Mais enxuta, dona da Le Lis e Dudalina quer se ‘reapresentar’ ao mercado
Após um longo processo de reestruturação, Veste (ex-Restoque) quer mostrar rentabilidade veio para ficar e voltar ao radar dos investidores
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 11 de março de 2024 às 18:38.
Última atualização em 11 de março de 2024 às 18:53.
Em um processo longo de reestruturação dos negócios e com sinais de melhoria ainda começando a aparecer, a Veste, dona das marcas Le Lis, Bo.Bô, Dudalina e John John, tem o desafio também de reconquistar a atenção do mercado.
Com baixo volume negociado, a ação hoje só tem cobertura do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).
“A cobertura ainda é pequena, mas estamos reapresentando a empresa para investidores. Fizemos non-deal road show ano passado e voltamos a participar de conversas com bancos de investimentos”, conta Alexandre Afrange, CEO da Veste desde o fim de 2022, quando a gestora WNT converteu sua dívida em ações e fez um aumento de capital de R$ 100 milhões.
Com histórico de investimento em empresas com problemas financeiros, a WNT detém, hoje 37,97% da Veste. Em outubro de 2022, a gestora converteu R$ 1,64 bilhão da dívida da então Restoque em ações e passou a traçar os novos planos da companhia.
Naquela que foi uma das maiores conversões de dívida na Bolsa brasileira, a WNT ficou 56% do capital social da varejista. Foi o que deu fôlego para a companhia que, em 2020, apresentou um plano de recuperação extrajudicial. Hoje, após a conversão, a dívida líquida da empresa é de R$ 293 milhões (incluindo arrendamento), com uma alavancagem de 1,31x.
Os papéis de vestuário têm sofrido com ventos contrários por causa dos efeitos do fim de uma série de subvenções do governo. A Veste afirma que o impacto da MP 1185 é pequeno no seu negócio – e que a reestruturação abre uma oportunidade em relação às concorrentes do setor.
“Devido ao ágio da aquisição da Dudalina, não teremos impacto no IR até o primeiro semestre de 2027 e mesmo após essa data o impacto também seria minimizado, porque temos saldo de prejuízo fiscal que permitirá a compensação parcial (de 30%) do lucro gerado”, explica.
Embora reconheça a importância de dar mais liquidez ao papel, Afrange diz que o foco da companhia está na recuperação operacional e que nenhum instrumento, como uma oferta subsequente, por exemplo, está sendo avaliado – pelo menos, não no momento. Atualmente, o valor de mercado da Veste é de R$ 1,60 bilhão, uma valorização de quase 23% em 12 meses.
Passado esse primeiro ano com novos sócios e novo nome, a Veste está mais ajustada, garante Afrange, que antes de ocupar a presidência executiva, era COO da companhia. A estratégia da companhia é fazer menos vendas promocionais e reajustes de preços para reduzir conflitos entre canais e posicionar melhor suas marcas.
Também reformou 44 lojas nos últimos anos para seu novo conceito. Em 2024, serão mais 21 lojas reformadas. A Veste terminou 2023 com um parque de lojas 5% menor, com 179 unidades.
Isso levou a margem bruta da companhia a um patamar de 65,7% ao fim de 2023. “Essa margem entre 65% e 66% é o nosso novo normal. Não foi uma coisa one time, foi uma coisa construída”, diz Afrange.
Para comparação, o Grupo Soma (dono de Animale, Maria Filó e Farm, que também são marcas de moda mais expostas à alta renda) reportou margem bruta de 66,5% ao fim do terceiro trimestre, por exemplo – os números do quarto trimestre e do consolidado da carioca estão previstos para divulgação em 25 de março.
A receita da Veste somou R$ 1,06 bilhão no ano, um aumento de 4%. As vendas em mesmas lojas cresceram 10,4%, com apenas a John John pesando negativamente – nas lojas maduras da marca, as vendas recuaram 9,7% ainda.
“Temos avenidas bem claras de crescimento, cada uma das marcas com individualidade bastante preservada e está num ritmo de crescimento bem interessante. Uma vez resolvida a John John, vamos estar melhor”, afirma Afrange, que reconhece que o canal B2B também teve seu crescimento afetado.
Na linha final, considerando ajustes por causa da conversão da dívida em 2022, o resultado foi uma reversão de um prejuízo de R$ 129 milhões para um lucro de R$ 50 milhões.
Os números do último trimestre do ano foram fracos, de acordo com a equipe de analistas de varejo do BTG Pactual, mas a exposição da empresa a nichos sofisticados joga a favor da empresa.
“À medida que a empresa continua ajustando estrategicamente as suas operações (dimensionamento da presença de lojas, otimização da estrutura de capital, remodelações de lojas, menos vendas promocionais e reposicionamento de marcas em todos os canais), esperamos uma tendência de melhoria nos próximos trimestres”, escrevem os analistas, que recomendam compra, com preço-alvo de R$ 24. É um upside de quase 72% sobre o fechamento desta segunda-feira, 11.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado