TIM eleva dividendos com avanço de sinergias da Oi
Empresa eleva remuneração aos acionistas de R$ 2,3 bi para R$ 2,9 bi — e sinaliza que esse é o novo piso para os próximos anos
Natalia Viri
Editora do EXAME IN
Publicado em 7 de novembro de 2023 às 07:59.
Última atualização em 27 de dezembro de 2023 às 17:37.
NOVA YORK — Numa trajetória de ganhos de eficiência e captura de sinergias mais rápidas que o esperado na aquisição de ativos da Oi, a TIM acaba de anunciar a mudança no patamar de remuneração dos acionistas. A companhia vai aumentar a distribuição de dividendos de um piso de R$ 2,3 bilhões sinalizado no começo do ano para pelo menos R$ 2,9 bilhões ainda em 2023.
“Esse é o novo patamar para os próximos anos, que vem na esteira da trajetória contínua do aumento do nosso fluxo de caixa livre”, afirma o CEO Alberto Griselli. O novo guidance implica um dividend yield de 8%, o maior já distribuído pela companhia de telecomunicações.
No terceiro trimestre, a TIM reportou um lucro líquido de R$ 724 milhões, alta de 53% em relação ao mesmo período do ano passado. A receita aumentou 7,9%, para R$ 5,9 bilhões, indicando um crescimento orgânico saudável no primeiro trimestre “limpo” da companhia, sem considerar o efeito da aquisição dos ativos da Oi Móvel.
A companhia comprou uma ampla base de ativos e clientes da concorrente no segundo trimestre do ano passado e vinha mostrando um aumento na casa de 20% da receita na comparação anual desde então.
Havia uma preocupação no mercado sobre qual seria o novo patamar de crescimento da receita uma vez que a base de clientes da Oi fosse totalmente incorporada. O consenso de mercado previa um crescimento mais baixo, na casa dos 5% a 6%.
Com uma agenda intensa de captura de eficiência, a TIM vem conseguindo também entregar aumento de rentabilidade. A margem EBITDA atingiu 49,7%, um aumento de 1,7 ponto percentual na comparação anual e o maior patamar para um terceiro trimestre na história da companhia. O EBITDA cresceu 12%, chegando a R$ 3 bilhões.
“Temos ações em todos os níveis para aumentar a nossa produtividade”, diz Griselli. Na linha de despesas operacionais, a empresa vem conseguindo diminuir o custo de serviço para os clientes que vieram da Oi, com uma estratégia mais apoiada em canais digitais e menos dos canais físicos tanto compras, pagamentos e recargas. “Com isso, dá para crescermos de forma mais leve.”
Outra grande fonte de sinergias foi o descomissionamento das torres vindas da Oi. A aquisição trouxe 7,2 mil torres, e tinha a previsão de descomissionar 3,5 mil até o fim do ano, por conta das sobreposições com a sua própria rede. Até o momento, foram encerradas as operações de 4,2 mil delas. “Parece uma operação simples, mas não é, tem um grande desafio de execução e que mostramos que foi superado”.
O plano é ficar com apenas 2,8 mil delas, reduzindo os custos de propriedade ou leasing desses ativos.
“Estamos reafirmando nosso compromisso em utilizar a expansão do fluxo de caixa livre para financiar iniciativas de crescimento da empresa, além do mobile, e ao mesmo tempo retomar a remuneração do acionista”, afirma Griselli. O executivo está em Nova York para uma cerimônia de comemoração dos 25 anos de dupla listagem da companhia na B3 e da Nyse e para o Investor Day da companhia. Mais de 90% das ações em circulação da TIM estão nas mãos de investidores estrangeiros. Neste ano, os papéis da TIM acumulam alta de mais de 35%.
No topo do guidance
Segundo Griselli, a companhia está no intervalo mais alto do intervalo de R$ 8,7 bilhões a R$ 11,7 bilhões de sinergias anunciadas na aquisição dos ativos da Oi. No começo de outubro, a TIM conseguiu reaver R$ 317 milhões referentes a um acordo sobre o fechamento do valor da compra que estava em disputa arbitral. O valor já foi recebido pela companhia, mas ainda não se refletiu no balanço, devendo ser incorporado apenas no quarto trimestre.
