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Movida: lucro cai 64% no 3º trimestre, mesmo com diária recorde

Companhia vai mudar estratégia de locação, com veículos ‘premium’ mais presentes na divisão de Seminovos, enquanto os 1.0 devem ser a maioria da renovação de frota daqui para frente

“Nosso posicionamento, desde o início, foi ir para o digital, encantar com nível de serviço. E nos apoiamos para o futuro com a mudança de hábitos, de mais gente alugando por mais tempo, utilizando o aluguel como parte da própria rotina", diz Renato
“Nosso posicionamento, desde o início, foi ir para o digital, encantar com nível de serviço. E nos apoiamos para o futuro com a mudança de hábitos, de mais gente alugando por mais tempo, utilizando o aluguel como parte da própria rotina", diz Renato
KS

7 de novembro de 2022 às 19:32

A Movida teve um lucro líquido bem menor do que o registrado no mesmo período do ano passado, mas a mudança no foco da companhia para continuar crescendo daqui para frente pode  fornecer um ânimo adicional ao mercado. Uma coisa de cada vez. Olhando para os resultados dos três meses encerrados em setembro, a companhia fechou o trimestre com lucro líquido de R$ 93,7 milhões, queda de 64% na comparação com o mesmo período do ano passado e de 49,8% em relação ao trimestre anterior. 

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O impacto vem principalmente pelo aumento no custo da dívida --- uma das principais dores de cabeça do mercado relacionadas à Movida ---, atrelada principalmente ao custo de aquisição de novos veículos (frota). No período, a empresa também adquiriu a empresa Drive on Holidays, iniciando a expansão internacional, mas se trata de um custo marginal diante do operacional que o lado brasileiro demanda. Segundo o CEO, Renato Franklin, a aquisição teve um peso menor nas contas, uma vez que a empresa portuguesa contava apenas com 3 mil veículos (sendo que, em um mês, a Movida costuma comprar, em média, 10 mil aqui no Brasil), lembrando que a estrutura de tíquete médio da empresa estrangeira é similar à brasileira.

É importante olhar para esse fator porque ele — a renovação de frota — será conduzido de forma diferente da registrada da pandemia até aqui. Na prática, a Movida vai se adaptar à dinâmica de um mercado com juros mais altos e de uma rotina sem as restrições sociais da pandemia. Como isso vai acontecer? A empresa vai concentrar a maior parte dos investimentos em novos carros em veículos mais simples (motor 1.0) enquanto vai vender SUVs na área de Seminovos, impulsionando os ganhos dessa divisão em relação aos veículos usados vendidos hoje. 

Na pandemia, o combo de home office integral e juros baixos fazia com que a diferença entre alugar um carro mais simples ou um SUV fosse pequena — um cenário que impulsionava, no fim das contas, o aluguel por carros maiores. Com o fim das restrições sociais e o aumento dos juros, que distanciou os preços de aluguel, a empresa percebe um aumento de demanda por veículos menores, mais simples, e se adapta a isso. 

“Não esperávamos que a indústria automotiva já fosse ter disponibilidade desse tipo de carro, 1.0, mas isso está acontecendo. Isso vai trazer um efeito para a empresa de comprar veículos mais baratos e vender mais caro, o que melhora nossa estrutura de capital de giro e, no fim das contas, também melhora o ROIC”, diz Franklin, ao EXAME IN

O ritmo de aumento de preços das diárias deve ser mantido, segundo o executivo, acompanhando o repasse dos juros. O que vai acontecer, obviamente, é que a diária média se tornará mais cara, mas os preços vão subir menos do que se a companhia mantivesse o mix atual. E, junto a isso, estarão os ganhos de seminovos mais caros sendo vendidos, o que deve ajudar a manter os patamares operacionais em alta.

Nos três meses encerrados em setembro, a receita líquida avançou 66,1% na comparação anual, para R$ 2,6 bilhões, reflexo tanto do aumento da demanda quanto de mais um repasse dos juros mais altos para o preço de locação. 

Em detalhes, a tarifa média de Rent a Car (aluguel de carro para pessoa física) atingiu o recorde de R$ 139, evolução de 44% em relação ao mesmo período do ano anterior. O volume cresceu 14% ano a ano e, ao todo, foram 4,5 mil novos carros no trimestre. A receita líquida foi de R$ 732 milhões e a margem Ebitda da divisão aumentou 10 pontos percentuais ano a ano, chegando a 62,5%, um fator atrelado à escala e à retomada das atividades presenciais. 

Na vertical de gestão de frotas, a quantidade de carros cresceu 38% na comparação anual e a receita por carro aumentou 22%, totalizando R$ 533 milhões no período. A receita líquida foi 64,7% maior, chegando a R$ 473,3 milhões. A margem Ebitda também cresceu, chegando a 70%. 

