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Varejo

Controladores da Marisa vão colocar dinheiro para renegociar dívida com bancos

Forma do aporte ainda será definida, mas será uma dívida subordinada, diz fonte próxima à negociação

Marisa: recuperação judicial está fora de questão neste momento (Marisa/Divulgação)
Marisa: recuperação judicial está fora de questão neste momento (Marisa/Divulgação)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 16 de fevereiro de 2023 às 15:56.

Última atualização em 16 de fevereiro de 2023 às 16:46.

Em processo de reestruturação, a varejista de moda Marisa tem muito o que arrumar da casa, passando das contas, pela operação do varejo até as atividades do seu braço financeiro, o Mbank. O primeiro incêndio a apagar é o perfil da dívida da companhia, um trabalho que a BR Partners começou a se debruçar nos últimos dias e para o qual já começa a fazer os primeiros planos. O objetivo é aumentar o prazo de vencimentos deste ano, que são na ordem de R$ 200 milhões. Esse reperfilamento da dívida, reduzindo a pressão de curto prazo, daria algum fôlego para a Marisa, que, no total, acumulava uma dívida bruta de R$ 788 milhões até o fim de setembro. 

Mas a verdade é que, depois do caso Americanas, é preciso oferecer mais para garantir o sucesso da missão. São tempos de maior risco ao crédito e desconfiança com o varejo, tudo somado a uma taxa de juros que se mantém nas alturas, a 13,75%. Por isso, a ideia, explica uma fonte familiarizada com a situação, é chegar à mesa de negociações com os bancos com uma proposta em que os acionistas controladores entrem com um aporte. “A forma desse aporte ainda será definida, mas será, de qualquer maneira, uma dívida subordinada”, diz. 

Atualmente, 48% do capital social da companhia está nas mãos de diferentes integrantes da família Goldfarb, fundadora da Marisa. De acordo com formulário de referência de 15 de fevereiro, a segunda maior participação é da gestora Versa, que detém 8,39%, seguida dos fundos Mobdick, com 4,36% e Mil, com 1,28%. Se uma operação de dívida subordinada for mesmo o modelo, caso haja liquidação os controladores só recebem o reembolso depois dos outros credores. Ou seja, só receberiam depois que os bancos fossem pagos. Esse é o primeiro aceno ao setor financeiro para conseguir uma negociação mais amigável. Recuperação judicial está fora de questão, segundo pessoas próximas ao negócio, e mesmo a busca por um sócio ainda não é uma pauta que esteja na mesa. “Mais pra frente vale ver se faz sentido alguma junção de forças estratégicas.” 

As outras indicações de que a empresa quer azeitar as engrenagens estão nas mudanças internas e a contratação da Galeazzi Associados. A dança das cadeiras foi intensa nos últimos dias. Do comando do conselho de administração saiu Marcelo Doll Martinelli, que renunciou, e entrou João Pinheiro Nogueira Batista, que foi diretor financeiro da Petrobras e hoje compõe o conselho da Braskem e preside o conselho do Porto de Vitória. Segundo fontes próximas, Batista deve ajudar a melhorar a governança e a gestão financeira e estratégica.  

Do conselho também saíram os membros independentes Dilson Batista dos Santos Filho e Marcelo Adriano Casarin, que tinham passagens pela C&A. Chegou Luis Paulo Rosenberg, economista e ex-conselho da Suzano. Já na direção executiva, Adalberto Pereira Santos, renunciou ao cargo de CEO e foi substituído, interinamente, pelo então vice-presidente comercial, Alberto Kohn de Penhas. “A principal questão é mais sobre melhorar o modelo de negócio do que qualquer outra coisa”, diz fonte próxima à negociação.  

Por isso, seria melhor um diretor executivo com mais intimidade com modelo operacional do que com gestão financeira. Santos foi diretor financeiro da Marisa por sete anos, e só de março de 2022 até agora ficou à frente da empresa. “A empresa tem margem bruta muito alta, mas com rentabilidade final muito baixa. Tinha, evidentemente, um problema de custo, de modelo operacional. Então o caminho é fazer ajustes do modelo de negócios”, diz a fonte.  

Para isso, além da mudança de pessoas foi contratada a Galeazzi, consultoria de Claudio Galeazzi, que atuou na reestruturação de BRF, Pão de Açúcar, Lojas Americanas e Vulcabras. Não raras as vezes chamado de “mãos de tesoura” Galeazzi tem forte experiência em cortes de custos, justamente o problema que a varejista quer atacar. Até o terceiro trimestre, a empresa conseguiu saltar 4,9 pontos na margem bruta do varejo, para expressivos 49,2%, mas isso não se refletiu em rentabilidade. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) dos nove meses até setembro ainda ficou negativo em R$ 66 milhões na operação de varejo.  

“O caminho vai ser olhar que lojas estão tendo prejuízo e com excesso de aluguel e daí fazer ajustes”, diz uma pessoa familiarizada com as operações. Entre os ajustes estão renegociação de aluguel e mesmo fechamentos. No varejo, o movimento de redução de estoques também deve permanecer, numa forma de não pressionar o capital de giro em um cenário de juros altos. No terceiro trimestre, a média de estoque da Marisa foi 19,9 milhões de peças, quase 20% abaixo da média que registrava de setembro de 2019 até então. 

Para além das lojas, vai ser preciso repensar a operação do Mbank também. No terceiro trimeste, considerando os números pró-forma, a companhia registrou um salto de 152% no prejuízo financeiro líquido, para R$ 64,7 milhões, por causa do impacto da alta de juros nas despesas relacionadas à dívida, que, em grande parte, refletia o custo de captação no resultado operacional do Mbank. Nesse período, o Ebitda do braço financeiro da Marisa passou de R$ 42,3 milhões positivos para uma perda de R$ 10,3 milhões.  

Esse desempenho anulou as melhorias observadas no varejo de julho a setembro de 2022 e fez a empresa registrar um Ebitda negativo de R$ 34,2 milhões. Por fim, o lucro foi revertido em prejuízo líquido de R$ 97,5 milhões nesse período. Em nove meses, o prejuízo é de R$ 202,4 milhões, 195% a mais do que um ano antes. “As provisões de perda são mais no cartão do que nas lojas. Vai ter que ajustar um pouco, eventualmente reduzir a agressividade. Mas, à medida que acontece a transferência de renda para a classe C e D, deve ter melhora.”  

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

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