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Petrobras: plano estratégico ‘morde e assopra’ – mas não assusta

Sinais positivos para 2024 e diversificação ‘gradual’ aliviam temores com pé no acelerador no capex

 (Petrobras/Divulgação)
(Petrobras/Divulgação)

10 de janeiro de 2024 às 12:20

O plano estratégico para os próximos cinco anos da Petrobras trouxe um aumento considerável dos investimentos e consolidou no papel a mudança de paradigma que já vinha sendo sinalizada pelo governo e pelo CEO Jean Paul Prates, com mais recursos voltados para a transição energética.  

O pé no acelerador e a diversificação além do core business do petróleo foram sinais amarelos para os investidores. Mas, após semanas de especulação e pressão do governo por uma postura mais ‘pró-cíclica’ da empresa, a forma como os números foram trazidos aliviou em parte os temores do mercado.  Nas mínimas do dia, o papel caiu apenas 1%.  

“O plano não parece minar nossa visão ainda otimista sobre a Petrobras”, escrevem os analistas Pedro Soares e Thiago Duarte, do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) em relatório. “A disciplina fiscal, associada a uma diversificação gradual, ainda deve se traduzir em uma geração de caixa ainda robusta num futuro próximo.” 

“Gradual” é a palavra-chave na diversificação. Pela primeira vez, a Petrobras apresentou seu plano de investimentos dividido entre projetos em implementação e aqueles sob avaliação, que ainda vão demandar estudos atuais.  

Ao todo, a carteira de investimentos até 2028 soma US$ 102 bilhões, uma alta de 31% em relação ao plano anterior, que previa US$ 78 bilhões para os próximos cinco anos. Mas desse valor, US$ 91 bilhões dizem respeito a projetos em implementação e são diretamente comparáveis com o número apresentado no ano passado – uma alta de 17%, portanto.  

Os US$ 11 bilhões restantes dizem respeito a investimentos sob avaliação, que vão demandar, de acordo com a própria direção da empresa, avaliações adicionais sobre a viabilidade financeira do projeto. Desse valor, US$ 6 bilhões se referem a projetos de gás e ‘energias de baixo carbono’ e US$ 5 bilhões a ‘refino, transporte e comercialização’.

“O ritmo e a forma com que eles vão implementar esses ‘projetos em avaliação’ é crucial para entender qual vai ser o retorno da companhia. Sem dúvida, isso torna a tese da Petrobras mais arriscada”, pondera um gestor, adicionando que os riscos já estão de certa forma se traduzindo na volatilidade do papel nos últimos meses. 

Mais capex, menos produção? 

Após a divulgação do plano, Prates tentou deixar claro que o foco da companhia é na exploração e na produção de petróleo. Dos projetos totais em implementação, US$ 73 bilhões – ou 80% do total – serão voltados para esta área. Desse valor, 67% vai para o pré-sal, e para projetos de revitalização em águas profundas e outros complementares, a fim de aumentar os fatores de recuperação de campos já maduros. 

Para os próximos cinco anos, os investimentos em novos reservatórios e em novas oportunidades de exploração de petróleo somam US$ 7,5 bilhões, 25% mais do que no plano anterior. O dinheiro deve ser alocado em iniciativas como a Margem Equatorial e bacias do Sudeste, somando 50 novos poços entre 2024 e 2028. 

Nesse quesito, chamou a atenção o fato de o incremento no capex não ter sido acompanhado por uma melhora nas estimativas de produção para os próximos anos. A Petrobras sinalizou um aumento de 2,7% ao ano até 2028, com a curva caindo a partir de 2025 caindo em relação ao plano anterior, aponta o BTG.  

A estimativa está em linha com as taxas de declínio de produção dos poços. “O presidente da Opep nos mostrou que, nos reservatórios deles, o declínio é de 4% ao ano. Aqui, no nosso tipo de reservatório, nosso declínio é de 10% ao ano. Se a curva de produção fosse constante, isso representaria repor 280 mil barris de petróleo por dia, na média do ano. A curva projetada está bastante consistente com o que temos entregado nos últimos anos”, esclareceu Joelson Mendes, diretor executivo de Exploração e Produção, em coletiva de imprensa.  

Baixo carbono 

O montante a ser investido em novos poços é menor do que os investimentos em iniciativas de baixo carbono, que devem somar US$ 11,5 bilhões até 2028.  

O dinheiro está dividido da seguinte forma: US$ 3,9 bilhões em descarbonização de operações de combustíveis ‘tradicionais’, US$ 5,5 bilhões em energias de baixo carbono — eólica, solar e hidrogênio, por exemplo —, outro US$ 1,5 bilhão em biorrefino e US$ 0,7 bilhão em pesquisa e desenvolvimento.  

 O plano é que o investimento, que hoje soma 11% do capex da Petrobras, chegue a 16% em 2028.  

 “Nesse primeiro momento, vamos focar as tecnologias maduras, como eólica e solar. São as comprovadas, que já têm rentabilidade reconhecida e que são a fonte para produção do hidrogênio verde”, disse Maurício Tolmasquim, diretor de transição energética e sustentabilidade. 

 Mas ele não descartou os investimentos em eólicas offshore, uma das maiores apostas de Prates, mas que ainda não tem sua viabilidade econômica comprovada no Brasil.

“Projetamos investimentos também na área de pesquisa de eólica offshore. Analisar ventos, área submarina, fazer projeto. Para que assim que seja votado o marco regulatório, nós estejamos prontos para participar de projetos”, acrescentou. 

Prates destacou, ainda, que a companhia pode oferecer essa geração sustentável para companhias nacionais, como ArcelorMittal, Gerdau e Vale. “Se isso começar, já vira um continente. Já temos indicações de que nosso offshore da margem equatorial será o mais barato de operar no mundo”, afirmou.  

Em paralelo aos investimentos em energia limpa, o CEO também ressaltou a vontade de a Petrobras se tornar cada vez mais significativa em petroquímica. Um ponto para o qual a Braskem, da qual é acionista, pode contribuir.

Sobre o processo de compra da participação da Novonor na companhia, conduzido pela Adnoc, a Petrobras afirmou que ainda não tem uma decisão tomada. “Não somos nem vendedores nem compradores”, disse o CFO. 

Outro fator aliviou a reação do mercado foi o fato de que, apesar da pressão na perspectiva para o longo prazo, ainda há um cenário de geração de caixa forte para o próximo ano – com a perspectiva de manutenção dos dividendos.  

O capex previsto para o próximo ano cresceu apenas US$ 500 milhões, com uma revisão de 4% na previsão de produção. “Isso deve manter os dividendos em níveis atrativos em 2024 e mitigar, ao menos parcialmente, a surpresa negativa com o valor total do plano e a necessidade de mais detalhes sobre algumas iniciativas”, escreveu a equipe do Safra em nota a clientes.  

Para os próximos anos, no entanto, a companhia sinalizou uma queda na remuneração aos acionistas.  A previsão neste plano é de US$ 45 bi a US$ 55 bi em dividendos e recompra de ações, queda em relação à versão anterior, que previa de US$ 75 bi a US$ 85 bi.  

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.

Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.