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PwC: no Brasil, macroeconomia preocupa mais que ataque cibernético

Otimismo para 2022 domina CEOs, mas só no Brasil macroeconômia preocupa mais que ataques cibernéticos, maior temor mundo afora

Marco Castro, sócio-presidente da PwC Brasil: "país vem perdendo importância para investimentos de fora" (Sérgio Zachi/Divulgação)
Marco Castro, sócio-presidente da PwC Brasil: "país vem perdendo importância para investimentos de fora" (Sérgio Zachi/Divulgação)
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Karina Souza

17 de janeiro de 2022 às 11:00

O que esperar do Brasil e do mundo em 2022? Está aí a pergunta para a qual dez em cada dez CEOs gostariam de ter a resposta. Não é para menos. Os impactos da pandemia, somados às eleições presidenciais e incertezas macroeconômicas já formam um desafio e tanto para os próximos doze meses e além. Ampliando a visão para outras regiões, os riscos cibernéticos e o futuro do trabalho tomam o centro das preocupações, especialmente em países desenvolvidos. Em um cenário de pouca previsibilidade, que poderia trazer uma postura mais conservadora de líderes, executivos estão otimistas em relação ao futuro. É o que mostra a 25ª edição da pesquisa CEO Survey, realizada pela consultoria e auditoria PwC.

A partir de 4.400 entrevistas com executivos de 89 países, o estudo identificou que 77% dos executivos brasileiros e no mundo estão otimistas em relação ao futuro da economia global. O percentual apresenta queda diante dos 84% registrados em 2020, mas ainda chama a atenção o fato de que sete em cada 10 executivos acreditam que 2022 pode trazer um ambiente macroeconômico positivo. “Uma das grandes ameaças para o futuro era a pandemia e, de uma forma ou de outra, já sabemos como lidar com ela e já observamos o impacto positivo das vacinas principalmente nos países desenvolvidos”, diz Marco Castro, sócio-presidente da PwC Brasil, ao EXAME IN

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Ainda assim, o otimismo não chega cego aos executivos. Globalmente, os riscos cibernéticos e os riscos à saúde são considerados as principais ameaças para os negócios, com 49% e 48% das respostas, respectivamente. No Brasil, país que responde por cerca de 4% das entrevistas realizadas pela PwC, as maiores preocupações tomam um rumo diferente: instabilidade macroeconômica é a principal menção, com 69% das respostas. Os riscos cibernéticos ficam em segundo lugar, com 50%, junto a preocupações com a desigualdade social do país. 

São questões alinhadas com o momento pelo qual o país passa. Com solavancos na economia desde 2014 e o desemprego acima de 10% mesmo com o avanço da vacinação, o Brasil ainda vai enfrentar eleições em 2022, que podem tornar o cenário geral bastante turbulento. Em números, a projeção para o  PIB para 2022 é de sutil alta de 0,24%, segundo o Boletim Focus – que revisa constantemente as previsões para baixo desde 2021. A inflação fechou o último ano em alta de 10,06%, a maior dos últimos seis anos, assim como a SELIC passou por diferentes altas, fechando o ano em 9,25%. 

Soma-se a isso outro fator preocupante para os empresários locais, segundo os dados apurados pela PwC: o Brasil vem perdendo relevância no interesse global em fazer negócios. Em 2013, o país estava entre as três opções de prioridade para investimentos. Este ano, está em sua pior posição, em 10º lugar. E corre o risco de não aparecer na edição do estudo feita pela consultoria no ano que vem, caso a visibilidade do país piore. 

Em 2021, o país perdeu importância para Peru, Estados Unidos e México em relação a 2021. E, atualmente, os países com maior interesse no mercado brasileiro são pares latino-americanos, como Argentina, Uruguai, Venezuela e Colômbia. 

Diante dessa somatória de fatores, os executivos brasileiros registraram a menor taxa de confiança no crescimento da economia local entre os seis principais países analisados: 55% acreditam que a economia do país vai crescer em 2022. 

