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ESG

‘Nova’ Ambipar não tem M&A, reduz capex e foca em gestão de passivo

Primeiro trimestre pós follow-on e emissão de green bond trouxe melhora operacional, mas endividamento ainda pressionado: “Não temos preocupação com estouro de covenant”, diz o CFO

Ambipar: Ações caíram 9% no pregão de hoje após o balanço (Ambipar/Divulgação)
Ambipar: Ações caíram 9% no pregão de hoje após o balanço (Ambipar/Divulgação)
Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 10 de maio de 2024 às 18:08.

Última atualização em 10 de maio de 2024 às 18:58.

No primeiro trimestre completo desde um follow-on de R$ 717 milhões realizado em novembro, a Ambipar entregou o que prometeu.

Uma máquina de aquisições desde o IPO em 2020, a empresa não fez nenhuma compra, reduziu os investimentos do patamar e 15% para 10% da receita líquida e melhorou margens – principalmente na Response, seu negócio de prevenção e resposta a acidentes ambientais.

“Nessa que chamamos de ‘fase 2’ pós-IPO, estamos com uma estratégia bem definida visando eficiência, desalavancagem e visando geração de caixa em 2024”, disse o CFO Thiago Silva, em entrevista ao INSIGHT.

No primeiro trimestre, a empresa ficou no zero a zero da geração de caixa quando considera apenas os itens que chama de recorrentes. Colocando outros fatores na conta, como investimentos e pagamentos de aquisições passadas, esse número vai para o terreno negativo em R$ 453 milhões.

Essa queima de caixa ofuscou as melhorias operacionais e, ao lado do endividamento elevado, fez os papéis da Ambipar caírem 9% nesta sexta (10), aprofundado a queda no acumulado do ano para 36%.

Ao fim de março, a relação entre dívida líquida e EBITDA da companhia chegou a 3,1 vezes, acima das 3 vezes previstas em covenants de debêntures que serão apuradas no fim de junho. Num longo processo de gestão de passivos, Silva afirma que hoje não tem preocupação em estourar os covenants.

“O primeiro trimestre é sazonalmente pior”, afirma, sinalizando que vê a alavancagem ceder abaixo das 3 vezes. Ainda assim, a ideia é levar todas as emissões para o mesmo patamar de 3,75 vezes que foi estabelecido numa emissão de US$ 750 milhões em green bonds feita em fevereiro -- seja via negociações com os credores ou recompra dessas dívidas.

Os green bonds, com pagamento de juros e principal apenas em 2031, no vencimento, deve dar algum fôlego de caixa e ajudou a alongar o duration da dívida de 3 anos para 5 anos e meio. O custo, já considerado os swaps para fazer hedge cambial, ficou em CDI + 1,68%.

Com os recursos, a Ambipar recomprou R$ 2,4 bilhões em dívidas antigas, o que acabou pesando sobre o balanço do começo do ano.

O prejuízo foi de R$ 253 milhões, acima do esperado pelo mercado, puxado principalmente por R$ 248 milhões em despesas extraordinárias referentes a essas renegociações – num sinal de que o liability management não vem sem custo.

“Estamos olhando o filme e não a foto. Apesar de a foto poder ficar feia num primeiro momento, no médio e longo prazo, essa captação foi transformacional para a estrutura de capital da companhia”, diz Silva.

“O que posso dizer é que a estratégia de gestão de passivos começou com o green bond e não parou. Seguimos trabalhando forte nisso.”

Do lado operacional, o executivo aponta que o capex na casa dos 10% pode ser considerado o novo nível de investimento da Ambipar. “É um patamar que não compromete crescimento e permite que sigamos crescendo organicamente.”

No primeiro trimestre, a companhia teve uma receita líquida de R$ 1,27 bilhão, alta de 5% em relação aos últimos trimestres de 2023. O EBITDA subiu 7%, para R$ 375 milhões, impulsionado principalmente pela divisão de resposta a emergências.

A Response teve um forte crescimento de receita no Brasil, onde já tem boa penetração, refletindo o maior número de serviços e aumento nos preços. “Tinha uma grande incerteza de já não tínhamos saturado no Brasil, mas provamos que não. A Ambipar tinha grande participação em rodoviário, mas crescemos também no aéreo e no ferroviário”, aponta Silva.

O foco, no entanto, está no crescimento na América do Norte, onde a empresa vê a possibilidade de conseguir replicar a capilaridade e a eficiência que tem no Brasil. “Estamos organizando uma estrutura de comando central, como temos aqui no Brasil, no caso dos Estados Unidos e do Canadá, atendidos por Miami”, diz o CFO.

Na divisão de ‘Environment’, que inclui serviços como gestão de resíduos e economia circular, voltada principalmente para os clientes industriais, a receita ficou praticamente estável no primeiro trimestre em relação ao quarto.

Segundo Silva, o movimento reflete em parte a sazonalidade, já que diversos clientes fecham contratos até o fim do fiscal, e parte uma estratégia de privilegiar margem em detrimento de crescimento.

“Estamos focando nas sinergias não óbvias, o que resultou em alguns distratos com clientes que não faziam tanto sentido dentro da estrutura da Ambipar.”

Acostumada a girar a roda das aquisições, a Ambipar precisa mostrar agora que é capaz de integrá-las e gerar caixa de maneira orgânica – mesmo quando está sem pedalar.

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.

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