Cogna reduz prejuízo e avança na geração de caixa
Kroton reportou um aumento de 8% de receita, enquanto Vasta e Saber avançaram 37% e 62%, respectivamente
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 8 de novembro de 2023 às 19:13.
Última atualização em 27 de dezembro de 2023 às 17:34.
A Cogna já colhe os frutos da estratégia de focar em ser asset light. No terceiro trimestre, a última linha do balanço ficou 70% melhor do que um ano antes, num prejuízo de R$ 44 milhões considerando ajustes – superando as previsões do mercado, cuja estimativa era de uma perda entre R$ 80 milhões e R$ 95 milhões.
“Gabaritamos mais uma vez no trimestre”, diz Roberto Valerio, CEO da Cogna desde março de 2022. O contexto ainda não é dos mais otimistas para o setor de educação. Muitas das alavancas estão relacionadas a decisões de incentivos do governo, como o que deve ser o novo FIES e um novo edital para vagas de cursos de medicina. Enquanto isso, a linha de custos também é pressionada por preços mais elevados de impressão gráfica – para os negócios de livros educacionais – e de estrutura física com a volta da presencialidade e dos estágios obrigatórios de alguns cursos do ensino superior.
“Ainda assim, estamos ganhando margem Ebitda nesse contexto”, destaca Valerio. No trimestre, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) recorrente foi de R$305,8 milhões, 31,9% maior do que no mesmo período de 2022, enquanto a margem cresceu 2,2 pontos percentuais 2,3 pontos percentuais, para 24,1%.
Os negócios de Vasta e Saber foram os grandes destaques do trimestre, com aumentos de 36,6% e 62% de receita, respectivamente. A Kroton, braço de ensino superior e que representa 65% do negócio da Cogna, reportou um aumento de 8,4%, em linha com o prevista por analistas. No total, a receita do grupo educacional avançou 19,3% contra o terceiro trimestre de 2022.
Na Vasta, a subscrição cresceu 18% no ano contra ano, mas soluções complementares foram propulsoras dos números. São programas de inglês e robótica para ensino nas escolas, por exemplo. Essa divisão da unidade de negócio viu um crescimento de 42% no trimestre. As vendas para os governos também se destacaram e vem se mostrando boa fonte de receita, de acordo com Valerio. “Mercado endereçável é muito maior do que só o de sistemas de ensino.”
Já a Saber foi muito impulsionada pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do governo federal. Esse ano a compra foi realizada para o ensino fundamental II, onde Saber ganhou 7 pontos percentuais de ‘market share’ versus a compra de 2019, atingindo 33%. Essa nova compra ainda terá maior impacto no quarto trimestre, já garantindo perspectivas de mais crescimento para os próximos trimestres. A empresa é dona das editoras Ática, Saraiva e Scipione.
No ensino superior, mesmo com um cenário macroeconômico mais adverso para a captação de alunos, a Kroton chegou ao quinto trimestre de crescimento de receita. Enquanto fica na “expectativa de que novidades do FIES venham no ano que vem”, de acordo com Valerio, o grupo tem sido mais criterioso na captação de alunos. “Estamos menos agressivos na oferta”, explica o executivo. Isso tem atraído uma base de alunos mais “bons pagadores”, conta o CEO. A base de alunos cresceu 6,9%, superando 1 milhão de pessoas e refletindo, também, a redução da taxa de evasão, que ficou em 16,5%.
Medicina e diversificação
Sem enxergar espaços para mais consolidações no Ensino Superior tradicional, Valerio diz que o ensino de medicina pode ser a exceção. A Kroton Med tem, hoje, 550 vagas de medicina, mas vê o ponto de maturação em 820 vagas. Já auditada, a empresa poderia ser um negócio a buscar um IPO mais à frente, embora ainda não haja planos concretos.
Olhando para oportunidades, Valerio diz que as decisões têm que ser estratégicas. “Nossa cabeça daqui para frente é mais diversificação. Não somos atuantes em profissionalizantes, cursos técnicos ou formação para infoprodutores, por exemplo.” Segundo ele, é preciso ser ambidestro: fazer muito bem o “core”, mas saber separar capital para novas teses.
Com um ambiente de juros ainda muito altos, os holofotes estão no pagamento das dívidas -- um trabalho que se intensificou neste trimestre. A companhia estuda alternativas para reperfilamento da dívida e diminuição de seu custo. No período, a dívida da empresa caiu 15%, para R$ 4,6 bilhões. A alavancagem recuou para 1,88 vez, também impulsionada pela geração de caixa, que chegou a R$ 653 milhões no acumulado de janeiro a setembro. “Estamos confiantes de vamos chegar o guidance de geração de caixa de R$ 1 bilhão em 2024 e também de que o custo da dívida vai cair, até pela redução da Selic”, diz o CEO. Cada ponto que a Selic cai, são R$ 33 milhões a menos no pagamento de juros, calcula Valerio.
Em 2023, a mudança de governo e os ajustes de despesas feitos pela Cogna voltaram a colocar a ação no campo positivo: a alta acumulada é de 28,29%. O papel, no entanto, é negociado a apenas R$ 2,63, bem abaixo dos pouco mais de R$ 20 alcançados em 2017.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado