“É hora de anunciar que o turnaround está acontecendo”, diz CEO da Espaçolaser
Lucro líquido da companhia cresceu 67% na comparação anual, para R$ 11 milhões, preservando margem
Karina Souza
Repórter Exame IN
Publicado em 16 de maio de 2023 às 07:46.
“Depois de meses falando pouco com a imprensa, está na hora de anunciar que o turnaround desenhado para a Espaçolaser aconteceu efetivamente com os resultados do primeiro trimestre”. É essa uma das primeiras declarações de Paulo Camargo, CEO da Espaçolaser, em entrevista ao EXAME IN a respeito do balanço da companhia para os três primeiros meses do ano. A razão para o otimismo está refletida nos números: o lucro líquido da empresa aumentou 67% na comparação anual, para R$ 11 milhões, mantendo margem.
É um resultado que vem desde a primeira linha do balanço, com uma receita 15,4% maior do que a registrada no mesmo período de 2022, totalizando R$ 267,4 milhões -- um novo recorde entre os sucessivos gerados desde outubro de 2022. O faturamento da companhia reflete tanto as vendas realizadas neste início de ano quanto as do segundo semestre do ano passado: a Espaçolaser reconhece 90% do total pago pelos clientes em seis meses a partir do fechamento do contrato. As vendas mesmas lojas (SSS no jargão) também cresceram no período, saindo de um índice negativo em 2022 para 18,8% neste início de ano.
O aumento nas vendas, de modo geral, é parte do plano de reorganização promovido pela companhia desde a chegada de Camargo (ex-Arcos Dorados) ao comando da empresa. Para aumentar faturamento, a companhia segmentou mais os públicos para os quais oferece tratamentos, focando em personalização. Além disso, investiu em tecnologia, reduzindo de 14 para 4 os passos necessários para contratar um tratamento on-line e, por fim, focou em uma ação promocional para o consumidor com bolso mais apertado: clientes entram pagando R$ 100 por um procedimento simples e, posteriormente, são ofertados tratamentos mais longos e mais caros. "Hoje, a maior parte dos que adere ao preço baixo está pagando R$ 1.500 depois de 60 dias, o que melhora nosso tíquete médio. É um lead que se paga", diz o CEO. Olhando para o tíquete médio da companhia, a campanha teve um impacto de redução de 13% na cifra em relação ao mesmo período do ano passado.
A estratégia para aumentar receita é apenas um fator entre os cinco elencados pela companhia para voltar à rota de crescimento. Além dele, estão: a expansão via franquias, com baixo custo de capital -- indo na linha do que a empresa anunciou logo após a captação com dinheiro dos acionistas -- além de captura de sinergias pós-consolidação societária, reduzindo despesas e padronizando processos e políticas, otimizando headcount. Por fim, está na mira também o aprimoramento da governança corporativa e uma revisão constante de estrutura organizacional. Em relação a este último fator, a Espaçolaser reduziu a quantidade de diretores regionais (de 8 para 6) e de gerentes de campo (de 70 para 60).
Todos esses esforços trouxeram ganhos em eficiência operacional. O Ebitda ajustado por consolidação das franquias, por exclusão de custos e despesas não recorrentes e por eliminação de efeitos relacionados ao IFRS-16 cresceu em patamar superior ao da receita, com um incremento de 21,3%, para R$ 64,3 milhões. A margem Ebitda também subiu, cerca de um ponto percentual, para 24,1%, dentro desses mesmos parâmetros. Os resultados vêm principalmente pelo fato de a companhia operar principalmente com lojas próprias -- o mote do IPO da empresa e que, hoje, facilita a trajetória de reorganização da companhia a partir do foco maior em rentabilidade. Em números, das 764 lojas que a companhia tem, 573 são próprias.
De olho no futuro, entretanto, os planos da época da abertura de capital tiveram de mudar. Em meio ao ambiente de juros mais altos, a Espaçolaser prioriza, hoje, uma expansão no país via franquias. No primeiro trimestre, foram inauguradas 10, inaugurando a presença da companhia em 10 novas cidades -- um número que deve crescer de forma considerável nos próximos trimestres, segundo o CEO. Além disso, a empresa fechou 15 lojas próprias, redistribuindo vendas e clientes para lojas próximas. De acordo com o balanço, a medida foi tomada após uma análise detalhada do desempenho de cada loja, de olho na sustentabilidade financeira da companhia.
A sustentabilidade da Espaçolaser foi um dos pontos colocados em evidência quando a companhia fez o aumento de capital no fim do ano passado, de olho também em melhorar a relação entre operação e dívida financeira. Para lembrar, após o IPO, a companhia incorporou cerca de 350 CNPJs à sua estrutura própria. Hoje, mesmo com todas as melhorias operacionais conquistadas neste início de ano, a Espaçolaser ainda tem um patamar de endividamento alto, em cerca de 3,2 vezes dívida líquida/Ebitda. Os novos covenants da empresa, acordados em reunião com debenturistas no fim do ano passado, são de 3,5 vezes. Como parte do plano de reação da companhia, Camargo afirma que a empresa terá no segundo semestre uma discussão sobre a melhor estrutura de capital. "Estamos gerando Ebitda, mas está sendo consumido por despesa financeira. Vamos reavaliar isso a partir do meio do ano", diz.
Em geração de caixa, a companhia trouxe r$ 36,4 milhões, ante R$ 45,8 milhões no primeiro trimestre do ano passado, afetada principalmente pelo aumento do contas a receber, o que impactou o capital de giro. Na comparação com o quarto trimestre, a geração de caixa aumentou 23,9%, refletindo o controle do prazo médio de recebimento dos clientes. Hoje, para lembrar, as compras são parceladas por clientes em até 14 vezes -- um prazo que a empresa quer diminuir cada vez mais, dada a situação de juros altos.
Nos primeiros três meses do ano, a companhia conseguiu converter 53,8% do Ebitda em caixa, ante 86,3% há um ano. "Cada trimestre tem suas particularidades. Tivemos muitas mudanças, renegociação de debêntures com juros mais altos. É difícil comparar a empresa de hoje com a de um ano atrás. Mas consideramos mais de 50% um indicador positivo", diz o CEO.
Para o futuro, Camargo se mantém confiante na demanda do público brasileiro para o serviço prestado pela companhia. Hoje, nas contas da Espaçolaser, cabem pelo menos 3.000 lojas no país -- e a companhia ainda não chegou a 800. "Os dados do último estudo que a gente fez mostram que é uma oportunidade enorme. Hoje, 95% dos clientes ainda desconhecem os benefícios da depilação a laser. A gente é top of mind, tenho que somar 10 marcas para alcançar a gente", diz.
O cenário brasileiro é desafiador -- as provisões para inadimplência aumentaram 5% em relação ao mesmo trimestre do ano passado -- mas, mesmo com o ambiente de juros altos e o consumidor com menos crédito na mão, a Espaçolaser quer convencer de que há muito espaço para ser conquistado com suas lojas e tecnologia no país. Os primeiros resultados dessa nova estratégia já começaram a aparecer, mas ainda fica a dúvida de quanto mais os investidores vão precisar para voltarem a confiar no crescimento da companhia em meio a um ano tão duro.
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Karina Souza
Repórter Exame INFormada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.