Fernando Simões, da Simpar: Reforma tributária é oportunidade a ser explorada daqui para frente
Em coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira, CEO do grupo controlador de Movida, Vamos e JSL apontou perspectivas para o futuro e ressaltou que grupo está 'bem preparado' para enfrentar 2023
Publicado em 14 de dezembro de 2022 às 17:26.
Última atualização em 14 de dezembro de 2022 às 18:06.
“Reforma tributária é algo que gostaria de ver. Temos muitos impostos no Brasil, muito complexos e muita gente que não paga. Uma simplificação seria benéfica para todos, inclusive para impulsionar o desenvolvimento social”. As palavras são de Fernando Simões, CEO da Simpar, em coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (14). Foi o único momento em que o executivo da holding — que reúne empresas como Movida, Vamos e JSL — expressou uma expectativa clara e objetiva em relação ao novo governo. Em uma visão mais abrangente, ainda mencionou que “todos os governos trouxeram algo de bom para o país”, que gostaria de ver um plano de renovação de frotas para o país (sem mais detalhes) e afirmou que a companhia está bem posicionada para enfrentar o futuro por trabalhar diretamente com setores relacionados à economia real.
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A Simpar experimentou um crescimento significativo no pós-pandemia. De acordo com os números apresentados no evento, a receita bruta da companhia, considerando o terceiro trimestre de 2022 anualizado, será de R$ 31,7 bilhões, mais do que o dobro do registrado no ano passado e quase três vezes mais do que a de 2019. O Ebitda nesse período também cresceu de forma significativa: em 2022, deve totalizar R$ 7,9 bilhões, ante R$ 2,1 bilhões no pré-pandemia. A última linha do balanço segue prejudicada pela alta de juros, mas, ainda assim, está acima do registrado em 2019. Deve somar R$ 500 milhões ao fim deste ano, menos da metade do registrado em 2021, mas um crescimento significativo em relação aos R$ 319 milhões de 2019.
Os aumentos refletem a melhora do desempenho orgânico, claro, mas também o pé no acelerador da companhia para crescer e conquistar mercado. Somente em 2021, foram 14 aquisições realizadas pelas empresas do grupo. De 2020 a 2022, foram 18. Hoje, ao todo, são sete empresas debaixo do guarda-chuva da Simpar: JSL, Movida e Vamos (listadas na B3), além de CS Brasil, adquirida no ano passado pela Movida, bem como BBC, CS Infra e Automob, ainda sem listagem.
Para o futuro, o CEO vê um crescimento com mais disciplina, num ritmo diferente do que foi visto anteriormente. Ele destaca o Capex líquido do ano, de cerca de R$ 12 bilhões (ante R$ 8 bilhões no ano passado e R$ 2,6 bilhões em 2019) como um fator para entender o crescimento projetado que a companhia tem. Lembra, inclusive, que 90% do investimento em capex está direcionado a veículos e que 98% desse investimento já está contratado para 2023.
Soma-se a isso uma maior disciplina para alocação de capital. A empresa deve fechar o ano com uma alavancagem próxima a 3,1 vezes dívida líquida/Ebitda, um indicador que deve se manter nesses patamares também ao longo de 2023. O motivo, segundo Denys Marc Ferrez, CFO da companhia, está relacionado aos constantes investimentos nas empresas do grupo para atender a uma demanda cada vez maior de clientes. “Ainda assim, saímos de um patamar de cinco vezes em 2016 para o atual”, afirma o executivo, num esforço para mostrar que a empresa não deve fazer grandes esforços daqui para frente. Inclusive, durante todo o bate-papo, ambos os executivos ressaltaram o foco nos negócios que estão dentro de casa em vez de buscar novas aquisições. Não estão descartados bons negócios, mas o foco principal é trabalhar ‘dentro de casa’.
Em uma visão do papel de cada empresa dentro do grupo, o executivo afirma que a busca é por ter uma estrutura cada vez mais independente para as companhias controladas e que há um limite de informações que compartilham entre si, por questões de governança. Questionado a respeito da possibilidade de tornar todas as empresas listadas, o executivo afirma que essa não é a atividade-fim da companhia, mas aponta que a Automob, uma das maiores redes de concessionárias de automóveis do Brasil, seria a empresa mais próxima de fazer um IPO — ainda que os planos não tenham data marcada.
