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Kaufman sobre a volta ao comando: ‘A Vivara vai continuar a mesma, com mais velocidade’

Em entrevista exclusiva, fundador diz que nunca tirou o olho do negócio – e detalha ambição de expansão internacional da rede de joalheiras

Vivara: fundador, Nelson Kaufman, não estava mais à frente da gestão executiva há mais de 10 anos (Vivara/Facebook/Reprodução)
Vivara: fundador, Nelson Kaufman, não estava mais à frente da gestão executiva há mais de 10 anos (Vivara/Facebook/Reprodução)
Natalia Viri

Natalia Viri

18 de março de 2024 às 12:49

Num movimento que pegou o mercado de surpresa, Nelson Kaufman anunciou na sexta-feira à noite sua volta ao comando da Vivara, após 13 anos fora do dia a dia da rede de joalheiras.

Diferentemente de outras companhias, em que o fundador volta para consertar a rota, o retorno de Kaufman acontece num momento em que a Vivara cresce a taxas de dois dígitos, com rentabilidade – na contramão de anos desafiadores para o varejo, especialmente com a ressaca do consumo no pós-pandemia.

“A Vivara vai continuar a mesma, com mais velocidade”, disse Kaufman em entrevista exclusiva em INSIGHT.  “Uma coisa é uma empresa que está navegando bem a 20 km por hora. Outra é uma empresa que acelera até atingir uma velocidade de 50 por hora. Com o meu conhecimento, consigo apressar esse crescimento.”

Sua estratégia é colocar a Vivara num plano de expansão internacional  – uma agenda que não constava nos planos da empresa sob o comando do sobrinho Paulo Kruglensky, que assumiu como CEO em fevereiro de 2021, no lugar do filho do fundador Marcio Kaufman.

“Eu sou um homem que respira joia. Quando vejo uma mulher, a primeira coisa que eu olho é o brinco, o anel”, afirma. “E quando parei de trabalhar, passei a estudar muito processo de joalheira e acho que tem tecnologias inovadoras e produtores inovadores que podem fazer com que a Vivara se torne um player internacional relevante.”

De acordo com Nelson, ainda não há um plano concreto de internacionalização, que deve ser desenhado daqui para a frente. “Acho que a nossa empresa hoje está apta pra nos próximos três, quatro anos a virar um player internacional de qualidade – não vai ser uma coisa rápida. É isso que motivou a minha volta”.

Segundo ele, não houve atrito com o sobrinho e a troca no comando foi feita de forma acordada. “Paulo é muito competente”, afirma.

“Foi uma transição que aconteceu pouquinho antes, bem pouco. Foi um processo em que eu senti que era bom para a empresa inteira eu voltar para acelerar esses processos de novas invenções de joias”, respondeu, quando questionado se a mudança pegou o conselho que se reuniu na sexta-feira de surpresa.

A aprovação do novo CEO dividiu o board, formado em sua maioria por membros independentes: duas conselheiras, Tarsila Ursini e Anna Chaia, votaram contra a recondução, apurou o INSIGHT. O chairman João Cox e Fabio Coelho, presidente do Google, votaram a favor, bem como a filha de Kaufman, Marina.

O retorno de Kaufman surpreendeu os investidores, em boa parte porque eles celebravam os resultados entregues por Kruglensky, mas também porque Kaufman nunca teve cargos na companhia. Hoje, os papéis caem 9%.

Desde a abertura de capital, o fundador, hoje com 71 anos, não teve posição nem no board, deixando sempre o comando a cargo de membros da família e a membros independentes.

Segundo Nelson, no entanto, apesar de longe do dia a dia da empresa, ele nunca tirou o olho do negócio. “Sempre estava em contato, olhando muito o rumo da empresa, seja via telefone ou meios eletrônicos mesmo quando estava longe”, afirmou.

Da Galeria Florença – agora para o mundo

Foi nas suas viagens ao longo dos últimos anos que ele viu a possibilidade de internacionalizar a marca que nasceu como uma lojinha de ourives no centro de São Paulo, fundada por seu pai, um imigrante romeno que chegou ao Brasil em 1928.

“Meu pai era um joalheiro muito talentoso, mas com pouco tino para o negócio. Com isso, eu tive uma infância bastante instável: numa hora morava numa casa de 500 metros quadrados na frente do clube Hebraica [nos Jardins, área nobre de São Paulo] e em outra, vivia num apartamento de zelador”, relembra.

Depois de formado em engenharia e de ter passado por uma construtora, ele assumiu uma das duas lojas do pai na Galeria Florença – o patriarca ficou com a unidade de pouco mais de 20 metros quadrados, enquanto Nelson assumiu a menor, uma portinha de 3 metros por 2 metros quadrados.

Foi a semente da Vivara, que no ano passado chegou a 352 lojas, entre as marcas Vivara e a Life, de joias mais acessíveis. “Só consegui prosperar mesmo depois do falecimento do meu pai, é como se eu não pudesse ultrapassá-lo nos negócios”, confidencia.

Ele ainda não tem um roadmap dos países que pretende atacar. Mas dá pistas. “Quero começar humilde, com países menores, para depois, na medida que a nossa tecnologia for implantada nos próximos 1, 2, 3 anos, a gente tenha condições de entrar em mercados mais difíceis, mais competitivos.”

Ele diz, sem citar nomes específicos, que há países na Europa que não tem uma ‘joalheira condizente’ com o mercado.

Questionado sobre o fato de se tornar CEO de uma empresa de capital aberto após anos longe do comando, ele diz que se sente preparado.

“Eu nunca tive esse contato, mas tenho pessoas que me assessoram. Eu tenho muita confiança e não vejo dificuldade. Sou uma pessoa que não gosta de mentir, gosto sempre de ser verdadeiro”, diz.

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.