(Arte/Exame)

Por outro lado, os CEOs locais estão mais otimistas em relação ao crescimento da receita das próprias empresas: 63% estão extremamente confiantes em relação ao aumento da receita em 2022, ante 56% da média global

As perspectivas positivas não estão distribuídas de forma homogênea, é claro. Estão concentradas principalmente em setores que têm apresentado alto crescimento: Serviços Financeiros, Tecnologia, Mídia e Telecomunicações e Agronegócio têm pelo menos 80% dos executivos em cada um deles com perspectivas otimistas para os próximos três anos. O setor de consumo vem em seguida, com 74%. 

Analisando cada um deles, começando pelos serviços financeiros, é impossível ignorar o peso que grandes instituições continuam exercendo, ao lembrar que no terceiro trimestre do ano passado o lucro dos quatro maiores bancos foi de R$ 23 bilhões, valor 32,3% maior do que o mesmo período do ano anterior. 

Além disso, a popularização e o crescimento das fintechs, tendo seu auge no IPO do Nubank, que saiu em dezembro e atraiu 815 mil investidores – um recorde – dá o tom de que há espaço para crescer no Brasil. Principalmente, para quem está de olho em tecnologia

Globalmente, a consultoria IDC aponta que o crescimento da indústria de tecnologia deve superar os US$ 5,3 trilhões em 2020 e ter um crescimento anual de 5% a 6% ao longo dos próximos anos. Mesmo com os Estados Unidos respondendo pela maior parte desse total – e a China na cola desse crescimento –  o Brasil viu alta demanda de investidores por empresas no setor. Por aqui, empresas do setor dominaram IPOs e quadruplicaram em quantidade em apenas dois anos na B3

“Estamos ocupados por pelo menos oito meses na área de tecnologia. Tudo que diz respeito à preparação para segurança cibernética já está completamente tomado. Tanto que, se novos clientes entrarem, teremos de avaliar como atendê-los”, diz Marco.

E, para o Agro, o céu parece o limite. O setor que seguiu rumo ao primeiro trilhão em 2021 também foi marcado pelo avanço da tecnologia e de produtividade no campo: integração entre lavoura e pecuária, uso de insumos naturais e economia de água foram alguns dos benefícios atingidos no último ano por empresas. 

Outro setor que deve continuar em alta durante 2022 é o de saúde, com crescimento elevado por causa da demanda por vacinas e medicamentos, enquanto o mundo todo ainda enfrenta a pandemia. Em busca de mais capacidade para atender à demanda, as fusões e aquisições movimentaram também o cenário nacional: em 2021 foram 54 negócios desse tipo, que geraram entre R$ 13 bilhões e R$ 15 bilhões. Entre os destaques, estão as compras realizadas pela Rede D’or São Luiz e pelo grupo Dasa. 

Por outro lado, um dos setores que deve passar por desafios até crescer em 2022 é o de Turismo. A nova onda da covid-19 e o impacto em restaurantes e hotéis deve ser sentido, porém a perspectiva é a de que o consumo reprimido faça com que o setor acelere na mesma proporção em 2022 – caso o cenário seja parecido com o atual, o que fica difícil decifrar em um Brasil que muda todos os dias. 

O que esperar do Brasil 

De acordo com dados do FMI e de cinco grandes consultorias e bancos, o Brasil deve ter o pior desempenho entre os 12 grandes países emergentes. As expectativas do Bradesco, Goldman, Capital Economics, Fitch e Nomura vão de 0,8% a 1,9%, enquanto o FMI vê avanço de 1,5% do PIB brasileiro, ante a média de 5,1% do mundo emergente. 

O economista Sergio Vale, da MB Associados, em entrevista à EXAME, afirmou que 2022 deve ter um cenário de crescimento bastante abaixo da média global, com o mundo crescendo cerca de 4,5% e o Brasil, zero ou 1%. 

É uma visão com a qual Joelson Sampaio, economista da FGV EESP, concorda. Para o especialista, a taxa de juros elevada por causa da inflação, incertezas políticas por causa das eleições em um ano de recuperação econômica devem jogar contra o crescimento do país. 

Ainda assim, alinhado às expectativas dos CEOs, o economista aponta a retomada desigual, favorecendo por exemplo exportações e serviços. “A venda para fora do país deve ter um resultado melhor em 2022 por causa do câmbio bastante depreciado e por causa da demanda mundial, externa, que tende a aumentar com a recuperação econômica em outros países”, afirma, à EXAME. 

