hoje comprometida com credores na forma de garantia, não avançou. A oferta condicionava o negócio a um novo arranjo de governança com Soares Penido e Mover, uma revisão do acordo de acionistas. Na bolsa, esses 15% valem aproximadamente R$ 3,5 bilhões. O prêmio implícito, portanto, era considerável frente à cotação na B3.
A transação frustrada criou quase uma disputa de narrativas. Soares Penido e Mover alegam que o acordo de acionistas determina que somente se alguém comprasse a posição de um dos sócios, o que inclui AG, é que então a governança poderia ser revisada. Mas a compra teria de ser sacramentada antes. Para a gestora de Paulo Mattos, porém, seria um risco dentro de seu modelo de operação, já que o fundo assume a gestão do negócio. “A oferta da IG4 era bem clara. Nunca foi essa [primeiro compra e depois negocia acordo]. Sempre condicionou resolver a dívida da AG somente se existisse uma reorganização na gestão”, simplifica uma fonte que conhece bem o assunto.
Fato é que hoje Soares Penido e Mover têm cerca de 30% do capital da CCR — outros 15% estão nas mãos da AG, o que soma pouco mais de 45% — e comandam o negócio. A visão que esses atuais acionistas transmitem aos investidores é que a companhia não precisa de um “choque de governança” como o que pretendia a IG4. Ao contrário, a percepção é que empresa estaria em um de seus melhores momentos operacionais e teria conseguido resolver uma de suas maiores incertezas ao sair vitoriosa do leilão da Nova Dutra. Com isso, seguirá à frente da concessão.
Além disso, nos últimos anos ainda conquistou novas atividades e diversificou suas operações, deixando de ser meramente uma empresa de concessões rodoviárias para se transformar em um negócio de mobilidade e infraestrutura.
Mas os investidores de bolsa estão mais cautelosos. A ação foi negociada abaixo de R$ 9 em 2018, quando se discutiram as falhas nos controles internos, que levaram a um acordo de R$ 760 milhões com o Ministério Público Federal. Depois, o papel se recuperou e passou dos R$ 19 pré-pandemia, no comecinho de 2020. Dali para frente, muita volatilidade e nenhuma definição de valor que lembrasse aquele momento. Hoje, a negociação está abaixo dos R$ 12 por ação.
Infraestrutura é o negócio do grupo Votorantim. Um breve olhar nas informações que o próprio conglomerado traz sobre si mesmo já demonstra: ativos reais, físicos, infraestrutura e controle. São listados como negócios do portfólio: a mineradora Nexa (64% de participação total); a Votorantim Cimentos (100%); a empresa de alumínio CBA (76%); a companhia de suco de laranja Citrosuco (50%); Votorantim Energia (50%), onde está a Cesp; a imobiliária Altre ( 100%); o banco BV (50%); e as empresas de aços longos Paz dell Rio (91%) e AcerBrag (100%).
O grupo, por exemplo, está no meio de uma importante reestruturação societária no setor de energia, por meio da qual pretende unir a Cesp ao seu portfólio de empresas de energias renováveis. O controle das empresas de energia é em sociedade com o fundo canadense CPP.
Coincidentemente, o CPP é investidor do IG4 e aportou recursos para a gestora de Paulo Mattos controlar a Iguá Saneamento, e ainda colocou bilhões extras para a compra de parte da Cedae, no Rio de Janeiro. Rodolfo Spielmann, à frente do CPP na América Latina, recorrentemente ressalta como gosta de fazer parcerias e sociedades com empresas familiares. O fundo de pensão canadense também é investidor da CCR, mas com fatia inferior a 5% e, portanto, não há transparência sobre essa informação, como permite a regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
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