Santander: No avanço das bets, quem sai perdendo é o varejo
A ascensão das casas de aposta online impressiona e está mudando o jogo — pelas análises do banco, elas já respondem por pelo menos 1,9% dos gastos das famílias brasileiras
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 29 de junho de 2024 às 08:00.
Última atualização em 29 de junho de 2024 às 10:06.
A ascensão das bets, as casas de apostas online, está mudando o jogo – e os hábitos de consumo, virando mais um concorrente para o varejo nacional.
Pesquisa da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) revela que os consumidores ativos em apostas esportivas online têm reduzido seus gastos em outras categorias, como vestuário (23%), itens de supermercado (19%) e viagens (19%).
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Mercado bilionário, o Brasil ainda é “pequeno” em receita de apostas quando comparado a outros países como Estados Unidos, Japão e Reino Unido, mas o crescimento é acelerado e bastante visível: não faltam, por exemplo, anúncios publicitários na televisão e na internet com direito a jogadores de futebol e artistas como garotos-propaganda.
A equipe de varejo do Santander resolveu estudar o impacto desse fenômeno na “participação na carteira" de consumo das famílias. Para tentar quantificar essa mudança no comportamento do consumidor, o time analisou os dados nominais devendas no varejo do IBGE e da Renda Nacional Disponível das Famílias do BCB de 2013 a 2023.
"Nossa metodologia focou no cálculo da participação das atividades de varejo na carteira dentro da renda disponível. Especificamente, calculamos a razão das Vendas no Varejo Amplo nominais totais para a Renda Nacional Disponível Bruta Restrita (calculada pelo Banco Central)." Essa abordagem permitiu os analistas rastrear como as atividades comerciais tradicionais evoluíram em relação ao poder de gasto geral dos brasileiros, fornecendo uma visão sobre os possíveis efeitos de deslocamento causados por setores emergentes como os jogos de azar legalizados.
Faltam dados consolidados e formais das atividades de jogos de azar no Brasil, por isso os analistas consideraram estimativas do Congresso, números disponibilizados por algumas bets e dados do BACEN.
Um estudo do Senado estima que os brasileiros gastam cerca de R$ 50 bilhões anualmente em atividades de jogos de azar, com apenas R$ 23 bilhões em 2023 provenientes de canais legais, por meio das loterias federais. Esse valor não inclui apostas esportivas online.
Parte das fontes consultados pelo banco indicam mais de R$ 100 bilhões em 2023, enquanto outras fontes, usando dados do Banco Central, apontam para R$ 58 bilhões sendo enviados para sites internacionais de apostas esportivas.
“Estimamos que os brasileiros gastaram R$ 100 bilhões e 150 bilhões em atividades de jogos de azar (loterias federais + atividades informais + apostas esportivas online) em 2023. Assumindo o limite inferior dessa faixa em R$ 100 bilhões, isso representa um grande salto em comparação com os R$ 30 bilhões que estimamos terem sido gastos em 2018”, calculam os profissionais do Santander.
Na contramão disso, as vendas do varejo tradicional foram abocanhando fatias menores da renda familiar. Eram 63% em 2021 e passaram para 57% no último ano.
Já as atividades de jogos de azar e apostas esportivas online têm experimentado um aumento significativo. A participação dessas atividades na renda familiar subiu de 0,8% em 2018 para uma estimativa de 1,9% a 2,7% no ano passado.
A aprovação da portaria que regulamenta as apostas esportivas online no início de 2024 e a recente aprovação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado do projeto de lei 2234/2022 -- ainda pendente de aprovação no Congresso que propõe a legalização de cassinos, bingos e jogos de azar -- ajudaram a dar gás para esse mercado que tem despontado como um dos campeões do bolso do brasileiro.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado