Líder em whey protein no Brasil, Supley vai às compras para ganhar mais musculatura
Companhia do interior de São Paulo deve faturar mais de R$ 1 bilhão e descarta boatos de venda; mirando um eventual IPO, o plano é crescer com M&As, com dois negócios já no gatilho
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 17 de dezembro de 2024 às 11:10.
Última atualização em 17 de dezembro de 2024 às 15:11.
Com um quarto das vendas de whey protein no Brasil, a Supley ganhou musculatura em 2024. A companhia de Matão, no interior de São Paulo – dona de marcas como Max Titanium, Probiotica e Dr. Peanut – reforçou sua posição de liderança de mercado no país e também garantiu atenção até dos investidores menos afeitos à atividade física ao contratar o Itaú BBA, no fim de 2023, para abrir o capital.
O IPO não veio, já que não houve janela na bolsa. Os rumores passaram a ser de que a companhia estava à venda, com a Cimed tendo sido uma das interessadas no negócio.
Mas não é nada disso, garante Mariane Morelli, fundadora e CEO da fabricante de suplementos. “A Supley não está à venda”, diz de forma enfática entrevista ao INSIGHT. Na verdade, destaca ela, a empresa está na outra ponta da mesa.
Hoje, a Supley tem duas negociações em andamento com acordos de confidencialidade (NDAs) assinados, visando alvos avaliados entre R$ 50 milhões e R$ 100 milhões. “A expectativa é de concluir os M&As nos próximos seis ou sete meses”, afirma Morelli.
Fundada em 2006 por Morelli e seus amigos de infância Alberto e Carlos Moretto, a empresa nasceu com capital próprio e sem recorrer a financiamentos externos. Em 2012, ampliou sua infraestrutura com a construção de uma fábrica em Matão, que permitiu atender à crescente demanda do mercado e, depois, fazer a primeira aquisição: em 2018 comprou a Probiotica, uma das primeiras empresas de suplementos do país, criada nos anos 80.
Agora, as novas aquisições seguem a estratégia de diversificar o portfólio e aproveitar sinergias, como aconteceu em 2023 com a compra de 50% da Dr. Peanut, marca focada em pastas de amendoim. O valor do negócio não foi revelado, mas incluiu a fábrica da Dr. Peanut em Curitiba.
“Tivemos uma grande sinergia comercial, conseguindo colocar o produto em mais canais de venda”, explica a CEO. O impacto foi evidente: o faturamento da Dr. Peanut dobrou, passando de R$ 60 milhões em 2022 para R$ 120 milhões em 2023.
Mercado bombado
O apetite da Supley por novas aquisições reflete o crescimento expressivo do mercado de suplementos alimentares no Brasil. Em 2023, o segmento movimentou R$ 10 bilhões, com destaque para os suplementos de proteína, que atingiram R$ 4,3 bilhões em vendas, segundo dados da consultoria Euromonitor.
O consumo de whey protein e outros concentrados de proteína aumentou 25% entre 2021 e 2023, e a expectativa é de que o mercado continue crescendo a uma taxa composta de 8% ao ano até 2029.
Dentro desse cenário, a Supley se consolidou como líder nacional, com 25% de participação no mercado de whey protein – que tem 50% das vendas concentradas em mais três marcas além da Max Tintanium: Growth, Dux e Integral Médica.
Apesar da demanda crescente, o ambiente macro exigiu jogo de cintura em 2024 para crescer de forma saudável, segundo a executiva. “[O preço da] proteína está na maior alta histórica, com o soro do leite chegando ao maior preço já registrado no país. Isso pressionou nossos custos, e não conseguimos repassar 100%”, diz Morelli.
Para equilibrar crescimento e margem, a companhia tem investido no lançamento de novos sabores e em campanhas de marketing direcionadas, com destaque para a presença nas redes sociais com influenciadores do mundo fitness.
Não é à toa. Embora a maior parte da venda ainda venha dos canais físicos, incluindo lojas especializadas de suplemento, farmácias e supermercados e nos sites especializados, as vendas no próprio ecommerce já são mais de 8%.
Com um portfólio que soma 400 SKUs, entre suplementos, como whey, creatina, e colágeno, além de snacks, a Supley está bem-posicionada para aproveitar a expansão do setor, que tem atraído investimentos de gigantes, como a Danone que tem ampliado sua linha de iogurte proteíco, com a YoPro, e a a Nestlé, que no Brasil comprou a Puravida, em maio de 2022.
Na Supley, a previsão é de que o faturamento de 2024 supere R$ 1 bilhão, com crescimento de 30% no volume vendido e uma expectativa de aumento de receita entre 10% e 15% organicamente nos próximos anos. Com aquisições, a meta sobe para 20% a 25%.
Mas o modelo de aquisição não necessariamente exige controle total das empresas. “Não é mandatório ter o controle do negócio, o que buscamos companhias que tragam valor e sinergias ao nosso portfólio”. Para financiar essas aquisições, a companhia pretende usar caixa próprio ou recorrer a financiamentos, aproveitando seu baixo nível de endividamento.
Enquanto uma abertura de capital continua distante, o foco está na estruturação interna, incluindo a formação de um conselho com membros externos – atualmente os quatro conselheiros são internos.
“Estamos preparando nosso caminho para alcançar um novo patamar de aquisições”, diz a CEO.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado