De olho nas Olimpíadas, LVMH ainda precisa vencer o jogo na China
Mercado chinês é um dos mais relevantes para o mercado de luxo, mas vive momentos de ressaca; na dona da Dior, a receita das operações na Ásia caiu 14% no segundo trimestre
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 24 de julho de 2024 às 15:18.
Última atualização em 24 de julho de 2024 às 15:57.
A LVMH está em evidência nos Jogos Olímpicos de Paris, que começam oficialmente nesta semana e dos quais é uma das principais patrocinadoras, mas os investidores estão mesmo é de olho na China. A maior empresa de luxo do mundo derreteu hoje na Bolsa de Paris depois de um balanço fraco divulgado ontem.
As ações caíram 4,66%, refletindo um crescimento muito tímido das vendas no segundo trimestre e uma perda expressiva no lucro para todo o semestre.
As receitas da empresa francesa, que possui marcas que vão de Louis Vuitton e Dior a empresas de bebidas como Moet & Chandon e Veuve Clicquot , cresceram 1% em termos orgânicos para €20,98 bilhões nos três meses até junho — um ritmo mais lento do que no primeiro trimestre e abaixo das expectativas consensuais de um aumento de 3%. O lucro líquido caiu 14%, para €10,7 bilhões.
A perda de ritmo da empresa de Bernard Arnault, CEO e chairman – e um dos homens mais ricos do mundo –, vem em meio a um momento complexo para o mercado de luxo. No ano passado, o setor já havia desacelerado, mas com Kering e a Burberry como os principais nomes que tinham ficado para trás. Marcas de alto padrão como Hermès e Brunello Cucinelli se saíram melhor, com o foco nos clientes ainda mais ricos.
Mas os números de agora da LVMH podem indicar um inverno um pouco mais prolongado. “A LVMH desacelerou em meio à moderação da demanda por luxo", diz Luca Solca, da Bernstein. A análise foi destacada pelo Financial Times, acrescentando o impacto do câmbio no lucro operacional da companhia. “Isso não deve ser um problema intransponível”, ponderou.
Na britânica Burberry o cenário é mais dramático. No último dia 15 de julho anunciou a troca do CEO Jonathan Akeroyd por Joshua Schulman e a suspensão do pagamento de dividendos. Só em 2024, as ações caem mais de 50% em Londres. Para efeito de comparação, os papéis da LVMH recuam 10,11% desde o começo do ano.
O peso do mercado chinês
A fraqueza nas vendas da LVMH e de todo o mercado de luxo tem uma origem bem determinada. As vendas na Ásia (excluindo Japão), divisão representada em grande maioria pelas operações na China, caíram 14% no segundo trimestre, exacerbando as preocupações sobre a demanda por luxo na segunda maior economia do mundo.
As vendas de champanhe caíram, embora permaneceram acima dos níveis de 2019, segundo a LVMH, que entre bebidas, relógios, bolsas e joias é dona de 75 grifes. Já as fracas vendas de conhaque no mercado chinês foram parcialmente compensadas por um retorno ao crescimento nos Estados Unidos.
A divisão que inclui o negócio de varejo de viagens da LVMH e a varejista de beleza Sephora, foi um ponto positivo, crescendo 5% no segundo trimestre, embora em um ritmo mais lento do que os analistas haviam previsto.
É bem verdade que as vendas no Japão foram bem. Cresceram dois dígitos, sendo puxadas justamente pelos turistas chineses. Mas os viajantes chineses não têm comprado o suficiente para dar tranquilidade a todo o setor de luxo.
Entre os grupos de luxo que já divulgaram balanços neste trimestre, vários apontaram uma demanda fraca na China. A Richemont, proprietária da joalheria Cartier, reportou vendas praticamente estáveis, com a queda acentuada na China anulando o efeito pujante do crescimento nos Estados Unidos e na Europa.
Agora, a expectativa das ‘maisons’ e dos investidores é de que o segundo semestre seja mais generoso, com crescimento mais robusto devido a uma base de comparação mais fácil tanto na China quanto na Europa. “Embora permaneça vigilante no contexto atual, o grupo olha o segundo semestre do ano com confiança”, diz Arnault.
Saiba antes. Receba o Insight no seu email
Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade
Acompanhe:
Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado