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B3

Rede D'Or será 10ª maior empresa aberta da B3, avaliada em até R$ 127 bi

Ação da rede de hospitais iniciada em 1977 por Jorge Moll Filho pode ser uma das mais líquidas da bolsa brasileira após oferta de R$ 14 bi

Saguão da B3: próxima novata chega no clube das dez maiores companhias abertas brasileiras (Germano Lüders/Exame)
Saguão da B3: próxima novata chega no clube das dez maiores companhias abertas brasileiras (Germano Lüders/Exame)

Publicado em 17 de novembro de 2020 às 01:12.

Última atualização em 17 de novembro de 2020 às 01:31.

A B3 vai ser palco do primeiro IPO brasileiro que pode ser considerado global de verdade, pelo seu porte: a estreia da companhia de hospitais Rede D’Or. Para a largada, a empresa, uma das mais aguardadas dos últimos anos, vem avaliada entre 97 bilhões e 127 bilhões de reais. O intervalo da faixa sugerida de preço já a coloca como a 10ª maior companhia da B3 em capitalização. O debut no pregão está previsto para 10 de dezembro. Os detalhes para a operação foram divulgados nesta segunda-feira, dia 16.

Atualmente, apenas nove empresas na bolsa têm valor de mercado de centena de bilhões — sendo que três são bancos e uma é a própria B3. O grupo é composto por nomes como Ambev, Magazine Luiza, Vale, Petrobras e Weg.

A oferta de ações propriamente pode variar entre 9,4 bilhões de reais (oferta base pelo piso de 48,91 por ação) e 14,2 bilhões de reais (oferta base mais adicional pelo teto de 64,35 por ação). A venda de um lote suplementar ampliaria o total da operação, no cenário mais otimista, a 15,6 bilhões de reais. A definição de preço para as ações está marcada para dia 8 do próximo mês.

Desnecessário apontar que a empresa também será a maior do setor listada na B3, cujos destaques hoje são as integradas Hapvida, avaliada em 54 bilhões de reais, e Notre Dame Intermédica, que encerrou o dia ontem valendo pouco mais de 45 bilhões de reais.

Essa é verdadeiramente a operação do ano de 2020. A Rede D’Or terá outra característica única: pode chegar direto na composição do índice MSCI Brazil, o indicador mais acompanhado pelos investidores estrangeiros e, com enorme potencial, de integrar também o Índice Bovespa tão logo acumule doze meses de negociação no pregão.

Tudo indica que a companhia, fundada pela família Moll a partir de um laboratório no Rio de Janeiro em 1977, vai se beneficiar ainda da liquidez internacional que voltou a ser direcionada para o Brasil. Somente no mês de novembro, o saldo de ingresso de fundos estrangeiros na bolsa no mercado secundário já supera 16 bilhões de reais. Sem contar ainda a participação em ofertas públicas — esse tal de gringo foi quem garantiu o livro de demanda para o IPO da fabricante de pás eólicas Aeris.

E ainda que os investidores institucionais domésticos estejam mais calejados, ninguém acredita que faltará demanda dos locais para essa operação. No máximo, é possível que chorem desconto. Apesar de todo gigantismo, o intervalo de preços da Rede D’Or traz um pequeno deságio em relação à avaliação que a companhia tentou na fase de educação do investidor, que partia de um valor superior a 115 bilhões de reais para o negócio — ou seja, como mínimo. A empresa também tem múltiplos mais baixos que as duas maiores empresas abertas do ramo, por não ter um modelo verticalizado, ou seja, ter em seu escopo do plano de saúde à rede de hospitais e laboratórios.

Ainda que os banqueiros de investimento gostem de tratar os IPOs como o início da vida de uma companhia aberta e de sua relação com o mercado, não há como não encarar a listagem do grupo como uma espécie de coroação da trajetória empresarial do fundador, o cardiologista Jorge Moll Filho.

Há pouco mais de uma década, a empresa viu a oportunidade de consolidar o mercado de atendimento a saúde e acelerou nesse caminho por meio aportes recebidos de fundos de investimento. Não por acaso, o quadro de acionistas da empresa tem o fundo soberano de Cingapura GIC e a gestora de private equity Carlyle. O Ebitda da Rede D’Or saiu de 113 milhões de reais, em 2009, para 3,7 bilhões de reais em 2019. Ao longo do caminho, além da expansão de sua própria capacidade, estão 37 aquisições.

Há dez anos, quando recebeu o primeiro aporte de capital, a Rede D’Or foi avaliada em 600 milhões de reais. De lá para cá, multiplicou seu valor por 200. O desafio, mas que historicamente a companhia já superou diversas vezes, é mostrar que dá para continuar crescendo em ritmo acelerado mesmo depois de tudo que já realizou na última década. A outra parte da equação é dizer que dá para crescer mesmo com o mercado de plano de saúde estagnado em torno de 45 milhões de beneficiários há quase uma década. A chegada da telemedicina promete trazer um novo vigor ao setor.

Nos últimos cinco anos, o grupo D'Or saiu 4.100 para 6.800 leitos operacionais, um incremento de 65%. Agora, o projeto é adicionar 5.200 leitos à capacidade atual até o fim de 2025. Trata-se de um salto superior a 75% e esse total não inclui 1.700 posições que podem ser acrescentadas com o aumento dos atuais hospitais. Contando tudo, a Rede D’Or pode dobrar de tamanho em cinco anos — e isso tudo sem falar de aquisições, que continuam nos planos da empresa.

O dinheiro da oferta será igualmente dividido entre a expansão orgânica e manutenção da sequência de aquisições. Da operação total, cerca de 8 bilhões de reais irão fortalecer o caixa, por meio de uma emissão primária. Com isso, a alavancagem financeira do negócio deve cair substancialmente. O grupo tinha dívida bruta de 21 bilhões de reais ao fim de setembro, para pouco mais de 8,5 bilhões de reais em caixa. Com o dinheiro da oferta primária, os compromissos líquidos cairiam para abaixo de 5 bilhões de reais — o equivalente a menos de 1,5 vezes o Ebitda de um ano normal, sem pandemia.

 

 

 

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