Política fiscal preocupa, mas não atravessa o samba do crédito
Balanços trimestrais dos maiores bancos privados de varejo apontam expansão de carteiras de crédito até 13% este ano, quase o dobro da inflação
Publicado em 5 de agosto de 2021 às 08:43.
Alavanca de crescimento, o crédito promete dar novamente importante contribuição ao desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Os maiores bancos de varejo do país – Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e Banco do Brasil – acabaram de divulgar os resultados do segundo trimestre. Preservaram o retorno sobre o patrimônio líquido e confirmaram robusto aumento de lucro em relação a igual período do ano passado, quando os balanços sucumbiram a expressivas reservas para cobertura de crédito de liquidação incerta. O crédito deu fôlego ao desempenho fortalecido dos grandes bancos e a receita de sucesso terá bis, inclusive, porque no segundo semestre historicamente o crédito anda mais rápido.
No comando dos bancos privados, apurou o EXAME IN, a expectativa é de que o desempenho do crédito nos próximos meses será melhor que o observado no primeiro semestre. As operações nos segmentos de agronegócios, imobiliário, consignado, microcrédito, crédito direto ao consumidor para pessoas físicas e também para empresas vão evoluir. Nesse sentido, a acalorada discussão fiscal – hoje focada no pagamento de bilionária fatura de precatórios pelo governo em 2022 – será paralela e não deverá atravessar o samba do crédito. Essa discussão, perturbadora quanto aos desdobramentos para a disciplina fiscal no pós-pandemia, não faz ‘preço’, porém, na engrenagem operacional das instituições que buscam suas metas.
Os recém divulgados balanços trimestrais dos grandes bancos de varejo apontam expansão das carteiras de crédito de até 13% neste ano – avanço significativo se comparado, inclusive, à salgada inflação projetada de 6,8%, segundo a última edição da pesquisa Focus e mais de três vezes superior à estimativa de variação do IPCA, de 3,8%, para 2022. A perspectiva, portanto, é de continuidade do movimento observado no ano passado, quando os empréstimos bancários avançaram 15,4%, o ritmo mais intenso em quase uma década, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Taxas de inadimplência em torno de 2,3%, cerca de 1 ponto percentual abaixo de marcas registradas no primeiro semestre de 2020, trazem conforto às grandes instituições que confirmaram, nos últimos 12 meses, preferência pela concessão de crédito às famílias e às micro, pequenas e médias empresas. E não por acaso. É fato que as operações com pessoas jurídicas foram amparadas sobretudo por linhas emergenciais. Mas é fato também que, nos últimos três meses, as perspectivas para o cenário econômico desanuviaram com a vacinação acelerada, aumento da confiança e contagem regressiva para a retomada plena de atividades nas maiores cidades do país.
Foco na reabertura
No Relatório da Administração referente ao primeiro semestre, divulgado na quarta-feira com o resultado do segundo trimestre, o Banco do Brasil afirma em que pese a elevação da taxa básica de juros, o ambiente econômico mais favorável, a evolução do processo de imunização da população e a maior reabertura das atividades têm contribuído para a evolução do crédito no sistema financeiro nacional, com a aceleração de linhas ligadas ao consumo das famílias, investimentos e capital de giro para as empresas.
Embora as questões fiscais fiquem à margem de cronogramas e metas operacionais nos grandes bancos, decisões por ora em avaliação no Congresso interessam e muito. Esse é o caso da revisão do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF). O reajuste da tabela – congelada desde 2015 – poderá injetar na economia até R$ 20 bilhões. Esses recursos poderão ser destinados ao consumo ou a pagamento de dívidas.
Estudo recente do Departamento de Pesquisa Econômica do Itaú Unibanco, assinado pelos economistas Claudia Bruschi e Pedro Schneider, estima que o reajuste da tabela do IR ampliaria o número de brasileiros beneficiados em 45%, dos atuais 11 milhões de pessoas para 16 milhões. De acordo com os economistas, a expansão potencial de consumo seria maior nas faixas de renda de 3 a 6 salários-mínimos e tende a beneficiar mais a demanda por serviços e automóveis – segmentos mais demandados pela população enquadrada nessa faixa.
O estudo do Itaú explica que a proposta de reforma do IR atualiza a base do imposto, tendo como contrapartida uma limitação da chamada declaração simplificada com a elevação da faixa de isenção de R$ 1.904 para R$ 2.500. Com essa alteração – considerada quando o estudo foi realizado pelos economistas – 16 milhões de pessoas devem ficar isentas. Portanto, a redução no recolhimento de imposto produziria como efeito um aumento de renda.
Em Brasília, entidades setoriais se revezam em manifestações sobre mudanças que o relator, deputado Celso Sabino (PSDB-PA), vem promovendo em seu parecer. Longe de algum consenso, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pretende votar o texto até quinta-feira.
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