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Saverin, cofundador do Facebook, triplica aposta na startup latina Yalo

Primeira e única investida da gestora do investidor na América Latina, a Yalo acaba de captar US$ 50 milhões em sua rodada série C

Eduardo Saverin, investidor e cofundador do Facebook: sua gestora, a B Capital Group, aposta que a Yalo tem potencial para se tornar uma plataforma de software empresarial global
 (Wei Leng Tay/Bloomberg/Getty Images)
Eduardo Saverin, investidor e cofundador do Facebook: sua gestora, a B Capital Group, aposta que a Yalo tem potencial para se tornar uma plataforma de software empresarial global (Wei Leng Tay/Bloomberg/Getty Images)

Publicado em 26 de maio de 2021 às 08:00.

Última atualização em 26 de maio de 2021 às 08:27.

O bilionário brasileiro Eduardo Saverin, um dos cofundadores do Facebook ao lado de Mark Zuckerberg, reforçou sua aposta na startup mexicana Yalo, a primeira e única empresa da América Latina a receber um investimento do seu fundo, o B Capital Group. Depois de ter liderado a rodada série B da companhia no ano passado, a gestora anuncia nesta quarta-feira, 26, ter sido líder novamente na rodada série C de US$ 50 milhões da startup.

Fundada no méxico pelo empreendedor Javier Mata, a Yalo (antes Yalochat) é especializada em um mercado batizado de chat commerce. Na prática, são vendas e atendimentos online por aplicativos de mensagem, como WhatsApp, Telegram e Messenger. Segundo o fundador, a ideia é levar as empresas para o canal em que o consumidor quer ser atendido.

O Brasil, por ser um dos líderes mundiais em uso de redes sociais, rapidamente se tornou um mercado importante para startup, que tem operações em toda a América Latina, Estados Unidos, Índia e Sudeste Asiático. Entre seus mais de 1.000 clientes em 41 países, estão multinacionais como Coca-Cola, Nestlé, Unilever e Walmart.

Em entrevista exclusiva ao EXAME IN, no Brasil, Saverin disse que acredita que a solução criada por Mata e seu time de 250 pessoas tem grandes chances de colocar a América Latina no mapa das grandes fornecedoras de software globais.

"A região tem grandes exemplos de sucesso, como Rappi, Loft e Nubank, mas como o mercado local é grande o suficiente elas ainda não precisaram ganhar o mundo. No caso da Yalo, como suas empresas clientes estão são indústrias e empresas de bens de consumo globais, elas acabam levando a startup para outros países. Assim, a empresa só abre um novo mercado quando já existe demanda. É parecido com o que o Facebook fazia no começo ao abrir a rede para novas universidades que já tinham um volume significativo de usuários cadastrados", diz o investidor. 

É justamente na internacionalização do negócio que o B Capital Group pode ajudar a Yalo. A gestora de venture capital, fundada por Saverin com o sócio Raj Ganguly (ex-veterano da Bain Capital) em 2015, tem mais de US$ 1,9 bilhões de ativos sob gestão e busca negócios voltados para o mercado corporativo nas áreas de saúde, finanças e digitalização de indústrias ao redor do mundo. No total, são quase 50 startups no portfólio, a maior parte delas sediada em países do sudeste asiático, Europa e Estados Unidos.

“Gosto de estar engajado e perto dos investimentos que fazemos, mas empreendedores como o Javier quase não precisam de ajuda no dia a dia. No caso da Yalo, ajudamos com a expansão internacional e a aceleração das vendas”, diz Saverin, que vive em Singapura desde 2009.

A parceria que a B Capital tem com a consultoria internacional Boston Consulting Group também é um diferencial para as investidas. De acordo com Mata, o apoio dos consultores ajuda grandes clientes em potencial a entender como podem usar a Yalo no seu processo de digitalização. “Ir até as companhias com a B Capital e o BCG nos ajuda a mostrar o potencial da nossa tecnologia para os negócios”, diz o fundador da startup.

Javier Mata Yalo

Javier Mata, fundador da Yalo: empresa tem mais de 1.000 empresas clientes em 41 países (Yalo)

Mas desde o começo da pandemia, mostrar aos clientes a importância de um canal de vendas online tem sido um trabalho mais fácil para a empresa. Com a necessidade de distanciamento social, marcas do mundo todo precisaram buscar formas de se conectar com os clientes online para continuar operando. A Coca-Cola, por exemplo, passou a usar a solução da empresa para vender bebidas para mais de 500.000 lojas no Brasil via WhatsApp e teve um crescimento de 20% no volume total de vendas.

