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Cogna Educação (ex-Kroton)

Como prometido, Cogna volta ao crescimento de receita e lucro no 1º tri

Companhia ainda está menor que 2019, mas novo CEO cumpre meta de retomar expansão e voltar ao azul

Roberto Valério, novo CEO da Cogna: 2021 foi ano de voltar a crescer, após encolhimento em 2020, e agora é a vez das margens (Cogna/Divulgação)
Roberto Valério, novo CEO da Cogna: 2021 foi ano de voltar a crescer, após encolhimento em 2020, e agora é a vez das margens (Cogna/Divulgação)

Publicado em 12 de maio de 2022 às 19:55.

Última atualização em 12 de maio de 2022 às 21:32.

Em seu primeiro balanço como CEO da Cogna, Roberto Valério mostra que vai continuar a estratégia iniciada por Rodrigo Galindo, hoje presidente do conselho do grupo: investir em digitalização para aumentar o acesso à educação. O plano de investir cada vez mais em capex digital começa a se transformar em ganho de rentabilidade: a companhia conseguiu voltar a crescer e, depois de passar 2021 no vermelho, e a ter lucro. “O ano passado foi o de ampliar receita e, agora, queremos, além disso, aumentar a rentabilidade, o que já conseguimos no primeiro trimestre. Essa será a toada do ano de 2022”, diz Roberto Valério, CEO da Cogna, ao EXAME IN.

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Direto aos números, o balanço mostra que o lucro líquido subiu 58,7% na comparação anual, para R$ 55,2 milhões. O resultado reflete as melhorias operacionais realizadas no último ano, tornando a operação mais asset light e investindo no ensino digital e o ganho de receita. A companhia ressalta que o ganho também aconteceu em meio a um aumento de R$ 159 milhões em custo de dívidas, impulsionado pelo aumento da Selic na variação anual (2,5% ante 12,75%).

No período, a Cogna também melhorou margens. O Ebitda teve variação positiva tanto na comparação com o quarto trimestre do ano anterior (+9,9%) quanto no primeiro trimestre do ano passado (+27,2%), chegando aos R$ 428,5 milhões. A margem Ebitda também teve variação positiva na comparação com os dois períodos. Ante um ano atrás, o resultado foi 5,9 pontos percentuais maior, de 36,4%.

Contribui para o resultado a evolução de receita líquida da Cogna, que cresceu 6,4% na comparação anual, para R$ 1,1 bilhão. O aumento veio principalmente pela Vasta, que teve um incremento de R$ 99,7 milhões em receita na comparação anual, além da retomada financeira das escolas privadas. 

Apesar de voltar a crescer, a companhia continua menor do que era antes da pandemia. No primeiro trimestre de 2019, a Cogna teve receita de R$ 1,8 bilhão e margem Ebitda de quase 41%. O discurso de rentabilidade com modelo asset light se tornou mainstream no setor, que foi fortementemente afetado pela crise sanitária, tendo de se reinventar, e pela queda na renda do brasileiro. 

Questionado a respeito do tíquete menor do curso on-line, o executivo enfatiza que, apesar de — de fato — o preço dos cursos ser menor, a rentabilidade vem da estrutura feita para comportá-lo. “Estamos num business de atender muito aluno, levar educação de qualidade para o Brasil todo e gerar caixa. Se isso for fazer a empresa ficar menor momentaneamente, por causa do tíquete, não importa. O que importa é que na hora que a demanda atingir seu pico, vamos crescer sob custos que não crescem na mesma proporção”, diz o executivo. É a nova receita do setor.

É de olho nessa estratégia que a companhia mantém o capex, mas investindo em sistemas, tecnologia — e não mais em ativos físicos. Este ano, a Cogna começou um processo de modernização de sistemas legados, de olho em construir algo que possa unir todos os produtos numa única plataforma e maximizar a oportunidade de crescimento. 

Em relação aos resultados que essa nova estratégia já trouxe, o executivo destaca, durante a conversa, a geração de caixa operacional pós-capex da companhia nos primeiros três meses do ano: R$ 178,3 milhões, um avanço de 190% sobre o mesmo período do ano anterior. “O resumo é que voltamos a crescer em receita e gerar muito caixa, ou seja, rentabilidade real”, diz Valério.

Vasta: rentabilidade com mais serviços e escolas

O pulo do gato da vertical — listada na Nasdaq e avaliada em US$ 330 milhões — é a plataforma Plural, a maior digital em educação básica no Brasil, com cinco vezes mais visitantes do que a soma de todos os outros concorrentes. “Nós já tínhamos esse conceito mesmo antes da pandemia. Em 2020, nossa rede era de 4.200 escolas e hoje temos 5.300. Estamos vendo alunos voltando para escolas particulares e investimos em uma ampla gama de produtos aos nossos clientes, que já está dando retorno”, diz Valério. Para ficar claro, a vertical tem três serviços essenciais: sistemas de ensino (metodologias de ensino tradicional, como Anglo, por exemplo), serviços complementares (cursos de robótica, programação, etc) e realizou recentemente a aquisição de uma startup que oferece sistemas de gestão (ERP) para colégios para completar a plataforma Plurall, de serviços aos colégios. 

Todos esses fatores permitiram que a Vasta superasse o guidance de R$ 370 milhões em receita para o trimestre — o valor chegou a R$ 381 milhões. E, combinados a um ciclo comercial forte no primeiro trimestre e à revisão dos custos e despesas, permitiram que a vertical tivesse o dobro de Ebitda ajustado, com aumento de margem de 12,4 pontos percentuais. 

