Brasil surfa bom momento por ‘W.O.’ entre emergentes, diz Itaú BBA
Estudo com mais de 100 investidores mostra as preferências para o país; melhora nos lucros e melhor ROE entre emergentes devem seguir puxando alocação, especialmente de estrangeiros
Karina Souza
Repórter Exame IN
Publicado em 12 de janeiro de 2024 às 12:18.
Última atualização em 12 de janeiro de 2024 às 12:19.
O Brasil é a bola da vez entre os países emergentes? Um relatório publicado pelo Itaú BBA mostra que sim. A partir de conversas com mais de 100 investidores na América do Norte, Europa e Brasil, reunidas no relatório Brazil Equity Strategy, o banco aponta que o país tem uma vitória – ainda que praticamente por W.O. – num momento em que as taxas de juros globais começam a cair.
“O W.O. está relacionado ao fato de que a China tem um pouco mais de 25% do peso do índice de mercados emergentes e Taiwan tem outros 15%. Num contexto de receios geopolíticos em ambos, investidores passaram a olhar para as demais regiões. Em busca de locais de valores descontados em relação ao histórico, a América Latina se destaca e, especialmente, o Brasil”, diz Daniel Gewehr, estrategista-chefe do Itaú BBA, ao EXAME INSIGHT.
Outros países também ‘surfam’ na onda atual, com destaque para a Índia e para o México. Mas enquanto no primeiro caso os valuations estão mais esticados, no segundo, o mercado acionário é menor. Nesse cenário, segundo o banco, o Brasil tem uma posição única para o destaque internacional. Quantitativamente, a principal razão para isso está no gráfico abaixo, em que são correlacionados revisão de lucro (no eixo x) e o desconto do valuation em relação ao histórico (no eixo Y). Nessa análise, o melhor quadrante é o inferior direito — onde o Brasil está.
Isso significa, grosso modo, que o país tem uma estimativa de lucro revisada para cima, ao mesmo tempo que ainda tem desconto em relação ao histórico: historicamente, o Brasil negocia a 11,5 vezes lucro e, hoje, está em 8,5 vezes. Cerca de 80% dos papéis são negociados com desconto em relação ao histórico.
Esse contexto de um Brasil mais próspero vem em meio a mudanças na própria indústria de mercados emergentes. Se antes os investidores olhavam somente o valuation, hoje procuram mais por crescimento e qualidade. O Brasil, nesse sentido, desfruta da mudança: antes era visto como um país de valor (baixo crescimento) e, para 2024, deve entregar um crescimento de lucro de 13%, nas estimativas do banco brasileiro.
Metade do crescimento deve vir da redução da taxa Selic e, a outra metade, da melhora operacional das empresas, principalmente em margem bruta. Ou seja, o Brasil se comporta, nesse momento, como um país com tendência de lucro positiva
“Existe um ponto muito interessante de aceleração. Uma tese nossa é de que o terceiro trimestre marcou o fundo do poço e agora começamos a ter melhores resultados. Se eu excluo Petrobras e Vale da conta, o lucro e Ebitda no terceiro trimestre já ficaram no zero a zero. Acreditamos que no quarto trimestre deve haver uma aceleração, seguida por melhora trimestre a trimestre do lucro”, diz Gewehr.
Além da melhora sequencial de lucro, o Brasil também tem outra vantagem dentro do grupo dos emergentes: o melhor retorno sobre patrimônio (ROE) entre os emerging markets está por aqui. Numa análise feita pelo Itaú BBA, ao longo dos últimos cinco anos, esse indicador fica em 18% e, no grupo como um todo, está perto de 12%. Mesmo se tirar as commodities da análise, o Brasil ainda fica acima da média geral, com cerca de 15%.
Todos esses pontos ajudam a entender o fluxo de dinheiro estrangeiro que veio para o país. Nos dois últimos meses do ano — sendo novembro de 2023 o maior mês de entrada de recursos desde 2020 – foram R$ 38,5 bilhões de saldo positivo.
Mercado Livre é unanimidade; Energia em baixa (para o estrangeiro)
Segundo o levantamento do BBA, Mercado Livre é o papel que o estrangeiro mais gosta, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. “É uma companhia com estrutura de capital acima da média, reconhecida pela escala e execução”, diz o estrategista.
É um papel que nada de braçada em meio à cautela no setor de consumo. Apesar de os estrangeiros terem uma clara preferência por Lojas Renner (principalmente por liquidez), predominam receios com a MP 1185 — e as potenciais revisões de lucro para baixo.
Um setor menos unânime, visto com cautela pelo estrangeiro, é o formado por setores atrelados à taxa de juros (como infraestrutura, por exemplo, com destaque para energia).
Enquanto o investidor local gosta do segmento, os estrangeiros preferem deixá-lo de lado, especialmente por serem atrelados à regulação — e, portanto, podem sofrer mudanças que vão além da competição entre os próprios players. Ainda assim, um papel em que esse público está de olho, segundo o BBA, é o da Copel, que passou por uma privatização recentemente.
Uma surpresa, também no campo da cautela, trazida pelo relatório, tem a ver com o setor de saúde. Historicamente uma unanimidade entre investidores locais e internacionais, o segmento também enfrenta dissonâncias.
“É um cenário relacionado com o operacional ainda desregulado por causa dos efeitos da pandemia, que acreditamos ser um efeito provisório. Por enquanto, o investidor local olha mais para Hapvida e o estrangeiro, para Rede D’Or, uma empresa cuja comparação com outros players de mercados emergentes fica mais fácil”, diz Gewehr.
Já olhando para o outro lado, de setores preferidos pelos estrangeiros, o financeiro permanece como um destaque, a partir da estratégia do investidor estrangeiro entrar na economia doméstica de uma forma de qualidade, com empresas que têm liquidez na bolsa.
“Outro jeito que o investidor gosta de olhar é o chamado financial deepening. quando a curva de juros cai, eu quero procurar instituições financeiras que são beneficiadas por isso. então estrangeiro gosta mto de bolsa de valores. B3 é uma que o estrangeiro gosta mais do que o local, geralmente ele gosta de monopólios ou oligopólios com margem alta. Empresa tem consistência de margem alta nesse ponto”, diz Gewehr.
Por fim, outro tema de maior consenso é o investimento em commodities, com destaque para Vale. “Na minha percepção, a maior parte dos investidores estava underweight (com alocação abaixo da média) e agora há uma tendência de ir aumentando a posição”, diz o estrategista.
Os receios com o papel envolviam principalmente o preço do minério. A curva de preços mostrava queda no preço da commodity, mas, na verdade, o que se viu foi uma resiliência desse preço – que pode, em última análise, fazer com que a Vale revise para cima as estimativas de lucro para 2024.
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Karina Souza
Repórter Exame INFormada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.