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Arezzo &Co e Soma fecham fusão que forma gigante da moda brasileira

Acionistas de Arezzo ficarão com 54% da companhia combinada, e os de Soma, 46%; anúncio oficial será feito amanhã pela manhã, apurou o INSIGHT

 (Arezzo/Divulgação)
(Arezzo/Divulgação)

4 de fevereiro de 2024 às 14:51

Após um namoro que se arrastou por mais de dois anos, Arezzo &Co e Grupo Soma acabam de fechar o maior negócio do mercado de moda brasileiro, formando uma gigante com mais de 20 marcas e faturamento combinado de R$ 12 bilhões, segundo fontes ouvidas pelo INSIGHT. O anúncio deve ser feito oficialmente amanhã, antes da abertura do mercado.

A fusão será feita integralmente via troca de ações, sem prêmio. Acionistas da Arezzo ficarão com 54% da companhia combinada e os da Soma, 46% -- um leve ajuste em relação aos termos iniciais, que previam 56% e 44%. 

Alexandre Birman será o CEO da empresa combinada e Roberto Jatahy, que comanda o Soma, ficará à frente da divisão de vestuário feminino. O conselho será formado por sete membros, três de cada companhia, mais um chairman a ser escolhido em conjunto.

A nova companhia terá quatro unidades de negócio. Além de calçados e de vestuário feminino, a Hering – de tíquete médio mais baixo e que representa 40% da receita do Soma – terá uma divisão própria. A AR &Co, vertical de vestuário e lifestyle que foi formada dentro da Arezzo com a aquisição da Reserva em 2020, seguirá como uma unidade separada, sob o comando de Rony Meisler.

A notícia de uma potencial fusão, que vazou nesta semana, foi celebrada pelo mercado, dadas as complementaridades do portfólio das duas empresas, que formarão uma espécie de ‘house of brands’ do luxo acessível no Brasil. É um modelo do qual a LVHM é o maior expoente mundial e pelo qual os investidores topam pagar múltiplos mais altos, dado a resiliência da demanda e o potencial de expansão.  Desde o anúncio das negociações, na quarta-feira (31), as ações da Arezzo subiram 12,5% e as do Grupo Soma avançaram 13,7%.

Sinergias

Ao longo da semana, as empresas sinalizaram que a transação tem potencial para gerar R$ 4,5 bilhões em sinergias – um número considerado um tanto agressivo pelo mercado. Boa parte desse valor está na possibilidade de cross-sell entre as marcas (com venda de calçados Birman na Animale, por exemplo).

Analistas e investidores preferem focar do lado dos custos. O Safra estima uma economia de R$ 200 milhões por ano em despesas gerais e administrativas, que incluem backoffice, RH e tecnologia da informação. Há uma expectativa de redução de despesas operacionais, além de uma vantagem importante para a Reserva a princípio, que poderá ser estendida a outras marcas, que é a utilização do complexo industrial da Hering para produzir suas peças.

“A Hering teve uma série de problemas ao longo dos anos, mas a parte fabril é impressionante e eles conseguem operar com um custo industrial muito baixo”, aponta um gestor que tem ações tanto de Arezzo quanto de Soma.

A Arezzo, por outro lado, pode aportar sua expertise em franquias na Hering, que vem melhorando resultados desde a compra pelo Soma, em 2021, mas ainda tem pontos frágeis na relação com os franqueados. As duas empresas também podem somar esforços na expansão internacional – no caso da Soma, feita principalmente via a marca Farm, que tem ganhado cada vez mais tração no mercado externo.

“Independentemente do valor das sinergias na ponta do lápis, o que é sempre difícil de estimar e depois de provar, a união das duas empresas tem potencial para criar muito valor”, diz um outro acionista de Arezzo.

De rivais a sócios

Fundado em 2010, o Soma nasceu da união da Animale, da família Jatahy, com a Farm, de Kátia Barros e Marcello Bastos, numa parceria que resume o DNA da empresa: manter a identidade criativa das marcas, dando a elas uma gestão profissionalizada.

De lá para cá, o grupo fez uma série de aquisições, colocando no portfólio marcas como Foxton (a única de moda masculina), Cris Barros, Maria Filó e NV, esta última comprada de 2020 e com uma taxa de crescimento impressionante de 40% ao ano nos últimos quatro anos.

A Hering foi, de longe, sua maior aquisição – e a menos óbvia, tanto pelo tamanho da operação, quanto pelo perfil, de ‘básico democrático’, com tíquete médio menor e menos informação de moda. O grupo pagou R$ 5,1 bilhões pela companhia em 2021 dinheiro e troca de ações, desbancando a própria Arezzo que tinha oferecido metade do preço.

Desde então, Birman vem tentando se fundir ao Soma. As empresas chegaram a manter conversas mais firmes em 2021, mas o negócio esbarrou no valuation, já que o valor de mercado da dona da Farm era praticamente o dobro do valor da Arezzo à época.

Também surgiram questões de governança em torno do tamanho da participação de Birman na nova companhia. “A conversa ficou madura e foi melhorando o modelo de governança. O tempo só foi criando mais ideias de como isso pode funcionar e qual valor isso pode destravar”, diz uma pessoa próxima à operação.

Apesar de verem sentido na transação, interlocutores que conhecem de perto ambas as companhias apontam um desafio de cultura: “O Birman tem a mão mais forte e é mais protagonista na Arezzo; o Jatahy dá muita liberdade aos estilistas e é um cara mais low profile, agregador. Vai ser interessante ver como se dará essa mistura”, aponta uma fonte do setor de moda. Outra questão relativa ao comando das operações diz respeito à relação entre Birman e Fabio Hering. A relação entre os dois ficou estremecida desde a tentativa de compra da Hering pela Arezzo.

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.

Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado