Klabin/Arauco: ganhos de eficiência se sobrepõem ao aumento da alavancagem
Ações da companhia operam em leve alta na quinta-feira, depois de anúncio de compra de R$ 5,8 bilhões de Arauco
Karina Souza
Repórter Exame IN
Publicado em 21 de dezembro de 2023 às 14:36.
Última atualização em 21 de dezembro de 2023 às 21:41.
A aquisição de uma operação florestal da Arauco pela Klabin foi vista como positiva para o mercado, num momento de preços pressionados para a madeira, mas as preocupações com a alavancagem ainda seguraram os papéis na Bolsa.
A fabricante de papéis anunciou a compra de 150 mil hectares de florestas no Paraná, mais 31,5 milhões de toneladas em madeira, por R$ 5,8 bilhões – num dos maiores M&As do ano no Brasil. O movimento deve reduzir seus custos com a compra de sua principal matéria-prima de terceiros e antecipar a meta de 75% de autossuficiência de madeira de 2029 para 2026.
Na avaliação do BTG (do mesmo grupo de controle da Exame), a aquisição foi feita a bons preços, com uma taxa interna de retorno de cerca de 13%, capaz de criar um valor presente líquido de cerca de R$ 2 bilhões, equivalente a R$ 2 por unit, ou cerca de 8,5% do valor de mercado.
Na máxima do dia, os papéis chegaram a subir 2,4%, mas por volta das 14h, negociavam com alta mais suave, de 1,27%, a R$ 21,54.
A questão é que a companhia vinha sinalizando uma queda na alavancagem, depois de um ciclo de investimentos vultosos para o Projeto Puma II. “O olhar de curto prazo para essa transação pode ser conceitualmente enganador, mas tememos que a mentalidade de curto prazo no mercado possa prevalecer inicialmente”, aponta o analista Leonardo Corrêa, do BTG, em relatório.
Em teleconferência com analistas, a Klabin afirmou que deve ter um incremento de alavancagem em 2024, mas sem ultrapassar seus covenants de 4,5 vezes o EBITDA. O indicador estava em 3,7 vezes o fim do terceiro trimestre.
Porém, com a forte redução de capex que a aquisição traz, além das sinergias em custo que virarão EBITDA, a companhia estima que em 2025 já terá um patamar muito similar ao que estaria antes da aquisição. Em 2026, a aquisição passa a ser ‘desalavancadora’, afirmou o CEO Cristiano Teixeira.
Hoje, o caixa pro forma da Klabin é de R$ 11,5 bilhões, somando os R$ 7,8 bilhões que constavam no balanço até o final de setembro mais duas captações comunicadas ao mercado). Descontando o valor da aquisição, que tem closing previsto para o segundo trimestre do ano que vem, a empresa terá um caixa de R$ 5,8 bilhões, um nível mais parecido com o do histórico da companhia.
Esse montante ainda é suficiente para pagar dívidas que vencem ao longo dos próximos três anos. “Temos uma liquidez robusta e a companhia não tem necessidade de fazer novos financiamentos no curto prazo”, disse o CFO Marcio Ivo.
Eficiência
Segundo a companhia, os ganhos de eficiência com a operação virão tanto da redução dos investimentos necessários para a compra de madeira quando do lado logístico, já que as terras adquiridas ficam próximas das operações da Klabin.
Há cerca de duas semanas, quando a empresa realizou seu Investor Day, a projeção de capex para os próximos cinco anos era de R$ 4,5 bilhões, um aumento relevante em relação ao ano anterior e que levou a uma série de revisões de estimativas.
Agora, passa a ser de R$ 3,3 bilhões, justamente em função da redução de compra de madeira de terceiros.
“De 2025 em diante essa redução também permanece. Fomos até 2025 para mostrar nossa confiança de que esse projeto será capaz de trazer retorno consistente”, disse o CFO.
Já no ano que vem, o custo caixa de produção por tonelada de papel deve ser 4% menor do que o registrado no acumulado dos nove meses de 2023, chegando a R$ 3,1 mil. No período de 2025 a 2028, a empresa estima uma economia de custo caixa em capex de R$ 350 milhões a R$ 400 milhões.
“Isso não depende de preço de mercado. Essa redução depende apenas da nossa execução de operação florestal. Isso virá alavancado por queda de custos logísticos, além da redução do custo de colheita em função dos blocos grandes e topografia favorável”, afirmou Ivo.
As terras adquiridas da Arauco ficam perto das operações da Klabin, no Paraná, têm uma topografia plana e estradas florestais consolidadas, o que deve trazer eficiência de custo de colheita e de carregamento para a companhia, com mais fontes de fornecimento de madeira. A Klabin afirmou que terá uma área maior mecanizada, o que vai melhorar o uso de máquinas e de capital humano.
A Arauco trouxe 150 mil hectares de área total, sendo 85 mil hectares de terra produtiva. Hoje, o raio médio atual da Klabin (distância entre floresta e fábrica) é de 139 quilômetros, um número que passa para 121 quilômetros já de largada com a aquisição. Quando estiver produzindo em toda a área utilizável, esse raio deve passar para 108 quilômetros.
Após o primeiro ciclo de colheita, a Klabin vai ultrapassar sua meta de 75% de autossuficiência em produção de madeira, o que abre espaço para uma potencial venda de terras de cerca de 60 mil hectares. Outra opção será fazer uma joint venture com algum investidor financeiro.
A empresa não cravou o valor que estima numa potencial venda. Mas, ao responder a pergunta de um analista que queria colocar o valor de R$ 48 mil a R$ 72 mil por hectare nos seus modelos, com base em estimativas de mercado, Ivo sinalizou que trabalhava com esses números, porém mais para o piso do intervalo.
Nessa aquisição, a Klabin pagou R$ 33 mil por hectare, “abaixo da referência de mercado”, segundo a própria companhia.
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Karina Souza
Repórter Exame INFormada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.