A possibilidade vem a partir da análise das empresas controladas ao longo dos últimos meses e do crescimento que a própria empresa apresenta. Em 2019, tinha uma receita em torno de R$ 600 milhões por ano e, hoje, essa cifra está em R$ 6 bilhões. Nesse meio-tempo, o grupo fez um aporte de R$ 500 milhões de olho no crescimento da companhia. E ainda há espaço para mais, bem mais, na visão de Simões.
“A cada um carro zero vendido pelo grupo, a Automob vendia 0,8 usado. Nas empresas compradas, essa média é de 0,3. Só aí já tem crescimento orgânico contratado. Além disso, há oportunidade de melhorias que refletem no setor como um todo. Por exemplo, por que não posso ter concessionárias abertas 24 horas? Por que quando alguém leva um carro à concessionária para fazer manutenção, já não pode alugar ali mesmo um carro também? É um estabelecimento que, na nossa visão, pode ser ponto focal de relacionamento com cliente”, afirma o executivo.
Outra empresa de destaque para a companhia já em 2023 é a CS Infra, dedicada a encontrar oportunidades em concessões. Em outubro deste ano, a companhia ganhou a licitação para implantar uma série de melhorias no centro histórico de Cuiabá, que envolve a modernização do Mercado Municipal, criação de um estacionamento dentro do Mercado, implantação de Zona Azul e parada de ônibus no centro da cidade. O prazo da PPP é de 30 anos e, ao todo, devem ser investidos R$ 120 milhões por lá.
“A CS Infra não vai ser a maior empresa de concessão. Estamos focados em projetos de médio porte que tragam retorno significativo, com vocação de serviço para as cidades, sem investimento de capex tão relevante”, afirma Simões. Nesse sentido, o executivo não menciona setores específicos prioritários a serem observados, mas realmente o foco em projetos e na rentabilidade de cada um deles, olhando principalmente para leilões a serem realizados.
Em relação às empresas abertas do grupo, seguem as perspectivas otimistas. Na JSL, por exemplo, o executivo ressalta o fato de ser líder de mercado, três vezes maior do que a segunda colocada e, ainda assim, ter apenas 2% do mercado. Para referência de países de primeiro mundo, esse percentual chega a 7%, algo que ele acredita que seja possível para a empresa brasileira construir.
Na Vamos, a companhia aponta como prioridades a expansão da rede de concessionárias e o estoque de ativos como diferencial competitivo. Em 2022, foram acrescidos 18 mil veículos, além de a empresa ter mais de R$ 2,4 bilhões em ativos em estoque, para pronta entrega. Nos próximos 12 meses, sete novas lojas de máquinas agrícolas devem ser inauguradas.
Como diferencial para avançar, Simões ressalta a agilidade do grupo. “A gente consegue comprar caminhão usado de cliente e alugar novo para ele. Respeitamos muito a concorrência, mas acreditamos que temos um diferencial importante nessa agilidade”, diz.
Por fim, em relação à Movida, o executivo voltou a ressaltar que a empresa conta com a frota mais jovem do mercado e que tem como missão se posicionar não como a mais barata no setor, mas com a de melhor custo-benefício. Hoje, a diária média da empresa de aluguel de carros é cerca de 20% maior do que a da principal concorrente, por exemplo. A internacionalização, entretanto, não deve ser uma pauta chave para o próximo ano. A aquisição da Drive on Holidays, por 66 milhões de euros, representa o passo inicial para entender mais sobre o mercado europeu e sobre pontos que não existem no Brasil, por exemplo, como a dinâmica de buyback (como o próprio nome sugere, trata-se de dinâmica que permite que montadoras comprem de volta veículos vendidos às locadoras por um preço pré-definido atrelado à depreciação).
O ESG também deve continuar sendo uma pauta importante dentro da divisão e dentro do grupo. Em 2021, para lembrar, a Movida foi a primeira locadora a emitir um Sustainability Linked Bond. Agora, a Simpar formou, pela primeira vez, um comitê de sustentabilidade dentro do grupo, de olho nas demandas do futuro.
Esse conjunto de iniciativas e de ‘crescimento contratado’, na visão de Simões, traz as ferramentas necessárias para que a empresa possa avançar. “Negócios dentro da economia real tiveram uma oportunidade e tanto na pandemia, de quebrar ou de se desenvolver. Nós conseguimos melhorar e crescer muito, algo que devemos manter daqui para frente”, diz.
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