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O império do ovo: Granja Faria compra Katayama e projeta faturar R$ 3 bi em 2023

Transação é a maior já realizada pela companhia, em um modelo inédito, de compra apenas do controle - e não da totalidade das ações

Katayama: investida da Granja Faria deve trazer mais capacidade de industrialização e de exportação para a empresa (Ares do Campo/Reprodução)
Katayama: investida da Granja Faria deve trazer mais capacidade de industrialização e de exportação para a empresa (Ares do Campo/Reprodução)
Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 28 de junho de 2023 às 15:43.

Última atualização em 13 de dezembro de 2023 às 19:28.

Um namoro de cinco anos que, nesta semana, deu em casamento. Assim pode ser resumida a compra do controle da Katayama Alimentos pela Granja Faria, anunciada nesta quarta-feira (28) ao mercado. O valor da aquisição e a participação exata não foram divulgados, mas, em coletiva de imprensa, Ricardo Faria deu algumas pistas sobre o que a compra significa para a maior produtora de ovos comerciais do país. Antes da transação, a empresa tinha como meta faturar R$ 2,6 bilhões neste ano e, agora, a cifra deve subir para R$ 3 bilhões.

“Nós nunca tínhamos testado esse modelo de aquisição, de compra de controle, mas estamos muito animados. Imagina que no país há vários empreendedores como o Gilson Katayama, que querem um parceiro mais sólido, mas não querem abrir mão do sonho do empreendedorismo. Se o modelo for bem-sucedido, a gente abre um caminho importante de consolidação dentro do segmento”, disse Ricardo Faria, aos jornalistas. Importante ressaltar que a compra abrange apenas a parte de fertilizantes e de ovos da Katayama, ficando de fora a parte de bovinos. 

A ambição de continuar crescendo no país, mesmo depois de 11 aquisições, segue mais viva do que nunca para o executivo. O caminho para construir um 'império do ovo' ainda é longo, mesmo com o patamar atual, de produção de 16 milhões de ovos por dia. Nesse patamar de produção, a Granja Faria concentra apenas 10% do mercado brasileiro. O mercado endereçável, segundo o executivo, é de 30 a 35 bilhões de reais, o que reforça o apetite para crescer. Sem perder de vista, é claro, a eficiência.

Em 2023, a empresa deve ter um Ebitda de R$ 800 milhões (no ano passado, foi de R$ 524 milhões), com uma margem "similar" à do ano passado, nas palavras do executivo. Faria cita dois fatores principais que contribuem para esse patamar de geração de caixa: a alta demanda por ovos no mundo todo e o impacto da gripe aviária em outros países — que resultam em maior demanda de exportação e em maiores preços praticados.

Questionado a respeito do porquê de o impacto da doença não chegar ao Brasil, Faria defendeu os critérios de biossegurança do país. “Vamos recapitular. Chegou o primeiro pássaro infectado no Peru, uma semana depois todos estavam infectados. No Chile, a mesma história, assim como na Argentina. Aqui, o primeiro pássaro detectado chegou há 43 dias e não tivemos até agora nenhuma ave infectada. Prova a robustez e fortaleza do mercado local”, afirmou.

No ano passado, a empresa se destacou ao vender para clientes do México, Bolívia, Emirados Árabes Unidos, Senegal e Paraguai. Neste ano, com a compra da Katayama, soma-se a esse grupo o Japão, um mercado bastante exigente para a importação de ovos. Somados, todos esses mercados correspondem a 13% da receita anual da companhia, um percentual que deve aumentar na medida em que a companhia deve investir, daqui para rente, cada vez mais em ovos industrializados (fórmulas tratadas para um critério específico, como o ovo pasteurizado), que trazem maior valor agregado. Nesse sentido, a empresa adquirida traz uma contribuição importante, ao ter uma das indústrias mais modernas do Brasil.

Há uma diferença significativa do mercado brasileiro para o de fora do país. O ovo que é exportado é ligeiramente mais leve, em torno de 50 gramas, enquanto o local tem 60 gramas. Em uma analogia simples, é como se o público de fora pagasse mais caro pelo 'coxão duro' do que pelo 'filé mignon' comercializado localmente.

Ao trazer mais gente para dentro de casa, a Granja Faria mantém inalterada sua proposta de crescimento para os próximos anos. O discurso de que, da porta para dentro, essa é uma empresa só -- mas da porta para fora, é guerra -- está na ponta da língua de Ricardo. Ao permitir a competição das nove marcas do portfólio em seus nichos de atuação, o executivo acredita que é possível explorar o melhor que cada uma tem a oferecer, capturando sinergias em processos e fornecedores. Uma estratégia que coloca em prática desde 2018.

A maioria das bandeiras adquiridas por Faria tem várias décadas de operação. Como a Stragliotto, forte na região Sul, com 60 anos idade, ou a Marutani, fundada em 1955. No Brasil, trata-se de um mercado muito pulverizado. Logo em seguida da Granja Faria, em uma disputa quase corpo a corpo, a segunda maior produtora é a Mantiqueira, que recentemente adquiriu a Fazenda da Toca, de produção de ovos orgânicos, criada pelo filho do empresário Abilio Diniz, Pedro Paulo Diniz.

Com uma produção tímida em ovos de galinhas livres de gaiolas (hoje, só um milhão de ovos é comercializado dessa forma, dentro da empresa) mas mantendo um olhar atento à compra de terras no Brasil, Faria mostra que a Granja, apesar de ter construído uma trajetória e tanto até aqui, ainda está no começo do processo de construir um império nacional do ovo. Disposição para colocar o ovo de pé, existe de sobra.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.

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