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B3: a estratégia por trás da joint de R$ 1,6 bi com Totvs e de novos M&As

Ainda monopolista, Bolsa se prepara para cenário de competição com estratégia de M&A que busca aprofundar laços com clientes

GV

19 de julho de 2021 às 11:26

A B3 deu a largada em uma importante estratégia — que muita gente não se deu conta — com o investimento de R$ 600 milhões na Totvs Financial Services (TFS). O aporte de recursos na sociedade com a Totvs, para uma fatia de 37,5%, equivale a quase o total investido pela bolsa em 2019 e 2020, que alcançou R$ 700 milhões na soma dos dois anos.

O movimento tem razão de ser. Afinal, há anos se fala em concorrência. Ela ainda não veio, mas tudo indica que está cada dia mais perto. A regulação para suportar a competição já existe. E isso para não falar da fronteira de risco que o próprio blockchain significa. O valor das ações, que há um ano esteve perto dos R$ 22, e agora está abaixo de R$ 17 é reflexo desse temor.

Não bastasse a relevância financeira, o que a TFS significa é uma mudança de pensamento dentro de um negócio que ainda é monopolista. A bolsa montou uma frente de fusões e aquisições que vai buscar, ao mesmo tempo, a diversificação da atuação e o aprofundamento da relação com os clientes. O jeito de fazer isso? Com cabeça de startup, e não de monopólio.

Com a sua capilaridade, a bolsa quer ter agora cada vez mais soluções outras para os clientes, de forma a ser cada dia mais completa — e necessária. A TFS é exatamente isso. Soluções no estilo Totvs, que poderão ser ofertadas para toda a base da bolsa, serviços que vão do middle ao backoffice.

Quem contou a estratégia ao EXAME IN, em entrevista exclusiva, foi a diretora de relações com investimentos, planejamento estratégico e M&A, Marcela Bretas. “Já temos diversos pontos de contato com os clientes, mas o objetivo é tornar esse vínculo mais profundo. Isso é fundamental para a escolha de um fornecedor”, pontua a executiva, já com cabeça de quem vê a concorrência batendo à porta.

Hoje, as receitas da bolsa — que totalizaram R$ 8,4 bilhões em 2020 e R$ 2,7 bilhões de janeiro a março deste ano — estão 60% concentradas no segmento de listados e 15% em balcão. Os 25% restantes estão divididos em diversas outras frentes que incluem de serviços em tecnologia ao mercado de gravames para veículos.

A frente de tecnologia, dados e serviços, onde entraria a TFS, se fosse consolidada no balanço da B3 é por enquanto de apenas 12% do total, ou  R$ 328 milhões no primeiro trimestre deste ano. Trata-se de um mundo inteiro ainda a ser explorado, quando o tema é aprofundar relações e estar mais próximo dos clientes.

A beleza da TFS é que, como tecnologia, ela pode atravessar e se relacionar com todas as frentes de negócios da B3 de hoje e do que vier. Entrar dentro de um banco para instalar qualquer nova tecnologia é hoje quase mais difícil do que pensar em conhecer a Coreia do Norte. Portanto, os grandes clientes são os mais protegidos num cenário de competição.

Já os pequenos e médios, onde o crescimento do mercado mais acontece, são muito mais sensíveis a custos e mais abertos a mudanças. É essa base que a B3 mais precisa proteger, portanto — a atual e a futura.

Marcela explica que a B3 não quer regras para sua estratégia de fusões e aquisições. “Estamos abertos a estruturas diferentes. Não tem essa coisa de ter de comprar o controle e colocar tudo aqui dentro.” Quando olha oportunidades, a bolsa mira aquisição de tecnologias para seus projetos de expansão, compra de times que já entendam desses mercados e que tragam novas habilidades e ainda um ‘go to market’ mais veloz e eficiente.

Pergunte a qualquer uma das startups o que elas pretendem fazer com os recursos após uma rodada de captação importante ou que tenha encarado uma oferta pública inicial (IPO) e as respostas serão muito semelhantes às de Marcela.

No front de lançamentos da B3 está uma plataforma de recebíveis, ainda neste ano, para se posicionar nesse imenso mercado estimado em R$ 300 bilhões e que se abre a mil e uma possibilidades a partir da nova regulamentação do Banco Central. Outro projeto é ter uma plataforma para o mercado de seguros, que deve passar por uma imensa revolução com a digitalização da economia e do crédito.

A Bolsa não dá guidance de investimento, muito menos para M&A. Mas ninguém duvida o que cabe no orçamento da casa que, enquanto a concorrência não vem, distribuiu aos acionistas mais de R$ 6 bilhões em 2020, entre dividendos, juros sobre capital próprio e recompra de ações.

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