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Energia

A Gradiente está de volta – e agora quer consolidar a energia solar residencial

Reestruturada, empresa símbolo de eletroeletrônicos nas décadas de 1980 e 1990 se relança para ter participação de 10% em telhados solares para residências no Brasil: 'um mercado de R$ 12 bi'

Eugênio Staub, chairman:  Proximidade com o consumidor final e 'recall carinhoso com a marca' (Marcio Bruno/Divulgação)
Eugênio Staub, chairman: Proximidade com o consumidor final e 'recall carinhoso com a marca' (Marcio Bruno/Divulgação)
Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 2 de julho de 2024 às 00:01.

Última atualização em 8 de julho de 2024 às 10:41.

Símbolo de eletroeletrônicos no Brasil nas décadas de 1980 e 1990, a Gradiente está de volta com um novo ramo de negócios: o de energia solar para residências e pequenos negócios.

Após encerrar um processo de recuperação que, entre as vias extrajudicial e judicial levou mais de uma década, a empresa está investindo R$ 50 milhões para consolidar um mercado que cresce mais de dois dígitos por ano e é altamente pulverizado no país.

Hoje, das cerca de 57 milhões de casas no Brasil, de acordo com o IBGE, apenas 2 milhões produzem energia solar. São cerca de 20 mil empresas integradoras, que fazem a instalação e o serviços de conexão de rede e manutenção – a maior parte delas formadas por um ou dois empreendedores.

“Ter uma instalação de energia solar é um ganha-ganha para grande parte das residências, mas não tem nenhuma marca de referência fazendo isso hoje no país”, afirma Eugênio Staub, da família fundadora e presidente do conselho de administração.

“A Gradiente sempre foi muito próxima do consumidor final e tem esse recall carinhoso das pessoas com a marca.”  (Millenials, como esta repórter que vos escreve, hão de lembrar do ‘Meu Primeiro Gradiente’, o gravador colorido de brinquedo que foi febre de uma geração.)

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A meta é chegar a 10% do mercado nacional, estimado hoje pela empresa na casa de R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões de faturamento, em cinco anos, por meio de equipe própria e de terceiros. “Esses integradores hoje pulverizados vão poder fazer parte da nossa equipe”, diz Staub.

Margem menor, risco idem

Bem diferente do DNA industrial da antiga Gradiente, a Solar segue um modelo asset light. Vai atuar conectando todas as pontas: da prospecção dos clientes à instalação das placas solares, conexão à rede, financiamento e manutenção. A margem é menor que a do negócio original da empresa – assim como o risco, e a intensidade de capital.

“Basta mandar a conta de luz e o resto do processo fica por nossa conta”, diz Staub. A Solar faz a avaliação do consumo, do potencial de produção de energia em cada telhado, instalação e financiamento – feita por meio de parceiros como BV e Santander, em até 36 parcelas.

O financiamento, diz a empresa, é pago praticamente com a economia feita na conta de luz. “Para quem tem poupança e quer financiar diretamente, o retorno é de o dobro da Selic”, aponta o empresário.

Fazendo alusão a um perfil do Instagram com mais de 60 mil seguidores chamado @solardadepressao, que mostra pessoa se acidentando na instalação e telhados ruindo sob o peso de uma obra mal planejada, Staub diz ainda que outro diferencial da Gradiente Solar será a segurança, garantia de qualidade e prestação de serviços de manutenção.

“É um ativo para durar 25 anos, é uma empresa que entra na sua casa. Faz muita diferença ser uma empresa centenária e que tem um lugar no coração do consumidor”, diz.

A Gradiente Solar vai começar sua atuação no Estado de São Paulo, com foco na Grande São Paulo, litoral, Campinas, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Vinhedo e São José dos Campos.

“O potencial da empresa é nacional, mas vamos começar por aqui”, diz Marcelo Ribeiro, CEO da Gradiente Solar, no escritório da empresa no bairro de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo.

Engenheiro de formação, o executivo já havia passado pela Gradiente entre 2000 e 2009 como diretor de operações e está retornando à empresa 15 anos depois.

Entre o contato e a instalação, o prazo para entrega dos telhados solares é de menos de um mês, já contando o prazo de conexão às concessionárias de energia – que precisam mudar o relógio que, além do consumo, mede também a produção. As obras de instalação, em si, duram apenas dois dias.

“A transição energética é uma das megatendências estruturais e o consumidor final, de certa forma, ficou um tanto apartado dela”, diz, mostrando o potencial que enxerga na nova empreitada.

O plano é que a Gradiente Solar vá sendo provedoras de novas tecnologias. Entre essas soluções estão tomadas para carregar veículos elétricos e até mesmo baterias para armazenar a energia produzida durante os picos, assim que elas se tornem economicamente viáveis. “Acho que estamos falando de três a quatro anos, é para logo”, diz Staub.

A vida após a RJ

A Gradiente Solar já existe há sete meses, mas numa fase pré-operacional. Agora, a empresa vai fazer o lançamento oficial, com uma campanha de marketing online e offline, com anúncios na TV a partir da próxima semana.

O plano de atuar no setor veio depois que a Gradiente encerrou sua recuperação judicial, iniciada em 2018, para dar fim a uma dívida de pouco menos de R$ 1 bilhão

A empresa, que já foi líder em rádios e televisores no Brasil quando o mercado era fechado para importações, conseguiu um amplo deságio e encerrou o processo em maio do ano passado, como todos os trânsitos já em julgado, pagando cerca de R$ 140 milhões. O dinheiro veio principalmente da venda de um antigo parque fabril e de créditos tributários.

Ainda sobraram cerca de R$ 40 milhões no caixa e duas linhas de negócio que garantem um fluxo constante de recebíveis. Um deles é o aluguel de fábricas em Manaus que foram convertidos em galpões logísticos e hoje estão 100% locados. A empresa também licenciou sua marca para uma fabricante e importadora de aparelhos e caixas de som, e fica com os royalties.

“Mas ninguém vive mais 100 anos com apenas com essas duas linhas de negócio”, diz Staub, dizendo que o DNA da Gradiente é ambicioso, de ser líder nos setores em que atua. Além da energia solar, que prevê ser o cash cow da empresa, há outros segmentos em análise, sob os quais ele guarda sigilo.

“O foco agora é no solar, mas sempre estamos olhando para a frente e para a inovação.”

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.

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