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Energia

Na Enel SP, um novo CEO, R$ 6 bilhões e uma missão: deixar para trás o fantasma da crise

Há um mês no cargo, Guilherme Lencastre está contratando 1200 pessoas para evitar novos apagões e quer reforçar a comunicação com a população e as autoridades: ‘Teremos uma postura mais pró-ativa’

Lencastre: executivo há 26 anos no grupo assumiu a operação da distribuidora paulista no começo de junho (Enel/Divulgação)
Lencastre: executivo há 26 anos no grupo assumiu a operação da distribuidora paulista no começo de junho (Enel/Divulgação)
Natalia Viri

Natalia Viri

3 de julho de 2024 às 10:40

Guilherme Lencastre nem bem sentou na cadeira de CEO da Enel São Paulo e já é um dos maiores empregadores da praça: quer contratar mais de 1200 pessoas para reforçar o time de atendimento a contingências e manutenção na cidade e nos 23 municípios do Estado nos quais é responsável pela distribuição de energia.

O executivo, com 26 anos de casa, já era o presidente do conselho da Enel Brasil, que reúne ainda concessões de distribuição no Rio de Janeiro e no Ceará e mais de 6 GW de geração de energia renovável.

Desde junho, numa ampla reorganização administrativa da holding, assumiu o maior ativo do grupo, com a missão de afastá-lo da crise instalada desde o apagão em São Paulo em novembro de 2023, causado por fortes chuvas que deixaram mais de 2 milhões de unidades consumidoras sem energia.

Em alguns casos, foi necessário mais de uma semana para normalizar o abastecimento.

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Desde então, a empresa mergulhou numa crise reputacional e institucional. Entrou na mira do Ministério de Minas e Energia (MME), Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), além de políticos do Estado, como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito da capital Ricardo Nunes (MDB), que chegaram a falar na caducidade da concessão e vem cobrando mais qualidade dos serviços prestados.

“A matriz [italiana] mandou um recado da relevância da operação brasileira, na forma de investimentos de R$ 18 bilhões para os próximos três anos”, aponta Lencastre. Em junho, em visita à Itália, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve um encontro com o CEO da gigante de energia, no qual a distribuidora paulista foi uma das pautas.

“Vamos continuar apostando no Brasil e investir fortemente em manutenção e resiliência”, diz o novo CEO da operação paulista.

Em meio à crise institucional, a venda da Coelce, do Ceará, que era uma possibilidade, foi engavetada. “Vamos manter todos os nossos ativos”, ressaltou, numa resposta enfática à pergunta da reportagem sobre o eventual desinvestimento.

Dos investimentos totais, 80% serão para a área de distribuição e os 20% restantes para a geração, principalmente na fonte solar.

Do montante voltado para as distribuidoras, R$ 6,2 bilhões serão direcionados à concessão paulista. São R$ 2 bilhões de investimentos por ano, 40% a mais que os R$ 1,4 bilhão que vinham sendo aplicados nos últimos anos.

Como serão usados os recursos

“Quando compramos a Eletropaulo, em 2018, esse patamar girava em R$ 800 milhões anuais. Já tínhamos aumentado os investimentos e estamos aumentando novamente”, ressalta.

A avaliação é que o apagão de novembro foi causado por um evento climático extremo, com ventos que chegaram a velocidades nunca antes registradas na capital e região metropolitana.

Mas a empresa não se furta à sua responsabilidade. “Precisamos ter uma rede mais resiliente e atender as interrupções e situações extremas com mais prontidão.”

Os recursos vão ser usados principalmente em manutenção preventiva e reforço da rede. O número de podas de árvores, que foi de 340 mil em 2023, passará para 600 mil neste ano.

Serão feitos investimentos ainda em automação, com redundâncias na rede de distribuição, e tecnologias como o ‘self-healing’, que viabiliza a manutenção sem a necessidade de atendimento presencial, que permitem recobrar o atendimento de maneira mais rápida em casos de interrupção e

Tudo isso vai demandar mais equipe em campo. Os 1200 funcionários que serão contratados para a operação paulista respondem a 15% de todo o headcount da Enel Brasil, considerando geração e as demais distribuidoras.

O atendimento de call center poderá ser dobrado conforme a necessidade. As equipes de campo, que vão ser alocadas em diversas atividades no curso normal das operações, podem ser rapidamente mobilizadas para atender casos de emergências.

“Antes, tínhamos protocolo para três níveis de contingências. Depois do episódio de novembro, criamos um quarto”, diz Lencastre.

Um banho de imagem

Além do aspecto operacional, com temperatura da fervura institucional começando a abaixar, outro ponto que está na mira de Lencastre é a reputação e o relacionamento com o que chama de todos seus ‘stakeholders’.

As distribuidoras, de maneira geral, têm um desafio de imagem por ter a marca que estampa, todo mês, a conta de luz dos consumidores. Mas a crise de novembro colocou a companhia num novo patamar de reclamações num período especialmente crítico: nos próximos dois anos, vencem as concessões de todas as distribuidoras do grupo no país.

Um novo decreto já lançou as bases para o processo de renovação, que não vai necessitar de novas licitações e não demandará outorgas. Mas os critérios de qualidade e de resiliência climática foram apertados.

Lencastre comenta pouco sobre a renovação, e diz apenas está a empresa está satisfeita com as linhas gerais do decreto e acompanha de perto a regulamentação. A Aneel tem cerca de quatro meses para lançar as regras oficiais, que preveem antecipação da renovação.

Em paralelo a isso, a Enel São Paulo vem reforçando também seu time de relações institucionais e de comunicação. “O consumidor vai ver a equipe da Enel trabalhando na manutenção e já vai sentir a diferença no próximo verão”, garante.

Fontes que conhecem de perto a Enel afirmam que, nos últimos anos, por orientação da matriz italiana, a empresa tinha tirado o pé no relacionamento com autoridades, especialmente as municipais e estaduais, o que ajuda a entender a reação virulenta de prefeitos e do governador após a crise de novembro.

Lencastre diz que não houve orientação nenhuma desse tipo, mas reconhece que era preciso azeitar melhor a relação.

Agora, a Enel tem contato direto com a maior parte das prefeituras, que já têm grupos de Whatsapp e protocolos para salas de crise em casos de episódios de interrupção mais severos.

Há também uma relação mais próxima com o governo do Estado, com um protocolo sendo finalizado para as “contingências de nível 4”.

Prestadora de um serviço essencial, cabe à empresa a máxima da mulher de César, que além de ser honesta precisava parecer honesta. “Queremos ter uma postura mais pró-ativa e mais próxima com o consumidor, ser percebido como alguém que está trabalhando o tempo todo”, diz.

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.

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