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Compliance

Quem gosta de formulários? Com nova aquisição, o próximo alvo da Sinqia é o compliance

Companhia de tecnologia faz 24ª compra de sua história e reforça pilar inorgânico como estratégia de crescimento

Ricardo Pacheco, da Sinqia: startup adquirida terá atuação expandida a áreas que vão além de fundos de investimento (Sinqia/Divulgação)
Ricardo Pacheco, da Sinqia: startup adquirida terá atuação expandida a áreas que vão além de fundos de investimento (Sinqia/Divulgação)
Karina Souza

Karina Souza

7 de março de 2023 às 18:46

“Aqui, um mais um vai ser sempre maior do que dois”. A frase é de Ricardo Pacheco, diretor-executivo da divisão de Fundos da Sinqia, dita ao EXAME IN. Resume a estratégia de trabalho da empresa em um conjunto de palavras que dificilmente poderia ser mais claro. A companhia fez 14 aquisições nos últimos cinco anos (das 23 desde 2005) e mostra que não está nem perto de perder o apetite por consolidação. Concluiu mais uma compra nesta terça-feira, a da Compliasset, de digitalização de processos de compliance para fundos de investimento, por R$ 18 milhões. A cifra equivale a 5 vezes a receita da startup e corresponde a 60% do capital social (com opção de adquirir os demais 40% até 2025).

A matemática a que o executivo se refere na frase que abre esta matéria pode ser aplicada na prática com o que vai se desenrolar a partir dessa aquisição: mais do que representar a incorporação de uma startup por uma grande companhia, se traduz em um universo de possibilidades a serem exploradas daqui para frente. A nova empresa deve entrar para o conjunto de serviços da Sinqia Digital,  criada para oferecer soluções de tecnologia para diferentes tipos de clientes (bancos, fundos, previdência e consórcios).

O ‘pulo do gato’ que fez a startup de Compliance se unir a esse conjunto de serviços tem a ver com o sucesso da plataforma criada por ela e do potencial de adaptações que apresenta. Se, hoje, a Compliasset atendia principalmente fundos de investimento, a Sinqia vê potencial para estender esse grupo aos mais de 700 clientes que tem hoje. Soma-se a isso o fato de que a startup passava por um bom momento financeiro, já sendo lucrativa e com indicadores de rentabilidade superiores inclusive aos da própria empresa-mãe.

No detalhe, a Compliasset tinha 237 clientes antes de se unir à Sinqia, formados principalmente por family offices e fundos de investimento. A principal oferta da empresa é uma plataforma que simplifica e automatiza o cumprimento de regras por parte desses agentes. “Pense que uma gestora tem uma certificação que tem que ser renovada a cada período de tempo, por exemplo, ou em todos os formulários que a legislação pede para que fundos de investimento sigam. A Compliasset reúne todos esses documentos em um único local, no formato de checklist, e emite alertas a cada vez que um prazo está vencendo. Além de estar constantemente atualizada com as novas regras de Anbima e CVM”, afirma Pacheco, ao Exame IN.

Olhando para o nicho em que a Compliasset já tem mais familiaridade, uma oportunidade de aumentar o número de clientes surge a partir, justamente, de uma mudança promovida pela CVM recentemente. É a regulamentação nº 175, também conhecida como o novo Marco Regulatório dos Fundos de Investimento, que traz um conjunto de novas responsabilidades para gestores e que, na visão da Sinqia, aumenta a necessidade de atenção ao preencher formulários. 

Mas, a maior oportunidade de crescimento está nos ganhos que a nova plataforma pode oferecer ao se unir com o que a Sinqia Digital já oferece e estender a quantidade de serviços a outros nichos. Pacheco esclarece que o de previdência será o primeiro a ter a plataforma adaptada, mas que há potencial a ser explorado até mesmo nos bancos. 

“Hoje, não existe uma única ferramenta que envolva todas as regulações de CVM, de Bacen, Susep, Abrapp, Anbima. Minha percepção é de que a empresa tem oportunidades a serem exploradas em todas as áreas do mercado financeiro”, afirma.

