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Por que a denúncia anônima de Magalu é bem diferente do caso Americanas

Fato relevante assustou mercado, mas tudo indica que são casos totalmente opostos no varejo brasileiro

Magalu: vendas digitais de terceiros já são uma unidade lucrativa dentro da empresa
Magalu: vendas digitais de terceiros já são uma unidade lucrativa dentro da empresa
Karina Souza

10 de março de 2023 às 13:36

O mercado ficou assustado no início desta manhã com o fato relevante do Magazine Luiza divulgado junto aos resultados da companhia no último ano. As ações chegaram a cair 8%. O motivo é claro: o comunicado contém uma palavra capaz de causar arrepios depois do episódio Americanas: fornecedores. Mas, tudo indica que são casos completamente diferentes no varejo brasileiro. No caso da empresa dos Trajano, o suposto problema não tem nada a ver com risco sacado — alvo do rombo de R$ 20 bilhões na contabilidade da varejista controlada pelo trio 3G. Mas, sim, com uma possível irregularidade em uma transação comercial comum para a companhia em seu relacionamento com distribuidores, que respondem por 3,5% da receita.

Hoje, o Magazine Luiza compra a maior parte das mercadorias que vende de grandes indústrias no país. Contudo, vez ou outra, principalmente para conter eventuais rupturas, a empresa se relaciona com distribuidores — empresas que compram grandes lotes de indústrias e vendem produtos ao varejo. Úteis especialmente para pequenos e médios comércios, no caso do Magalu, desempenham um papel pequeno dentro do estoque da companhia.

Nesse processo comercial, o que usualmente acontece é que, quando uma empresa (como o Magalu) vai se relacionar com os distribuidores, há uma barganha para que a companhia compre um lote grande, ao qual é oferecida uma bonificação pelo tamanho da compra. Essa transação é usual no varejo. O que a denúncia se refere é a uma irregularidade dentro desse tipo de transação, mas sem mais detalhes. É mencionada, na denúncia, o nome dos três distribuidores com os quais isso teria ocorrido, mas os nomes não foram divulgados pela companhia.

A denúncia anônima referida no fato relevante chegou ao conhecimento da companhia há pouquíssimo tempo. Fontes afirmam que foi ontem, pouco antes da divulgação do balanço, que a auditoria responsável pelos dados da companhia recebeu a queixa anônima. A partir dessa comunicação, todo o processo envolvendo os resultados da empresa foi paralisado — o que ajuda a entender o atraso para divulgar os dados financeiros.

Fred Trajano começou o call com analistas (finalizado há pouco) justamente trazendo a mensagem de que a varejista divulgou no fato relevante todas as informações que tem a respeito do assunto. “Boa parte do que podemos falar está inserida no fato relevante e é isso que podemos abrir neste momento. Queria dizer que uma denúncia anônima não deveria tirar o brilho do balanço do último trimestre, em que mostramos uma evolução significativa”, disse. No ano, a companhia conseguiu crescer em receita, ganhar margens e reduzir estoque, reflexo de um trabalho realizado ao longo de todo 2022. 

Surtiu efeito. A queda nos papéis minimizou para 2% no fim da conferência, com pouquíssimas (uma, para ser mais exata) pergunta sobre o assunto. Ao respondê-la, o CEO do Magalu novamente enfatizou que se trata de um ponto sob investigação na companhia e que, tão logo tenha mais informações a respeito, irá divulgá-las ao mercado.

Ainda no assunto fornecedores, Roberto Bellissimo, diretor financeiro e de relações com investidores do Magalu, reafirmou outro ponto relacionado a fornecedores que já havia ficado claro no balanço. A partir de agora, a companhia divulga ainda mais detalhes, de forma separada, de sua relação com fornecedores. Antes, a explicação sobre operações diretas e operações com bancos ficava nas notas explicativas e, agora, aparece de forma separada também na linha relacionada a fornecedores no balanço em si.

Nesse tipo de operação, o Magalu paga o banco na data que pagaria o fornecedor — que por sua vez pode antecipar o pagamento, o que hoje acontece entre 45 e 50 dias (ante 90 dias de pagamento no prazo tradicional de pagamento). É uma operação totalmente diferente da crise da Americanas, o tal falado risco sacado. As diferenças foram detalhadas nesta matéria do EXAME IN.

Com os esclarecimentos feitos já no início do call, analistas focaram a maior parte das perguntas em outros aspectos relacionados aos resultados da companhia. Houve apenas uma pergunta diretamente relacionada ao fato relevante, respondida por Trajano enfatizando que a companhia ainda tem poucas informações em relação à denúncia e que o único dado que pode ser aberto agora é o percentual de receita que estes fornecedores representam. “Quando os trabalhos forem concluídos, iremos apresentá-los”, afirmou Trajano.

 

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.