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Startup que prevê quando máquinas vão falhar recebe aporte de R$ 80 mi

Empresa fundada em 2019 prevê falha de máquinas usando algoritmos e já tem 200 clientes; aporte é o primeiro do fundo de venture capital Next47 na América Latina

Leonardo Vieira (CCO), Igor Marinelli (CEO), Gabriel Lameirinhas (COO) e Bruno Felix (CTO), da Tractian: fundada em 2019, a empresa usa inteligência artificial para identificar máquinas industriais que precisam de ajustes (Vinicius Maciel/Tractian/Divulgação)
Leonardo Vieira (CCO), Igor Marinelli (CEO), Gabriel Lameirinhas (COO) e Bruno Felix (CTO), da Tractian: fundada em 2019, a empresa usa inteligência artificial para identificar máquinas industriais que precisam de ajustes (Vinicius Maciel/Tractian/Divulgação)
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Karina Souza

17 de maio de 2022 às 06:00

Falar em startups, tecnologia e inovação pode ser sinônimo de desbravar “novos mundos” dentro da realidade atual — metaverso e criptomoedas que o digam. Mas também pode ser sinônimo de usar a tecnologia para resolver velhos e conhecidos problemas. No segundo grupo, está a Tractian, uma startup fundada em 2019 por dois executivos jovens e que se dedica a resolver um problema que atinge toda a indústria: saber quando as máquinas vão falhar e facilitar o calendário de manutenção.

Mesmo com pouco tempo de vida, a empresa já conquistou 200 clientes no Brasil e em outros países da América Latina. Agora, levanta R$ 80 milhões em uma rodada Series A junto ao fundo de venture capital Next47 -- o primeiro aporte do fundo em uma companhia da América Latina --, ao fundo de Corporate Venture Capital da Totvs. e a Gilberto Mautner, fundador da Locaweb. O foco com os novos recursos é óbvio, mas nem por isso simples: crescer ainda mais.

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Hoje, além do Brasil, a companhia tem clientes e um escritório também no México, além de operação comercial (sem escritório) na Argentina e Paraguai. Estes dois últimos são um reflexo de outras plantas de clientes atendidos no Brasil. Daqui para frente, o foco dos novos recursos estará em aumentar a presença por aqui e no México, além de desenvolver novas linhas de produtos e contratar pessoas. Falando de forma pragmática, a meta é virar um “sistema operacional da indústria”.

Para estruturar esse plano, além do aporte atual, a startup já havia captado R$ 20 milhões em uma rodada com o fundo de venture capital DGF e com a Citrino, corporate venture capital as a service.  Questionados sobre novas rodadas no futuro, executivos apontam que daqui 18 meses devem voltar a buscar recursos no mercado.

Os números de receita e lucro ainda não são divulgados pela Tractian, mas os fundadores apontam uma retenção de receita líquida de 150%. Ou seja, em um mesmo cliente, um dólar vira 1,50 dentro de um ano. Entre quem já usa os serviços da startup, estão nomes como Danone, John Deere, Embraer, Bosch e Hyundai.

Trata-se de um mercado cada vez mais disputado, por entrar dentro do que o setor chama de "indústria 4.0"(ou digitalização da indústria). Há duas semanas, para citar um exemplo, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) anunciou o aporte de R$ 400 milhões para projetos de inovação desenvolvidos pelo Senai, em parceria com a empresa norte-americana Rockwell. Ou seja, mercado a ser explorado, existe. Ainda nas contas da CNI, o mercado de manutenção movimenta R$ 120 bilhões por ano no Brasil -- e a busca por eficiência deve ocupar um papel central dos gastos das empresas.

Além de pegar parte desse share, outra motivação para escolher atuar com a manutenção na hora de empreender foi a de estar perto de onde a ação acontece no dia a dia da indústria. "Quebrou, tem que consertar. É uma necessidade muito direta e que reflete a forma como nós trabalhamos dentro da empresa também. Queremos ajudar quem está na linha de frente da produção”, diz Gabriel Lameirinhas, Co-Ceo da Tractian, ao EXAME IN.

É uma vontade que vem desde 2015, quando Gabriel e Igor Marinelli, também Co-CEO da Tractian, se conheceram na faculdade. Ambos são engenheiros de software e já pensavam em empreender -- nesse objetivo, fundaram duas empresas antes de começar o negócio atual.

A ideia veio quando trabalhavam na indústria de papel. No dia a dia do trabalho, passaram a procurar uma solução para a manutenção de máquinas: queriam uma solução capaz de prever quando e como iria falhar. Em busca dessa oferta, contataram diferentes fornecedores de máquinas, mas não encontraram uma oferta que lhes agradasse. Unindo a fome com a vontade de comer, começaram a empresa, com a missão principal de substituir todas as planilhas usadas por quem trabalha na manutenção por um único produto, fácil de usar.

“Já tínhamos fundado empresas antes e sabíamos que uma parceria entre nós teria tudo para dar certo. Focamos em aspectos diferentes do negócio. Eu sou muito bom em dar o pontapé e começar um projeto, vamos dizer, ‘ir do zero ao um’ e o Gabriel é o cara que leva ‘do um ao cem’”, diz Marinelli.

E então, há três anos, nasceu a Tractian. Com um investimento inicial de R$ 200 mil “mais os dois carros” dos executivos, a companhia surgiu focada em solucionar o problema da manutenção de máquinas. Num primeiro momento, esse dinheiro foi usado para criar um software muito eficiente de predição. O modelo, que conta com inteligência artificial, foi 100% desenvolvido do zero e, inclusive, já foi patenteado.

Pouco tempo depois, os executivos perceberam que era necessário, além do software, ter um hardware que pudesse ser facilmente instalado e cujos sensores fossem afiados o suficiente para serem confiáveis. Assim foi feito, com um investimento inicial de Michael Lehmann, ex-CFO da Volkswagen. Hoje, software e hardware são fabricados pela Tractian.

“A nossa tese de unir ambos desde o início se provou correta e funcionou muito bem. Um ponto que fez toda a diferença, por exemplo, foi colocar chips multioperadora dentro dos aparelhos para que funcionassem sem wi-fi, facilitando a vida da manutenção”, diz Gabriel.

Questionados a respeito dos desafios que a indústria, em geral, enfrenta para fabricar itens diante da escassez de semicondutores, os executivos ressaltam que o impacto foi reduzido porque têm 100% da produção local, feita no Brasil — e porque contam com uma profissional de supply chain bastante eficiente. De todo modo, a atenção à cadeia global de fornecimento desses componentes se mantém. “Curiosamente, o fato de que fabricamos o hardware localmente é que chamou a atenção dos investidores, nos diferenciou em relação a ter só o software”, diz Marinelli.

Para contextualizar: a indústria automotiva e de fabricação de aparelhos eletrônicos ainda não se recompôs totalmente da crise da falta de chips originada na pandemia. O resultado é um movimento de trazer as indústrias para mais perto de casa, em vez de fabricar somente na Ásia.

Ao trazer tudo para dentro de casa, a Tractian quer mostrar, mais uma vez, que já está à frente dessa tendência.

 

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