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Uma estreia na Bolsa? Simpar propõe cisão da Vamos e fusão com a Automob, de concessionárias

Holding quer separar negócio de venda de novos da Vamos, de locação de veículos pesados, e fundi-lo com a sua rede de concessionárias de automóveis que já fatura quase R$ 10 bi

Simpar: Cisão envolve troca de ações, mais um pagamento de R$ 1 bi com dívida a ser contratada na nova companhia (Automob/Divulgação)
Simpar: Cisão envolve troca de ações, mais um pagamento de R$ 1 bi com dívida a ser contratada na nova companhia (Automob/Divulgação)
Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 29 de setembro de 2024 às 18:26.

Última atualização em 29 de setembro de 2024 às 19:53.

Após um jejum de quase três anos de IPOs no Brasil, uma nova empresa pode estrear no pregão nos próximos meses, trazendo para a Bolsa um setor até agora sem representantes listados: o de concessionárias de automóveis.

Essa é a proposta da Simpar, holding da família Simões, que controla a Movida, de aluguel de automóveis, a JSL, de logística, e a Vamos, de locação de veículos pesados.

Em fato relevante que acaba de ser divulgado, a companhia está propondo uma cisão do negócio de concessionárias da chamada “linha amarela”, que vende caminhões, tratores e equipamentos agrícolas, da Vamos e a união com seu negócio de concessionárias de veículos leves, a Automob, que já fatura quase R$ 10 bilhões.

Numa espécie de listagem reversa, a Automob passaria a ter ações negociadas, abrindo uma plataforma para financiar seu plano de expansão que resultou numa expansão de 15 vezes a receita nos últimos quatro anos.

O negócio ainda tem potencial para destravar valor de um negócio menos conhecido pelo mercado dentro da holding Simpar.

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A família Simões atua em concessionárias desde 1995, quando comprou a Original Autos, que vende a marca Volkswagen. De lá para cá, vem fazendo uma série de aquisições que ganharam tração nos últimos anos, quando o faturamento passar de R$ 700 milhões em 2020 para R$ 9,5 bilhões nos últimos 12 meses encerrados no segundo trimestre.

O EBITDA foi de R$ 457 milhões no mesmo período.

A tese da Automob é de que o setor de concessionárias é muito pulverizado no Brasil e há um amplo espaço para consolidação, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, onde empresas como Lithia e AutoNation faturam mais de US$ 30 bilhões.

O Brasil tem cerca de 5 mil concessionárias, dos quais 1,2 mil pontos pertencem a grupos que tem entre 1 e 4 lojas. Apesar de ser uma das maiores do país, com 120 lojas que vendem 28 marcas, a companhia ainda está presente apenas em cinco estados: São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Maranhão e Mato Grosso do Sul.

A transação

A Simpar está propondo a cisão da Vamos Concessionárias, que tem 72 lojas e faturou R$ 3,2 bilhões nos últimos 12 meses encerrados em junho – separando da Vamos uma unidade que tem um perfil distinto do negócio de locação. (As lojas de seminovos seguem embaixo de VAMO3.)

A Vamos Concessionária vai comprar cerca de 35% da Automob que pertence a Simpar por R$ 1 bilhão, por meio de uma linha de crédito a ser contratada pela nova empresa. A conversão restante se dará por meio de troca de ações.

Pelo desenho apresentado, ao fim do processo, a nova companhia ficaria com uma composição acionária de 64,12% para a Simpar, 21,39% para os minoritários de Vamos e 14,49% para os demais acionistas de Automob, essencialmente donos de concessionárias adquiridas que receberam parte do pagamento em ações.

A transação será submetida à assembleia de acionistas de Vamos, a ser convocada.

Como envolve partes relacionadas, a operação será submetida a um comitê independente formado por três membros, que dará seu parecer ao conselho de Vamos sobre os termos apresentados.

Não está claro se a Simpar votaria na assembleia, mas em operações semelhantes – como a própria reorganização societária que resultou na estruturação da companhia como holding listada em 2020 – os controladores se abstiveram.

O negócio de concessionárias

De acordo com fontes próximas à transação, nos próximos dias, a Simpar deve começar um processo de road show para mobilização dos acionistas de Vamos.

Sem pares comparáveis no Brasil, um dos pontos centrais é detalhar o negócio de Automob, que hoje recebe menos atenção dentro da holding do que seus pares listados. Boa parte dos analistas de sell side atribui à rede de concessionárias apenas o valor patrimonial, de R$ 1 bilhão.

Além do potencial de consolidação, a Simpar vê um grande potencial de valor a ser extraído nos negócios adquiridos, especialmente com a associação de vendas de carros usados além dos novos.

Por terem menor acesso à capital de giro, os players independentes acabam focando mais na venda de 0 km, financiados pelas montadoras. Ao entrar nas concessionárias, a Automob tem feito a proporção de carros usados para novos passar já no primeiro ano de 0,3 para 1,3 – aumentando sua margem e as vendas ‘mesmas lojas’.

Outro vetor de receita em concessionárias são os rebates recebidos na originação de financiamento e seguros e, nesse sentido, a lógica é simples: quanto mais escala, maior o poder de barganha e maior a comissão.

Na formação da nova companhia, a tese é que o negócio de venda de caminhões e máquinas agrícolas da Vamos dá um perfil complementar e mais resiliente, dado que a demanda depende de setores como o agronegócio, mais resiliente a crises e ciclos econômicos.

Aqui, o desafio será mostrar que o filme é melhor do que a foto: nos últimos 12 meses findos no segundo trimestre, a Vamos Concessionárias teve EBITDA negativo, em R$ 39 milhões – reflexo, em grande parte de uma ressaca nas vendas em 2023, dado que o ano anterior concentrou uma grande compra de caminhões em antecipação à mudança do padrão Euro 5 para Euro 6.

Para a Simpar, o negócio pode dar ainda um alívio relevante ao endividamento. No fim do segundo trimestre, a empresa tinha uma dívida líquida de R$ 3,3 bilhões, equivalente a 3,8 vezes o EBITDA dos 12 meses anteriores.

A Simpar está sendo assessorada pelo Morgan Stanley e a Vamos, pelo BTG Pactual (do mesmo grupo de controle de Exame.)

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.

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