Impulsionada pelo sucesso dos clientes, a Yalo teve alta de 120% na sua receita em 2020 na comparação com o ano anterior. Agora, com os novos US$ 50 milhões em caixa, a startup quer aprofundar sua presença na América Latina e no Sudeste Asiático, assim como desenvolver mais soluções dentro da sua ferramenta. A ambição da empresa é oferecer aos clientes mais opções para trabalhar com marketing digital e pagamentos dentro dos apps de conversa.

O espaço para crescer é enorme. Segundo estudo do BCG, o mercado de chat commerce já movimenta US$ 35 bilhões por ano nos mercados emergentes e pode chegar a US$ 130 bilhões até 2025. Segundo Mata, diante desse cenário, a companhia não corre risco de "morrer de fome", mas precisa estar atenta para não ter "uma indigestão". Com tantas oportunidades trazidas pelo aquecimento do mercado de e-commerce no mundo todo, o fundador está focado em manter o negócio atuando nos setores em que se especializou: indústria, varejo, bens de consumo e serviços financeiros. “O desafio é manter o foco e continuar entregando bons resultados para os clientes”, afirma o empreendedor.

Para Saverin, a história da Yalo traz motivação para buscar outros investimentos na América Latina para o portfólio da B Capital. O brasileiro garante que tem interesse em investir na comunidade local e afirma que está de portas abertas para receber empreendedores que estão pensando em criar negócios a partir da região para o mundo. “Capital hoje está bastante disponível no mercado, mas nós realmente podemos ajudar com expansão internacional. O que buscamos são pessoas apaixonadas pelo desafio de transformar indústrias enormes”, diz o investidor.

Bilionário antes dos 30

Ex-colega de faculdade de Mark Zuckerberg na Universidade Harvard, Eduardo Saverin foi um dos primeiros a trabalhar na rede social criada em 2004 e inicialmente batizada de “Thefacebook”. Por ter muita habilidade com matemática e finanças, Saverin ficou responsável pela gestão financeira da plataforma em seus primeiros anos. O primeiro endereço físico do Facebook era o da casa dos pais do brasileiro, na Flórida, quando abertura da empresa foi formalizada. Ele também ajudava Zuckerberg a trazer receitas para plataforma, fazendo contatos com anunciantes interessados em fazer campanhas publicitárias.

Com o crescimento da rede social, Zuckerberg e os demais colegas decidiram se mudar para Palo Alto, na Califórnia, para ficar mais próximo das grandes empresas de tecnologia e investidores. Saverin, no entanto, decidiu ficar em Boston para terminar a faculdade e continuou trabalhando remotamente fazendo a gestão financeira e buscando anunciantes. Mas a distância prejudicou o relacionamento e desavenças entre os fundadores foram crescendo, até que Saverin se afastou do negócio por discordar de algumas decisões.

Anos mais tarde, Saverin e Zuckerberg disputaram na Justiça qual era a participação acionária do brasileiro no capital Facebook (ele havia investido 19.000 dólares no site, no primeiro ano, mesmo valor investido por Zuckerberg). A disputa terminou em 2009 com um acordo entre os dois ex-colegas. O Facebook reconheceu Saverin como cofundador e brasileiro manteve uma participação de 2% na empresa. Sua fortuna é avaliada hoje em US$ 18 bilhões (em grande parte em razão das ações do Facebook), o que faz dele o segundo brasileiro mais rico do mundo, atrás somente do empresário Jorge Paulo Lemman, segundo a revista Forbes.

Nascido em São Paulo em 1982, Saverin se mudou para os Estados Unidos com os pais quando tinha 10 anos e cresceu em Miami, na Flórida. Depois de se formar em Harvard, com uma graduação em Economia, ele se mudou em 2009 para Singapura, onde vive até hoje. Em 2011, ele renunciou à cidadania americana, o que levou a críticas na época de que ele estava buscando fugir dos impostos cobrados no país (o que ele sempre negou).

No ano de 2015, ele fundou o fundo de capital de risco B Capital junto com Raj Ganguly, outro ex-colega de Harvard, para investir em empresas de tecnologia. O primeiro fundo montado por eles captou 320 milhões de dólares – sendo uma parte dos recursos do próprio brasileiro.

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