Kroton: plano é crescer receita em 2023

Olhando para a Kroton, que representa aproximadamente 70% do grupo, a companhia ainda não está crescendo em receita na comparação com o mesmo período do ano anterior, assim como já aconteceu em trimestres anteriores. Esse é o grande desafio do negócio. Apesar disso, Valério acredita que a operação está perto de alcançar o turning point de receita. A sangria já foi quase estancada. No primeiro trimestre do ano passado, a queda na comparação anual foi de 19,2% e agora, de janeiro a março, a redução foi de 4,9%. 

“Tem mudança de base, alunos do presencial se formando e estamos colocando mais alunos do digital, que têm tíquete menor. O importante é que a velocidade de perda de receita está diminuindo. Como esse é um indicador que mostra melhora trimestre após trimestre e a nossa captação é muito boa, nossa projeção é que a Kroton volte a crescer em receita em 2023”, diz o executivo.

Entre os fatores que contribuem para o otimismo, estão: a nova safra de captação de calouros, que teve crescimento de 6,3% em receita, e a redução das taxas de evasão da base de veteranos. Além, é claro, do óbvio: a empresa chegou ao milhão de alunos pela primeira vez desde 2015 — época em que incentivos do governo como o FIES ainda ajudavam a formar a base, além do financiamento privado da Kroton, descontinuado em 2020 para novos alunos. 

A vertical chegou ao quinto trimestre seguido de crescimento de margem Ebitda recorrente, o que é atribuído pelo CEO à reestruturação conduzida no último ano, de olho em reduzir unidades próprias, aumentas polos parceiros e redução das despesas em marketing — estas últimas geraram uma economia de R$ 100 milhões, segundo Valério. No período, a margem Ebitda registrou avanço de 430 pontos-base, chegando a 33,9%.

“Apesar de a gente ainda perder receita, de a inflação pressionar os custos e de a volta às aulas presenciais gerar mais gastos com limpeza, ar condicionado e manutenção em geral, crescemos em margem Ebitda. A gente sente que a reestruturação do passado colocou a empresa em outro patamar. Fechamos 50 campi entre 2020 e 2021, o que trouxe muita eficiência operacional. Além disso, a inadimplência está em patamares bastante saudáveis, o que também beneficia a rentabilidade de Kroton”, diz Valério. 

A KrotonMed contribui para esse cenário e teve a primeira divulgação de resultados separada da Kroton em geral — a exemplo do que outras empresas do setor também fazem. O guidance para o ano é de uma receita líquida de R$ 482 milhões para a vertical, encerrando o ano com 636 vagas em medicina. 

Para atingir as expectativas, a empresa seguirá em uma estratégia de avanço regional. Por enquanto, campus novos Maranhão (em Bacabal e Codó) já foram inaugurados, sempre seguindo a estratégia definida pelo Mais Médicos. 

De olho no futuro

Diante de um Brasil com inflação em patamar recorde, o CEO da Cogna acredita que será possível manter a trajetória de crescimento vista no primeiro trimestre ao longo de todo o ano. “A gente trabalha com a perspectiva de que a inflação não vai arrefecer tão cedo”, diz Valério. O executivo ressalta que a estratégia de ampliação está baseada em ampliação de produtos e de rede de distribuição. E cita como exemplo o fato de que tinha 1.500 polos de educação à distância em 2020 — algo que levou 15 anos para acontecer — e no ano passado a Cogna conseguiu inaugurar 1.000. “O Brasil é muito grande e estamos apenas em 2.500 municípios. Esse com certeza é um vetor de crescimento”, diz.

Em relação aos produtos, a atenção à demanda dos alunos fez com que a companhia ampliasse a quantidade de cursos ofertados, o que também traz mais eficiência. “Se antes alguém que queria trabalhar com marketing digital tinha à disposição apenas o curso de publicidade ou de administração, hoje nós oferecemos, além destes, marketing e marketing digital. Aumentamos a quantidade de pessoas atendidas e resolvemos a dor e necessidade delas”, diz Valério.

Tudo isso, é claro, sem mexer na alavancagem da companhia. Hoje, a relação entre dívida líquida e Ebitda está em 2,15x (ligeiramente abaixo do 4° trimestre, em que estava em 2,16x) e a meta do novo CEO é não passar de 2,5x, o que ele acredita que seja plenamente possível. A receita estará em usar o caixa para abater dívidas, já que a despesa financeira ficou mais pesada com o aumento da Selic. 

Hoje, a dívida bruta da companhia está em R$ 7 bilhões e o caixa, em R$ 4 bilhões (o que dá uma dívida líquida de R$ 3 bilhões). Em agosto, a Cogna terá um vencimento de R$ 2 bilhões e o CEO garante que a companhia vai usar caixa para abatê-la, sem rolagem de dívida. “Não reduz alavancagem, mas é o melhor que podemos fazer nese momento”, diz Valério.

Além disso, a empresa abriu um programa de recompra de ações de até R$ 250 milhões, por avaliar que o preço do papel está bastante depreciado — um comportamento de mercado bastante comum neste início de 2022. 

“Não vamos fazer nada muito transformacional em termos de aquisições esse ano. Estamos de olho em ativos que possam, por exemplo, complementar o portfólio da Vasta nas escolas, é claro, mas nosso foco é usar o caixa para pagar dívidas e fazer recompra em 2022”, diz Valério. 

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