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O plano da GetNet para depois que sair da B3

GetNet adota modelo "as service" e vira a empresa de adquirência de todos os bancos

Cassio Schmitt, novo CEO da GetNet: plano de crescer com novos serviços, crédito e conceito de plataforma aberta (Leandro Fonseca/Exame)
Cassio Schmitt, novo CEO da GetNet: plano de crescer com novos serviços, crédito e conceito de plataforma aberta (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 23 de maio de 2022 às 15:31.

Última atualização em 24 de maio de 2022 às 10:06.

A GetNet, empresa de adquirência que nasceu dentro do Santander, vai embora da Nasdaq e da B3 bem quando prepara uma virada, após a perda de clientes dos últimos dois trimestres. Cassio Schmitt assumiu a cadeira de presidente no início de abril com um plano de elevar o market-share da companhia em adquirência dos atuais 15% para 20%. “Não é um guidance, mas não quero ficar abaixo disso”, afirmou ele, em entrevista exclusiva ao EXAME IN, poucos dias antes de PagoNxt anunciar a oferta de fechamento de capital da unidade brasileira.

O plano do executivo, contudo, não tem nenhuma relação com a decisão da matriz espanhola de deslistar a empresa — apenas sete meses após ela ter sido separada do Santander. Ele já via as rotas de crescimento para o negócio quando estava em suas outras funções dentro do Santander, que incluíram desde crédito até a frente de inovação. O objetivo é mostrar ganhos ainda neste ano, mas o novo CEO entende que tudo isso é um projeto para ser implantado ao longo de dois anos.

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Para conseguir esse desempenho, a GetNet Brasil terá de crescer além do mercado — que avançou 36% no último ano. Mas Schmitt não quer apenas capturar mais clientes e um volume maior de pagamentos, quer ampliar a oferta de serviços de valor agregado e fazer com que elas representem entre 20% e 30% da receita — fatia que hoje está em torno de 10% (considerando, como o novo CEO, que antecipação de recebíveis está dentro da adquirência).

A rota de expansão está ancorada num projeto com três pilares: reforço nos serviços de maior valor agregado como plataforma de pagamentos, crédito e, especialmente, naquilo que justifica a criação da PagoNxt: um modelo “as service”, agnóstico. Hoje, a companhia tem parcerias com Banco Original, Pine, e mais recentemente BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) e Sofisa. “A indústria de cartões, com toda essa concorrência nova, precisa inovar. E isso está acontecendo.”

A GetNet teve receita líquida gerencial de R$ 616 milhões de janeiro a março, uma expansão de 22% na comparação anual e de 3%, na trimestral. A base ativa de clientes, considerando um intervalo de 90 dias, caiu 2% março contra dezembro e 3% ante março de 2021.

Na quinta-feira à noite, dia 19, a PagoNxt surpreendeu o mercado e anunciou um plano de deslistar a GetNet. A oferta é de R$ 4,72 por ação, mesmo valor de abertura da empresa quando foi separada do Santander Brasil, em outubro do ano passado.

A aprovação da cisão da companhia para ser listada separadamente ocorreu no auge da euforia do mercado, em fevereiro de 2021. Na época, a ação da Stone era negociada acima de US$ 90 — cotação que hoje está em torno dos US$ 9. Mas a estreia em bolsa de forma independente só ocorreu em outubro, quando as nuvens no horizonte já estavam para lá de carregadas de maus presságios.

A criação de valor esperada não ocorreu. E parece cada vez mais distante nessa nova realidade de dinheiro mais caro, com a taxa de juros brasileira perto dos 13% — ante 2%, na época da decisão — e as taxas globais iniciando agora a subida. Se estreou avaliada em R$ 4,4 bilhões, a GetNet estava em R$ 3,4 bilhões antes do anúncio da oferta.

Para a PagoNxt, tirar a empresa da bolsa vai custar menos de R$ 450 milhões, já que apenas cerca de 10% do capital da GetNet (tal qual o Santander) está em circulação na bolsa. Propositalmente ou não, essa rota de separação evitou um cheque maior da Espanha e uma delicada discussão entre partes relacionadas. O Santander Brasil não precisou colocar preço na GetNet para a matriz comprar: o mercado estabeleceu esse valor na largada da cisão. E se tivesse de comprar do banco brasileiro, teria de desembolsar o valor integral — ainda que parte disso pudesse retornar na forma de dividendo.

O projeto de Schmitt é ancorado, segundo ele, num salto de qualidade da GetNet como plataforma de pagamento e avanço de serviços, que vão se aproveitar da experiência e da posição global da PagoNxt. Somente no atendimento ao cliente, o projeto inclui dobrar a força da empresa de pouco mais de 400 profissionais para mais de 800.

Confira abaixo os principais temas e trechos da entrevista exclusiva ao EXAME IN:

O setor de meios de pagamentos vive uma grande transformação com a tecnologia. O PIX é uma concorrência para o cartão?

Para mim, é uma pena como se apresenta o PIX. Ele é um belíssimo sucesso de algo complementar de todos os meios que temos hoje no mercado. Está ocupando o espaço do dinheiro, o que é muito legal, o espaço de boletos, TED e DOC e alguma coisa do cartão. Mas ele não veio ocupar o lugar de todo mundo. Ele é complementar. A novidade positiva, que deveria ser mais comentada, são as mudanças, com tantas possibilidades de como pagar.