O que esperar do mundo

Em relação à economia global, 77% dos executivos brasileiros acreditam em crescimento, mesmo percentual da média global da pesquisa. 

(Arte/Exame)

Dados do Banco Mundial divulgados no relatório Global Economic Prospects mostram que é necessário ter cautela. A instituição reduziu a previsão de crescimento global para 2022 e 2023 em relação aos dados de 2021 e fez o alerta de que fatores como inflação, dívida e desigualdade de renda podem comprometer a recuperação de economias em desenvolvimento. 

As projeções do banco mostram que o crescimento global deve passar de 5,5% em 2022 para 4,1% em 2022 – pouco abaixo do que a Euromonitor projeta, de 4,6% – e 3,2% em 2023. Os principais fatores para isso, de acordo com o comunicado da instituição, dizem respeito ao fim da demanda reprimida gerada pela pandemia e o fim do apoio fiscal e monetário de governos.

(Arte/Exame)

Para a Euromonitor, um outro ponto a ser considerado para o crescimento global está relacionado às restrições de oferta de componentes e produtos ao longo de 2022 e 2023. Em um relatório divulgado no fim do ano passado, a consultoria mencionou o impacto de falta de contêineres, fechamentos e atrasos nos portos, além de falta de motoristas de caminhão – especialmente no Reino Unido –, falta de chips e escassez de eletricidade na Índia.

Esses gargalos entre oferta e demanda devem continuar em 2022 e 2023, segundo a consultoria, com uma melhora gradual ano a ano. A expectativa é a de que a inflação global fique em torno de 3,6% em 2022 e caia para 3% entre 2023 e 2024. “Os principais fatores que contribuem para uma inflação alta mais persistente seriam uma mudança nas expectativas de longo prazo do setor privado, aumentos contínuos dos preços da habitação e escassez de oferta global contínua de insumos de produção essenciais”, afirma Daniel Solomon, economista sênior da Euromonitor, em comunicado. 

Saindo dos números para falar de futuro em termos sociais, de volta à pesquisa da PwC, um outro fator também entra nessa conta para os próximos anos: os famosos critérios ESG. Valorizados cada vez mais por investidores, eles já são implantados com prioridade em apenas um terço das empresas entrevistadas pela consultoria. "Em tempos nos quais se discute tanto o papel das empresas para o futuro, ficamos surpresos ao constatar que apenas 27% das empresas têm algum plano com metas ESG. Muitas das entrevistadas mostraram que não sabem ainda como medir isso ou não têm clareza a respeito de como contribuir nesse sentido", afirmou Marco.

Para o executivo, esse pode ser um dos pontos pelos quais o Brasil tem tido queda na avaliação de investidores nos últimos anos, já que a ausência de compromissos claros com esse fim tem sido percebida por outros líderes mundo afora.

Em meio às perspectivas de retomada econômica global, as preocupações com essas três letras devem continuar na cabeça de líderes nas esferas pública e privada. Avançar em um ambiente de rápidas mudanças vai se tornar cada vez mais desafiador, como os números mostram, e será necessário estar atento às oportunidades. Nesse novo ambiente, cada vez mais incerto, será necessário aliar metas socioambientais ao lucro. O otimismo para fazer com que isso aconteça existe em diferentes países, como a pesquisa mostra, mas quanto tempo vai levar para que realmente saia do papel? A certeza que fica é a de que será necessário se movimentar. Fundos como o BlackRock já decidiram não investir em companhias que estejam preocupadas com critérios ESG, um movimento que deve seguir mundo afora.

No momento em que setores esperam crescer e prosperar, e em que o acesso ao capital tem se tornado cada vez mais fácil -- especificamente fora do Brasil -- há espaço para crescer. Cravar com certeza qual será o maior acerto de companhias no futuro permanece sendo uma questão impossível de ser resolvida, mas, mesmo sem ter todas as cartas na mão, líderes seguem otimistas em transformar negócios e contratar pessoas. Deve ser um caminho tortuoso a ser trilhado no pós-covid, mas que carrega, ao menos por enquanto, certa dose de esperança.

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