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Cogna Educação (ex-Kroton)

Mais leve, Cogna sobe 240% na bolsa em 2025: 'não é voo de galinha', diz CEO

Roberto Valério diz que o investidor finalmente reconheceu o trabalho que a empresa vem realizando há quatro anos

Roberto Valério: 'temos tudo para continuar indo bem' (Eduardo Frazão/Exame)
Roberto Valério: 'temos tudo para continuar indo bem' (Eduardo Frazão/Exame)
Mitchel Diniz

Mitchel Diniz

Editor de Invest

Publicado em 26 de dezembro de 2025 às 06:00.

Ela estava quase valendo centavos quando 2025 começou. Vinha de uma gangorra, oscilando entre as maiores altas e maiores baixas do Ibovespa nos últimos anos. Natural para uma ação com uma longa história na bolsa brasileira. A Cogna tem quase 20 anos de listagem — era apenas Kroton quando fez sua oferta pública de ações em 2007, algo que nenhuma outra empresa do setor de educação havia feito até então.

Mas este ano a companhia está prestes a bater um recorde de valorização em um ano, acumulando ganhos de 240% até o fechamento da última terça-feira, 23. É a maior alta do Ibovespa em 2025, com folga. Dificilmente perderá esse posto até a virada do ano.

"O mercado finalmente reconheceu o trabalho que vínhamos fazendo nos últimos quatro anos", afirmou Roberto Valério, CEO da Cogna, ao INSIGHT.

Valério se refere a uma reestruturação que mergulhou a fundo no core business da Cogna. O movimento resultou, em linhas gerais, no enxugamento da operação. Mas a companhia também passou a explorar com mais afinco competências que já possuía.

O primeiro exemplo dado pelo CEO é o negócio "B2G" (Business to Government), com venda de material didático para governos estaduais e prefeituras. Era uma frente ainda não explorada, já que a experiência da companhia com o poder público se resumia a vendas no âmbito do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), do governo federal.

"A gente faturava em média de R$ 30 a R$ 40 milhões por ano com soluções para os governos. Em 2024 já foram R$ 300 milhões e este ano vamos bater uns R$ 400 milhões", diz Valério.

Para tanto, a Cogna pegou o time editorial que já produzia material didático para sistemas de ensino particulares, como Anglo e PH, e começou a fazer produtos específicos para a educação pública.

"Levamos para a escola pública a mesma metodologia de aprendizado que ajuda os alunos de escolas particulares a passar nos vestibulares mais difíceis", explica o CEO.

Capex: quatro anos de estabilidade

Ainda em 2021 a Cogna decidiu que não queria mais operar escolas e vendeu suas unidades de educação básica para a Eleva. Como parte do negócio, a companhia ficou com o sistema de ensino da rede e decidiu apostar nesse filão. "Em vez de operar a escola, a gente decidiu servir a escola", afirma Valério.

Com as instituições de ensino básico operando cada vez mais em turno integral, a Cogna passou a trabalhar em conteúdos complementares para preenchimento de carga horária. Também desenvolveu um sistema de ensino bilíngue com uma grade disciplinar completa em inglês.

"O que isso custou para a gente? Quase nada, porque essas competências já estavam dentro de casa", diz o CEO. "Nosso capex está praticamente estável desde 2021".

Valério afirma que a Cogna, hoje, já se apresenta mais como uma empresa de serviços educacionais do que de ensino superior, ainda que este último seja o principal gerador de receita da companhia até então. Mas, daqui a 10 anos, o CEO vê o negócio de servir escolas e universidades já respondendo por 50% do faturamento da companhia.

"É uma linha que cresce, em média, 15% ao ano, sem fazer nenhuma aquisição".

Modelo asset light

Na Kroton, seu braço de ensino superior, a Cogna também se desfez de alguns pesos para conseguir levantar voo. A companhia fechou 35% dos campi. "Fazíamos muitos cursos presenciais que operavam no limite do deficitário", reconhece Valério.

O investidor, segundo o CEO, entendia o movimento como perda de receita. Mas a Cogna, segundo o executivo, estava passando uma peneira, tirando da sua base os alunos inadimplentes.

"Tinha investidor que ligava dizendo que estávamos quebrando a empresa. Mas nós precisávamos de um freio de arrumação".

A percepção do acionista começou a mudar este ano quando os resultados de 2024 da Cogna foram apresentados. A companhia conseguiu bater as metas de quatro anos que tinha estabelecido em 2020. Entregou mais de R$ 2 bilhões em Ebitda e R$ 1 bilhão em caixa operacional.

"Isso é resultado operacional", diz o CEO. "Caiu a ficha para o mercado".

Valério admite que a Cogna "fazia muito curso presencial que operava no limite do deficitário". Hoje, tirando graduações como medicina, veterinária, odontologia, enfermagem e direito, as demais são híbridas ou totalmente digitais.

"A maior parcela nesses custos são fixos. Então quando a receita cresce, vira margem", diz o CEO.

E mesmo com uma nova regulação exigindo mais presencialidade em cursos à distância, o executivo vê impactos reduzidos na Cogna. O aumento de tíquete médio para o aluno não deve ser relevante o suficiente para fazê-lo desistir do curso.

"A gente só é obrigado a fazer essa transição 100% a partir de maio de 2027 e até lá não tem nenhum impacto de custos relevante. Mas estamos trabalhando pra que seja o mais tranquilo possível", afirma Valério.

Em termos de estrutura, complementa, a companhia já tem estrutura para comportar mais presencialidade.

" A gente nasceu semipresencial, então sabemos como operar.  Usamos mais ou menos 60% do espaço físico dos nossos campi. E nossos pólos educacionais são anteriores a 2018, têm muita infraestrutura."

Crescimento consistente

guidance cumprido pode até ter sido o gatilho para a valorização das ações da Cogna este ano. Mas os resultados de 2025 divulgados até agora mostram, segundo Valério, que a recuperação da companhia não é "voo de galinha".

"Não somos o caso de uma empresa que reduziu custo, entregou guidance e agora está se afogando em problemas", diz Valério.

De acordo com o executivo, a Cogna está bastante confiante com o ano de 2026, ainda que o cenário macroeconômico continue inspirando cautela e as eleições presidenciais possam sacudir o mercado.

"Temos tudo para continuar indo bem porque a operação continua funcionando muito bem. Mas sabemos como as coisas mudam muito rápido no Brasil", ressalva.

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Mitchel Diniz

Mitchel Diniz

Editor de Invest

Jornalista há 20 anos, com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais pela FIA Business School. Passou pelas redações de Valor, Folha de S. Paulo, GloboNews e InfoMoney.

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