Além disso, há mais R$ 300 milhões extras referentes ao ágio gerado pela aquisição. A previsão inicial era de que esse valor ficaria em R$ 700 milhões, mas após a consolidação dos ativos, a companhia conseguiu extrair uma vantagem fiscal de R$ 1 bilhão na transação.
Para além dos one-offs, após anos de guerras de preços, o executivo vê um ambiente competitivo mais saudável após a venda de ativos da Oi, que entrou em recuperação judicial e teve seus ativos divididos num leilão entre as três principais teles do Brasil, que incluem também Vivo e Claro.
“Hoje o consumidor está muito em busca da qualidade do serviço, o que nos permite implementar uma iniciativa de ‘more for more’, ou seja aumento de preços mediante a oferta de novos produtos e serviços”, afirma.
Em outubro, a companhia conseguiu fazer um aumento de preços no seu pacote de pré-pago – num movimento inédito no passado recente. A TIM vem trabalhando para ofertas serviços extras para os clientes associados ao pacote de dados.
Hoje, no Investor Day com investidores estrangeiros a empresa vai anunciar uma parceria com a Ambev, pela qual consumidores que fizerem recarga no celular terão um cashback de R$ 15 no Zé Delivery – limitado a uma oferta por mês. Atualmente, clientes pré-pagos já tem acesso gratuito ao Prime Video, da Amazon.
‘Oceano azul’ no B2B
Para além do mobile, principal produto e cash cow da empresa, a TIM vê uma avenida de crescimento no mercado de B2B, na oferta de serviços para grandes empresas. Essa vertical de novos negócios, que foi lançada oficialmente há cerca de 18 meses já gerou uma receita contratada de R$ 300 milhões desde então, segundo números que serão apresentados hoje no Investor Day da companhia.
“Como operadoras móveis, conseguimos atingir quase a totalidade da população, mas um pedaço bastante reduzido do território brasileiro”, diz o CEO da companhia. “Há um mercado endereçável muito grande a ser desbravado nesse gap.”
A TIM enxerga um grande potencial principalmente em três setores: utilities, agronegócio, infraestrutura. Nesse último segmento, a companhia já levou um contrato com a CCR para oferecer cobertura de sinal móvel na Dutra e na Rio-Santos, para cobrir os ‘pontos cegos’ que costumam acontecer mesmo nas grandes estradas do país. Nesse mesmo sentido, já foram fechados contratos com a Ecorodovias, EPR e Grupo Way. Hoje, a TIM já tem contrato para cobrir 4,5 mil quilômetros em rodovias – com um mercado endereçável que chega a mais de 60 mil quilômetros.
As oportunidades são semelhantes no agronegócio, que vem usando a conectividade para fazer uso de sensores e máquinas inteligentes como forma de aumentar a produtividade no campo. Atualmente, a TIM já cobre 16 milhões de hectares – uma área do tamanho do estado da Flórida --, de um mercado total de 300 milhões de hectares, equivalentes a uma Índia, aponta Griselli.
Em utilities, a aposta é em parceiras público-privadas com prefeituras para iluminação pública, que incluem o uso de dados para calibrar a necessidade de luz – gerando economias para o ente público e o usuário. A TIM já tem uma parceria com a Engie e deve anunciar hoje uma outra como a Enel para participar dos processos. Aqui, de novo, uma grande oportunidade: a companhia atua em cerca de 15 mil postes de iluminação, num mercado total de mais de 15 milhões no Brasil.
“Fomos pioneiros nessa frente, começamos mais rápido que nossos competidores. Então, achamos que temos uma potencialidade de capitalizar em cima de um grande oceano azul em termos de mercado endereçável”, explica Griselli.
Em contraposição, o executivo ainda enxerga um mar vermelho na banda larga. A TIM ainda é pequena nesse setor, com um market share de apenas 2%, mas não vê um momento propício para a expansão por conta da competição agressiva em preço das pequenas provedoras regionais, os ISPs.
“A consolidação nesse mercado ainda está muito restrita às micro ISPs. Temos a credibilidade para crescer nesse setor, mas as condições ainda não são favoráveis em termos de rentabilidade”, afirma o CEO da TIM, sem descartar que a companhia possa partir para aquisições em algum momento. “Esse momento, no entanto, ainda não chegou”.
(A repórter viajou a convite da TIM)
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Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.