Seminovos, por fim, é a vertical cresceu no período, mas a margens menores — fruto do cenário de normalização de preços de carros usados. A receita foi de R$ 1,4 bilhão no período. 

O Ebitda, no período, foi de R$ 925,3 milhões, aumento de 51% na comparação anual. No acumulado do ano, o resultado é mais do que o dobro do registrado nos nove meses correspondentes em 2021. 

No trimestre, a margem Ebitda sobre a receita líquida total teve queda de 3,6 pontos percentuais no período, fechando os três meses em 39,1%. A queda, segundo a companhia, se deve principalmente à normalização das margens de venda de seminovos e à contribuição delas no ‘bolo’ total. Em números: se a margem ebitda da divisão em condições pré-pandemia era de 1% a 5%, na pandemia chegou a 22% e agora está em 10%. O efeito dessa queda com a margem do aluguel subindo é o que traz o percentual apresentado. 

“Os resultados refletem muito a nossa decisão de renovar e crescer a frota. A quantidade de carros dobrou nos últimos dois anos e os ativos triplicaram de valor, saindo de R$ 5 bilhões para R$ 15 bilhões. Além disso, em dois anos, trouxemos dois milhões de clientes, o que continua reforçando nossa execução acertada”, diz o CEO. 

No trimestre, o resultado financeiro foi de uma despesa de R$ 513,7 milhões, aumento de 28% em relação ao mesmo período do ano anterior. O aumento é resultado tanto dos juros maiores no período atual quanto da renovação de frotas, responsável pela maior parte dos R$ 6,1 bilhões de diferença entre os três meses encerrados em setembro e o mesmo período do ano passado. 

A dívida líquida no trimestre, um dos principais alvos de preocupações do mercado, é de R$ 11,5 milhões, com cobertura do caixa de 3,2 anos. A maior parte das amortizações deve ocorrer em 2025 e 2026, como mostra a companhia.

Novas divisões: Drive on Holidays e SAT

Nos três meses encerrados em setembro, a companhia comunicou a aquisição da empresa portuguesa Drive on Holidays. A ideia, a partir da aquisição, é focar em crescimento orgânico da companhia na região em que atua, de olho em uma concentração maior de um mercado ainda bastante pulverizado. Para ajudar a comandar essa transformação, Pedro Almeida (ex-Unidas) foi contratado pela empresa, em razão do conhecimento do mercado automotivo da Europa. 

“Montamos lá um time de gestão de primeira linha com independência. Tem plano de crescimento, de implantação de tecnologia, de estrutura de loja, para entregar uma proposta de valor bacana com custo baixo e retorno. Consideramos outros países da Europa em um cenário parecido, que tenha espaço para a gente fazer bons negócios, mas estamos olhando com bastante serenidade”, diz Franklin.

Além da novidade fora do Brasil, a companhia comunicou também no balanço uma nova marca, a SAT, de rastreadores e serviços de assistência. A divisão deve se dedicar a inteligência de mercado, tecnologia, além de aumentar o nível de serviço e otimizar custos. A ideia é que os serviços sejam prestados primeiro para a Movida, depois para as empresas do grupo e, por último, para eventuais clientes que tenham interesse.

A iniciativa surgiu a partir da busca da companhia por entrar nesse mercado, que acredita ainda ter um nível de serviço inferior ao ideal. A Movida chegou a analisar startups para comprar dentro desse mercado, mas, no fim das contas, decidiu fazer tudo dentro de casa, contratando um time experiente para isso. À frente da divisão está Jorge Bau (fundador da CEABS, uma das principais empresas no ramo, posteriormente vendida ao Bradesco).

“A gente entende que tem um pedaço de inteligência, principalmente, que é mais complexo do que o pessoal imagina. Montar uma startup para fazer rastreamento é fácil. Ter a inteligência de prevenir fraude e recuperar carro, não é trivial”, diz Franklin. 

De olho principalmente nessa frente, a companhia já está aportando a inteligência da nova divisão nos carros, sendo que hoje, está perto de ter toda a frota utilizando os novos recursos para prevenir fraudes. Em paralelo a esse trabalho de desenvolvimento de modelos e de aprofundar análises, a empresa também está colocando em prática a parte de assistência 24 horas da divisão — até mais cedo do que inicialmente previa o cronograma — principalmente em razão de custos altos e que aumentariam cada vez mais, aliado a um nível de serviço considerado baixo. “Ainda estamos na curva para chegar ao padrão que queremos, mas já identificamos ganhos em relação ao que tínhamos antes”, diz o CEO. 

 

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