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Energia

Por trás da aposta da Casa dos Ventos no hidrogênio verde

Geradora líder em eólica e solar lembra que o caminho para a descarbonização vai aumentar cada vez mais a demanda por energia limpa — para além do consumo em si

Complexo Babilônia: joint-venture com ArcelorMittal vai construir maior contrato de fornecimento de energia renovável do país (Casa dos Ventos/Divulgação)
Complexo Babilônia: joint-venture com ArcelorMittal vai construir maior contrato de fornecimento de energia renovável do país (Casa dos Ventos/Divulgação)
Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 10 de julho de 2023 às 18:28.

Última atualização em 10 de julho de 2023 às 18:42.

Em um futuro marcado pela descarbonização, a Casa dos Ventos, geradora líder em eólica e solar, está cada vez mais atenta ao hidrogênio verde (H2V). "Nós, enquanto sociedade, pensamos principalmente em energia renovável quando o assunto é transição energética, e muitas vezes esquecemos da demanda por descarbonização de alguns processos térmicos, que vai envolver eletrificação", diz Lucas Araripe, diretor executivo da empresa, ao EXAME IN. A companhia começou a dar os primeiros passos nessa direção recentemente. No início deste ano, firmou um contrato junto com a Comerc Eficiência para exportar amônia verde produzida no Pecém à Alemanha. Hoje, as geradoras têm um pré-contrato com o local para instalação de uma planta com capacidade de produção de 960 toneladas de hidrogênio por dia e de 2,2 milhões de toneladas de amônia por ano. Além das conversas para exportação, a companhia tem tido cada vez mais encontros com possíveis clientes brasileiros interessados no combustível verde.

Os números envolvidos nas negociações ajudam a entender o potencial vislumbrado para o futuro da geradora de energia. Em abril deste ano, a Casa dos Ventos firmou uma joint venture com a ArcelorMittal, para desenvolver o maior projeto de fornecimento de energia renovável do país, que deve construir 553,5 MW. O volume deve atender a 38% da demanda por energia da fabricante de aço no Brasil em 2030. Isso sem considerar uma possível produção de aço verde — que demandaria, segundo estimativas da empresa, um consumo dez vezes maior do que o projetado para 2030.

Além das possibilidades a serem exploradas dentro da joint venture, a geradora de energia mantém conversas com diferentes setores que se preparam para cumprir as metas de descarbonização. A energia necessária para fabricar combustível de navios para uma multinacional, por exemplo, equivaleria a 100 GW de capacidade instalada. No caso de uma mineradora, a demanda por combustível verde capaz de substituir o diesel no transporte de material significaria uma necessidade de capacidade instalada de 2,5 GW.

Atender a toda essa demanda significa um potencial de crescimento exponencial para a Casa dos Ventos. Considerando a expertise já adquirida com contratos de longo prazo para fornecimento de energia ao setor privado, aproveitá-lo não parece um sonho tão distante. Hoje, a geradora de energia tem capacidade instalada de 1,5 GW, sendo que 90% desse total está em projetos de longo prazo de venda de energia no mercado livre. No próximo ano, a capacidade subirá para 1,7 GW, com a construção de um projeto de fornecimento de energia para a Braskem e Mosaic.

Ainda em 2023, a empresa começará a construir o projeto da ArcelorMittal (de 553 MW) e mais um parque novo, de 756. Com esses projetos, a geradora de energia prevê chegar a 2025 com 3,1 GW instalados. E a 6 GW até 2027 (um número que não pode ser excedido, pelo menos por enquanto, porque representa o máximo outorgado para a empresa até à data).

A maior parte dos projetos em construção ainda está — como o contrato com a fabricante de aço mostra — no fornecimento de energia renovável para atividades do dia a dia. Mas, na visão de Araripe, esse é um mercado que não representa o maior potencial de crescimento ao longo dos próximos anos. "Hoje, para ter uma ideia, o que o Brasil cresce de carga por causa do PIB equivale ao crescimento da geração distribuída", diz o executivo.

Em números, um levantamento feito pela CCEE com base nos dados de consumo do país mostra que, em 2022, o consumo de energia foi de 67,2 mil MW médios, aumento de 1,5% em relação ao ano anterior. A geração distribuída cresceu 83,6% no mesmo ano, representando 3,5% desse total, ante 1,9% em 2021. A sobreoferta de energia é um fato anunciado no país, inclusive alvo de reclamações de executivos à frente das principais geradoras de energia — como um evento do setor promovido no começo do mês de junho mostrou. Mais um fator que reforça o argumento da empresa de crescer de olho em combustível sustentável.

Os avanços da regulação

A rota para aproveitar a alta da demanda, para a Casa dos Ventos, tem um pouco de momento e um pouco de história. A empresa, que nasceu em 2007 dando os primeiros passos em energia eólica no país e se orgulha de ser uma "empresa de conhecimento", como define Araripe, quer se manter na vanguarda também na oferta de energia de olho no novo momento do país (e do mundo) em termos de demanda. No meio dos estudos e das conversas com interessados em produzir hidrogênio verde (ou qualquer de seus derivados) a empresa vê espaço para um aprimoramento de regulação.

O Chile é um dos principais exemplos nesse sentido. Em 2021, o país já trouxe a público um plano para aproveitar o sol do Atacama e o vento do Estreito de Magalhães em energia a ser exportada. Para Araripe, o Brasil tem um espaço ainda maior a ser aproveitado, considerando a matriz energética local e a quantidade de recursos naturais.

"É um ponto superinteressante principalmente porque hoje já existe um critério de certificação de hidrogênio verde na Europa que prevê que matrizes com mais de 90% de energia limpa podem conectar parques renováveis no sistema. Ou seja, se a produção para uma empresa está na Bahia, ela pode usar essa energia para produzir o combustível em São Paulo, por exemplo. Fica muito mais eficiente, não precisa construir tudo exatamente do lado de onde a empresa está", diz o executivo.

Trazer mais regulação a esse cenário atrativo é a chave, na visão de Araripe, para tornar o Brasil 'a bola da vez' em energia limpa e, consequentemente, um local atrativo para indústrias de todos os tipos. Um movimento que, no longo prazo, contribui para aumentar a quantidade de consumidores no país.

O executivo não é o único atento a esse aspecto. Passos importantes foram tomados nessa direção há cerca de um mês, quando o Ministério de Minas e Energia divulgou o Programa Nacional do Hidrogênio em um debate promovido pela Frente Parlamentar de Recursos Naturais no Senado. Hoje, estão em andamento: um estudo conjunto da EPE e do BNDES sobre a demanda de hidrogênio para o Brasil, minuta de Projeto de Lei com marco legal para o hidrogênio, uma proposta de Plano de Investimento do Brasil ao Climate Investment Fund, uma consulta pública na Aneel para hidrogênio de baixo carbono, entre outros.

Tudo para não deixar o 'bonde bilionário' do H2V passar. O Brasil reúne as características ideais para a produção do combustível e pode atrair, ao todo, US$ 27 bilhões em investimento nesse combustível, como a EXAME ESG mostrou recentemente. De olho no Brasil do amanhã, a Casa dos Ventos mostra, pouco a pouco, que também está preparada para aproveitar tudo que o Brasil do amanhã pode oferecer.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.

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