Hoje, o celular pode virar uma ferramenta de pagamento e recebimento. A maquininha vai acabar no meio de tanta mudança?

A maquininha não vai acabar. Ela vai evoluir para ser mais aquilo que a gente já tem, que é um POS digital. Poderíamos usar o celular para fazer o pagamento, de fato já é uma tecnologia disponível. Mas daí vem a pergunta: você vai usar o seu celular pessoal para pagamento [recebimento]? Então vai precisar de dois celulares? O POS, com suas vantagens, ainda é a melhor solução. Imagine uma loja: você vai deixar um celular na mesa? Além disso, a maquininha pode ser compartilhada, pois já existe o serviço de split de pagamento para mais de um recebedor. E têm todas as soluções de cartão não presente, que pode ser o site de ecommerce ou o link de pagamento, que cresceu muito recentemente.

Mas tecnologia evolui sempre na direção de eliminar o intermediário, não?

Veja, o uso do pagamento com cartão por aproximação saiu de R$ 18 bilhões, para R$ 105 bilhões – na comparação entre o primeiro trimestre de 2021 e 2022. Virou 16% do pagamento com cartão e 30% do pagamento físico que não considera o ecommerce. Ainda que você use o celular para isso, é o uso do cartão. Eu posso usar meu rosto para pagar com cartão. Eu não preciso do plástico. O importante é que existem muitas formas de captura e muitos meios de pagamento. Precisamos de uma plataforma que aceite todas.

O setor tem caminhado cada vez mais na direção do crédito e esse é um dos pilares do seu plano de expansão. Pode detalhar mais?

A antecipação de recebíveis passou a ser uma parte importante da nossa receita [30%]. No primeiro trimestre, antecipamos R$ 33 bilhões. Agora, acabamos de entrar no mercado de crédito fumaça, a linha de capital de giro que tem os recebíveis do cliente como garantia.

Como isso é feito e que tamanho pode ter?

Nós não ficamos com o risco de crédito: vai para um FIDC, que neste caso é do Santander. Quando olho 12 meses, podemos pensar de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão. Mas vamos aos poucos. Tenho anos de experiência em produto de crédito. Hoje, olhamos o score do Santander, mas também adicionamos o nosso modelo. Estou desenvolvendo mais informações. A partir do aprendizado necessário, consigo acelerar. Em três a quatro anos, uma carteira de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões é bastante provável.

O que significa toda essa separação da GetNet e da própria PagoNxt?

O propósito aqui é muito claro. Essa separação do banco Santander é para ser uma plataforma de pagamento que serve ao mercado todo.  Vamos trabalhar cada vez mais o canal independente. O Santander Brasil hoje é nosso maior cliente. Agora, eu quero outros parceiros e quero que isso seja maior do que a operação com o Santander. Essa solução me permite que eu seja a plataforma de pagamentos de bancos que não possuem essa oferta. Eu sou hoje uma plataforma “as a service”. Eu costumo dizer que se você não tem o transacional do seu cliente, você não tem a profundidade ou a vinculação na relação da melhor forma.

Mas como ter uma operação internacional, com a PagoNxt por trás, pode te ajudar?

A GetNet tem hoje grandes clientes. Como temos muitos dos marketplaces e varejos, com a PagoNxt teremos soluções específicas para clientes globais. Há todo um catálogo de serviços que podemos trazer para o Brasil. Você fazer uma conciliação que o cliente pode adotar em todos os países. Além disso, a PagoNxt comprou também um banco digital de câmbio aqui no Brasil, o Bexs. Com isso, se você tem um marketplace no Brasil e quer trazer um seller internacional, poderemos incluir um serviço completo de pagamento internacional. Ainda não tem, mas vai ser um leque de serviços.

Assistimos dois movimentos importantes no setor, na direção de agregar valor para o serviço de adquirência e de softwares financeiros. A Stone comprou a Linx e o Itaú fez uma joint-venture com a Totvs. Você pretende desenvolver ou comprar uma solução de ERP?

A concorrência nesse setor foi bastante foi predatória. Tem duas formas para lidar com isso: complementar sua oferta, com softwares, indo até o ERP, e ainda produtos bancários, ou cuidar da margem. Na minha visão, a própria solução de pagamentos é um serviço e ela precisa ter sua própria rentabilidade. Nós nos preocupamos com custo de funding de antecipação e puxamos um pouco as taxas. Mas quando falo de ser uma plataforma completa, isso inclui sim ampliar produtos e serviços para os clientes. Nós já oferecemos automação comercial e conciliação. Mas não pensamos em avançar para um ERP que vá, até por exemplo, gestão de estoques. Ainda tem muito valor para extrair do mercado sem precisar ir para o ERP. Esse é um mercado já bastante povoado.

Temos visto muito problemas de segurança ligados ao PIX e ao reconhecimento fácil. Essa questão pode ser um limitador de inovação tecnológica?

No Brasil, essa questão da fraude pode limitar a adoção de soluções, sim. O limite da nossa expansão são os medos ligados à fraude, assaltos e sequestro. É uma questão que vai ter de ser tratada. Na parte de cartões, a indústria se uniu e fez um belo trabalho. Acredito que os bancos vão ter de se unir para, via Febraban, e discutir a questão do PIX com o Banco Central. Eu estive envolvido no desenvolvimento dessa solução e, na época, busquei defendi limites menores e que houvesse um sistema de aprovação de alteração de limite com autorização separada, no Internet Banking, por exemplo, para dificultar mais.

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