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Os caminhos na reestruturação de dívida da Gol

Aérea quer acordo com bancos e não deve converter dívida com arrendadores em equity; RJ é possibilidade, mas distante, dizem fontes

Gol: companhia acelerou negociações com fornecedores (Germano Lüders/Exame)
Gol: companhia acelerou negociações com fornecedores (Germano Lüders/Exame)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

14 de dezembro de 2023 às 18:38

Em meio a um processo de negociação de dívidas, a Gol não deve usar suas próprias ações como moeda de troca com os arrendadores de aviões, caminho seguido pela Azul. Mas fontes ouvidas pelo Exame IN não descartam que essa via possa ser usada para conseguir um acordo com seus credores financeiros.

A companhia voltou à mesa com os arrendadores de aviões nos últimos dias, e está indo à mesa com bancos para costurar o que deve ser, nas palavras do CEO, Celso Ferrer, “uma solução definitiva”.

“Nossa exposição aos arrendadores é muito parecida a dos competidores. A companhia está operando em boa performance e por isso acreditamos que eles estão abertos a negociar”, disse Ferrer no encontro promovido para investidores e analistas na sede da empresa, no aeroporto de Congonhas.

No evento, a administração da companhia deu mais detalhes sobre o processo de reestruturação anunciada a partir da contratação das consultorias especializadas no setor de aviação Skywork e da Seabury. Mais recentemente, trouxe também o Rothschild para a mesa para tocar a conversa com os credores financeiros, que envolvem bancos e bondholders.

De acordo com dados da Fitch, os vencimentos de curto prazo da Gol – com vencimento em até 12 meses -- totalizavam R$ 2,9 bilhões até setembro, sendo R$ 1,1 bilhão em dívida financeira e R$ 1,8 bilhão em obrigações de arrendamento. No mesmo período, a companhia tinha apenas R$ 905 milhões em caixa. Ao todo, a Gol tem mais de R$ 20 bilhões em dívida, ainda de acordo com a agência de classificação de risco.

A Gol estaria colocando nas negociações a possibilidade de extensão de arrendamento e postergação de novas entregas, com objetivo de melhorar o fluxo de caixa imediato, diz uma pessoa com próxima ao processo.

O xis da questão para a Gol é que ela não tem muita margem na oferta de garantias, conta uma pessoa com conhecimento das negociações. “A maioria dos ativos que ela tem a dar como garantia já foi dada no acordo da Abra”, observa, em referência ao grupo que une as operações da brasileira com a colombiana Avianca. Ações da Abra – que pretende abrir capital – poderiam ser usadas no processo.

A negociação com os mais de 25 arrendadores de aviões da Gol vem menos de um ano depois da criação da holding. Controladora da Gol desde então, a Abra seria o caminho para reestruturar US$ 1,4 bilhão em dívidas da companhia aérea, com emissões que estenderiam para 4,4 anos os vencimentos e trazendo ainda mais US$ 450 milhões para a Gol.

Os recursos que foram “cruciais” nesse ano, segundo o CFO, Mario Liao. Com parte dos recursos da emissão feita pela Abra, a Gol refinanciou uma fatia dos débitos com os lessores. Ao fim do terceiro trimestre, a relação entre dívida líquida e EBITDA da empresa estava em 5x, contra 7,6 vezes ao fim de 2022. Mas não foram suficientes para estancar a sangria do balanço.

Outro ponto que difere a reestruturação da Gol para a da Azul está na maior exposição de arrendadores de manutenção -- o que causa preocupação para a capacidade da companhia de manter as operações, dado o risco de ficar ainda mais sem aeronaves caso elas fiquem paradas nos pátios.

De acordo com fontes do setor ouvidas pelo EXAME IN, a companhia contratou reforço jurídico para o momento, o que é comum nessas situações. Mas a possibilidade de uma recuperação judicial no Brasil é mínima, dadas as condições da lei brasileira, diz uma das pessoas ouvidas.

Um dos caminhos, nesse caso, seria recorrer ao Chapter 11, o processo de recuperação judicial nos Estados Unidos, que traz mais proteção à empresa, que pode rejeitar alguns contratos. A RJ americana foi o caminho encontrado pela Latam, por exemplo.

Ainda assim, essa ainda é uma alternativa distante. “O tipo de aeronave que a Gol opera tem muito mercado, mas não é tão fácil assim colocar em outros arrendatários. A Gol talvez seja aqueles casos de ‘too big to fail’”, diz uma pessoa próxima às negociações com os lessores.
Entra as buscas por alternativas à pressão de capital de curto prazo, a companhia também olha outras soluções. Uma das oportunidades no horizonte, disse o CEO, é um acordo com Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço, comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, para a criação de uma linha de crédito para financiar a manutenção de turbinas.

“Estamos realmente confiantes de que teremos algo assim”, disse Ferrer citando o exemplo do que acontece nos Estados Unidos com companhias aéreas de lá. Com isso, as companhias poderiam tomar empréstimos com bancos privados para essa finalidade e a manutenção seria realizada na Celma, unidade brasileira de aviação da GE em Petrópolis. O valor necessário inicialmente para essas linhas seria na casa de US$ 200 milhões, de acordo com o CEO.

Outros caminhos podem ser parcerias como a feita com a American Airlines em 2022, que trouxe investimentos de US$ 200 milhões – ou nos moldes da parceria com o Mercado Livre, em que a converte aeronaves que está tirando da frota comercial para uso na operação de carga dedicada, reduzindo custos relevantes ligados à devolução das aeronaves.

Do lado operacional, com a retomada da demanda e controle de custos, a Gol vem mostrando uma melhora. A empresa conseguiu reportar a maior margem operacional do terceiro trimestre entre os pares da América Latina. O indicador da Gol foi de 18%, acima dos 14% e 13% de Azul e Latam, respectivamente.

Num dia de bom humor para o Ibovespa com a redução de juros nos Estados Unidos e no Brasil, a ação da Gol chegou a subir quase 4%. Perto do fechamento, o papel avançava 2,82%.

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado