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Private equity

Advent segue otimista com o Brasil — mas já sente o fator ‘tigrinho’

Gestora de US$ 8 bi na região vê boas oportunidades em serviços financeiros e tecnologia, mas diz que avanço das bets reduz potencial do consumo para baixa renda

Efeito tigrinho: “Não tem a ver com a economia, tem a ver com o setor de gaming, que tirou poder de compra do consumidor", diz executivo da Advent (PGSoft/Reprodução)
Efeito tigrinho: “Não tem a ver com a economia, tem a ver com o setor de gaming, que tirou poder de compra do consumidor", diz executivo da Advent (PGSoft/Reprodução)
Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 27 de agosto de 2024 às 13:22.

Última atualização em 27 de agosto de 2024 às 14:00.

Uma das gestoras de private equity mais tradicionais e ativas no Brasil, a Advent segue otimista com o Brasil, a despeito das turbulências macroeconômicas — mas o avanço das bets é um fator de preocupação para o segmento de consumo e varejo voltado para a baixa renda, que concentra algumas apostas do portfólio que soma US$ 8 bilhões investidos na América Latina.

“No fim de 2023 e começo de 2024, o setor de consumo focado em baixa renda estava indo muito bem, com uma dinâmica particular. Mas no segundo trimestre deste ano, a demanda começou a enfraquecer”, disse Juan Pablo Zucchini, co-head da Advent para a região, na conferência anual do Santander, que acontece hoje em São Paulo.

“Não tem a ver com a economia, tem a ver com o setor de gaming, que tirou poder de compra do consumidor.”

No começo deste ano, a Advent anunciou o investimento na Skala, que tem com público-alvo principal as classes C e D. A empresa de produtos de beleza tem uma vasta linha para cabelos, cujo carro-chefe é um ‘potão’ de creme de tratamento para cabelos que custa menos de R$ 15 e viralizou nas redes sociais.

Além disso, a companhia aportou R$ 1 bilhão junto com o fundo canadense CPPIB na Inspira, de educação básica. O valor do investimento da Skala não foi anunciado à época, mas Zucchini afirmou hoje que a Advent já investiu R$ 2 bilhões no Brasil somente neste ano.

Há 27 anos no Brasil, com investimentos como a Yduqs, de educação básica, e a Tigre, de tubos e encanamentos, e o Grupo CRM, dono da Kopenhagen, vendido para a Nestlé no ano passado, a gestora atua com uma abordagem predominantemente setorial. O foco são em cinco segmentos: serviços financeiros, saúde e educação, consumo e varejo, indústria e tecnologia.

“Estamos enxergando bastantes oportunidades em serviços financeiros, especialmente pagamentos, que continua sendo um subsegmento bem interessante. Outro setor que olhamos de perto e tem sido bem dinâmico é o de tecnologia”, disse Zucchini.

Segundo o gestor, apesar dos barulhos políticos, a América Latina vem numa trajetória positiva nos últimos 15 anos, especialmente na questão fiscal. “Os governos, tirando alguns países que nem entram na conta, tem mostrado cada vez mais responsabilidade fiscal, mais controle da inflação. A forma como a região saiu do Covid e fez a briga contra a inflação foi exemplar, fez um trabalho melhor que Estados Unidos e Europa”, afirma,

De acordo com ele, a Advent é “muito focada e otimista” com o país. “Tem muita oportunidade pela frente, o Brasil está muito bem posicionado no cenário global.”

Com US$ 90 bi em gestão em todo o mundo, a Advent tem cerca de US$ 8 bilhões investidos na América Latina. Do total, cerca de 50% a 60% tem sido investidos no Brasil, aponta o gestor. “E é pela qualidade dos negócios, não pelo tamanho do país, tem setores que performam bem em qualquer cenário.”

Zucchini destaca ainda o potencial de internacionalização de muitos negócios regionais — seja para países vizinhos da América Latina, seja para outras áreas do globo.

Um exemplo é a Dufry, rede de free shops em que a Advent investiu e ajudou a consolidar por meio de aquisições e que hoje está em 150 países, além de ser listada na Suíça. É o caso também da Tigre, que hoje já está na Europa e nos Estados Unidos.

“Isso tem muito a ver com as qualidades do mercado brasileiro. É um mercado dinâmico, exigente, desafiador. O executivo brasileiro em geral tem um senso de adaptação muito rápido e tem um conhecimento infelizmente de inflação. São atributos muito valorizados lá fora, especialmente nessa época.”

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.

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