Quanto esse potencial significa no balanço da Sinqia? A empresa não abre. Nem valores relacionados ao futuro da Compliasset, nem quanto a Sinqia Digital fatura.  Ainda assim, é possível notar a trajetória de crescimento da companhia ao longo do último ano. Nos doze meses encerrados em setembro de 2022, a receita líquida cresceu 81%, fechando o período em R$ 554,6 milhões. Desse total, 83,5% é formado por receita recorrente (dado que a maior parte dos serviços da empresa é prestada no formato de Software-as-a-Service).

Mais do que aumentar receita, a companhia também cresceu em rentabilidade. A margem bruta passou de 38,9% para 40,9%, mesmo com aquisições realizadas no período. O lucro bruto cresceu 90% na comparação anual (doze meses encerrados em setembro). O Ebitda também aumentou em 132%, fechando o período em R$ 137,9 milhões, com uma margem Ebitda mais de 5 pontos percentuais maior. Os efeitos se estendem até à última linha do balanço, mesmo com um serviço da dívida duas vezes maior do que o do ano anterior: o lucro líquido cresceu 144% sob a mesma base de comparação.

Mais perto da Sinqia do futuro

A nova aquisição reforça pilares importantes da estratégia da Sinqia, valorizados por quem cobre a empresa: a capacidade de se manter ‘antenada’ às novas necessidades dos clientes e de criar novas oportunidades de receita a partir de aquisições a preços razoáveis. A agenda acelerada de aquisições é vista de forma benéfica, dado que o nicho que a companhia atua em sua forma mais tradicional é de difícil competição, por ser altamente regulado e altamente especializado. Resumo da ópera: para a empresa crescer, somente de forma orgânica, em seu business mais antigo, tem de convencer futuros clientes a trocarem a solução — um comportamento de mercado muito diferente quando comparado ao de outras provedoras de software, como a Linx, que atua no varejo.

O que não quer dizer que a companhia tenha deixado de lado a capacidade de crescer organicamente. Um relatório publicado pelo Credit Suisse no fim do ano passado aponta que a Sinqia espera crescimento orgânico anual de 20% nos próximos três a cinco anos (um percentual ajustado pelo banco em aproximadamente 15%). Depois de tantas aquisições, a companhia vê espaço para consolidar as empresas de alta margem que adquiriu — um comportamento que se repete com a Compliasset  — explorando ganhos de eficiência. 

Nesse sentido, as unidades de Previdência e Consórcio apresentam as maiores oportunidades em curto prazo, segundo Filipe Bodenmuller, diretor de estratégia e M&A da Sinqia. Um passo ainda não vislumbrado dentro da Sinqia Digital, por ser uma unidade mais recente e cross-categorias.

“A Sinqia Digital é composta de soluções que são horizontais e complementares, ou seja: se aplicam a todas as nossas unidades de negócio e as completam. Quando olhamos a Compliasset, pelo fato dela ser altamente complementar e não apresentar sobreposição com os produtos atuais da Sinqia, não vemos necessidade de adotar qualquer ação de simplificação de portfólio”, afirma, em entrevista ao EXAME IN. 

Ainda de olho na frente digital e nos ganhos que podem vir a partir dela, o Itaú BBA lembra que a Sinqia trouxe para dentro de casa João Bolonha (ex-Microsoft e ex-Google) recentemente, de olho em desenvolver novas linhas de negócio que vão além dos serviços prestados tradicionalmente aos bancos.  Isso, é claro, sem deixar de “pescar no próprio aquário”, como afirma Bordenmuller. Não é para menos. Estimativas do banco de investimentos apontam que as instituições financeiras gastam R$ 10 bilhões por ano em software — e estão entre os clientes com os maiores bolsos para gastar com tecnologia no país.

Com fôlego de sobra para crescer, a companhia continua recebendo os olhares atentos de analistas a respeito de como vai continuar desempenhando sua estratégia inorgânica de crescimento. Há confiança, até o momento, de que mesmo com uma liquidez menor do que a de outros pares (como Totvs e Locaweb) a empresa tem diferenciais suficientes para se manter relevante no cenário nacional. Dentro da Sinqia, parece mesmo que um mais um é sempre maior do que dois.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.