Os três pontos cruciais para avaliar o ataque dos EUA ao Irã — e seus efeitos sobre o mercado
Para a Gavekal, ofensiva do fim de semana eleva incertezas, mas muda pouco o jogo geopolítico


Natalia Viri
Editora do EXAME IN
Publicado em 23 de junho de 2025 às 13:56.
Última atualização em 23 de junho de 2025 às 14:25.
Nesta nova fase do conflito entre Israel e Irã, o ataque americano às instalações nucleares iranianas deixou mais dúvidas do que certezas sobre os próximos passos da guerra — tanto do que farão os Estados Unidos, quanto o Irã.
Em um movimento rápido e preciso, os Estados Unidos lançaram mísseis sobre alvos estratégicos em Fordow, Natanz e Isfahan. Poucas horas depois, Trump foi à televisão e às redes sociais declarar que a missão havia sido cumprida.
Mas, do ponto de vista dos mercados e da geopolítica, a sensação dominante é de que a névoa da guerra apenas se adensou, avalia a Gavekal.
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A análise, assinada por Louis-Vincent Gave, propõe um critério clássico de três fatores para julgar operações militares: segurança, velocidade e eficácia.
As duas primeiras foram claramente atingidas. O ataque não custou vidas americanas. “Sob esse ponto de vista, a operação foi um sucesso”, afirma Gave.
Mas restam dúvidas sobre a resposta do Irã.
“O Irã continuará concentrando seu poder de fogo em Israel? Provavelmente saberemos na próxima semana, mas uma resposta frontal parece improvável.”
O ataque também foi rápido e cirúrgico, com o presidente Donald Trump aparecendo na televisão e nas redes sociais, imediatamente após os mísseis terem atingido seus alvos, para anunciar que, a menos que o Irã respondesse, “a página havia sido virada”.
Já a eficácia, no entanto, permanece envolta em incerteza — entre comunicados do Pentágono sobre o sucesso da estratégia e relatos da mídia iraniana de que os danos foram mínimos.
Ataque pontual, mas objetivos difusos
Para Gave, a operação americana parece ter priorizado evitar baixas e encerrar o episódio rapidamente, enquanto a real extensão dos danos às capacidades nucleares do Irã só será possível avaliar nas próximas semanas ou meses.
“Também está claro que o apetite dos EUA por uma guerra longa, ou por uma guerra custosa (em termos humanos), é extremamente limitado”, diz Gave.
E isso importa — não apenas do ponto de vista militar, mas político e estratégico.
O governo Trump, ao que tudo indica, não busca um conflito prolongado. Parte expressiva de sua base política rejeita novas aventuras militares no Oriente Médio, e o próprio presidente tem dado sinais de que deseja virar a página.
O secretário de Estado Marco Rubio e o vice-presidente JD Vance reiteraram que o objetivo foi desarticular o programa nuclear iraniano — e não provocar uma mudança de regime.E o Irã?
Do lado iraniano, os objetivos são bem mais imediatos: sobreviver politicamente, manter a capacidade de produção de petróleo (que financia o regime) e retaliar Israel.
“O segundo objetivo deve ser proteger a capacidade de produção de petróleo do Irã — sem a qual o regime teria dificuldade para pagar suas contas”, destaca o relatório.
A dúvida, agora, é como — e se — o Irã responderá diretamente aos EUA. Uma ofensiva assimétrica parece mais provável do que um ataque frontal, o que manteria a escalada contida, mas deixaria os mercados em suspense, especialmente o mercado de energia.
Nesse cenário, os preços do petróleo tendem a se manter pressionados enquanto houver risco percebido de disrupção na oferta do Golfo Pérsico. O impacto pode ser mais duradouro caso o Irã volte a ameaçar o tráfego no Estreito de Ormuz ou mirar embarcações americanas.
Para onde vamos?
A principal incógnita, segundo Gavekal, é se o ataque foi suficiente para desmantelar de fato a infraestrutura nuclear iraniana.
“Se não foi, então o ataque provavelmente servirá como mais um incentivo — e não menos — para o Irã acelerar ao máximo o desenvolvimento de um dissuasor nuclear”, escreve Gave.
A esperança de que o ataque leve o Irã de volta à mesa de negociações parece, neste momento, mais um exercício de otimismo do que um cenário plausível. Afinal, que motivação teria o regime para dialogar com quem já declarou missão cumprida?
O que importa para os mercados
Com as posições dos EUA e de Israel relativamente claras — o primeiro sem apetite para guerra longa, o segundo tratando o conflito como existencial — o principal fator a acompanhar nos próximos dias será a reação de Teerã.
Se o Irã optar por responder apenas contra Israel, os mercados poderão absorver o choque inicial, com alguma volatilidade concentrada em commodities e ativos de risco.
Se, no entanto, houver retaliações contra alvos americanos ou interferência no fluxo de petróleo, a instabilidade pode se aprofundar.
Para investidores, o saldo do fim de semana é paradoxal: muito barulho, mas pouca clareza sobre as mudanças reais no equilíbrio de forças. E a única certeza, por ora, é a de que o grau de incerteza aumentou.
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Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.