Fusão de 3R e PetroReconcavo agrada — mas o diabo está no preço
Operá-los juntos poderia trazer sinergias de US$ 1,1 bilhão, defende a Maha
Publicado em 18 de janeiro de 2024 às 10:13.
Última atualização em 18 de janeiro de 2024 às 11:29.
Um negócio que sempre fez parte do imaginário dos bancos e de players do setor de óleo e gás finalmente se transformou em uma proposta. Nesta quarta-feira, depois de anunciar a compra de 5% das ações da 3R Petroleum, a Maha Energy — uma petroleira listada na Bolsa de Estocolmo e que tem o Starboard como maior acionista — enviou uma carta ao conselho da empresa para propor uma fusão de seus ativos de onshore (de exploração em terra) com a PetroReconcavo.
As empresas têm campos vizinhos na Bahia e no Rio Grande do Norte e que antes pertenciam à Petrobras. Operá-los juntos poderia trazer sinergias de US$ 1,1 bilhão, defende a Maha.
“Não é uma ideia louca, tem um racional. É aquele ‘deal’ que todo banco tem no seu discurso e agora vem em proposta. Faz sentido, o diabo vai estar nos detalhes”, diz uma pessoa próxima à PetroReconcavo.
Numa primeira digestão das propostas, acionistas relevantes da PetroReconcavo ouvidos pelo INSIGHT também apontam que o negócio “faz muito sentido” — mas o diabo (como sempre) está no valuation.
“A PetroReconcavo é muito está muito mais barata que a 3R, muito mesmo [no deal]. Nesses termos acho que não sai, vai ter que acontecer uma discussão de preço”, afirma um gestor. "A PetroReconcavo gera caixa, não tem dívidas, ao contrário da 3R. A fragilidade é que ela depende da estrutura de escoamento de 3R, mas de forma geral é uma empresa mais saudável." O maior acionista da Reconcavo é o Opportunity — conhecido pela postura dura nas negociações.
A proposta da Maha, antecipada pelo Brazil Journal, é de que “escala com eficiência”. Numa nova empresa reunindo acionistas da 3R e da PetroReconcavoficariam os ativos onshore. Os acionistas da 3R deteriam 50% dessa nova PetroReconcavo. As operações offshore, que são a exploração em alto mar como as plataformas.
Um outro gestor afirma que, na proposta da Maha, os ativos de offshore, que seriam mantidos na 3R listada, estão avaliados a 4 vezes o EBITDA, o que é muito acima do setor na América Latina. “A PetroReconcavo é negociada a 3 vezes EBITDA e não tem dívida.”
Outro ponto relevante, diz ele, é que a 3R está passando uma dívida “nada desprezível” de US$ 1,4 bilhão para o potencial negócio. “Sempre existiu a preocupação de que, se o petróleo vier abaixo de US$ 70, a 3R podia precisar de um aumento de capital.” Há ainda o valor do comando da PetroReconcavo, que ficaria à frente do negócio combinado. “Na 3R as trocas foram boas, mas ainda não tem a mesma confiança do mercado.”
Uma proposta final só deve ser oficialmente apresentada à PetroReconcavo após avaliação do conselho da 3R. O prazo para esse envio, diz a proposta da Maha, seria 28 de fevereiro.
Apesar de ser listada em Estocolmo, a Maha tem ativos na América Latina, incluindo Brasil. À frente da empresa desde setembro de 2022, Paulo Thiago Mendonça conhece bem a 3R: foi presidente do conselho de 2019 até 2022, quando assumiu como CEO da companhia estrangeira.
A empresa combinada teria reservas de 600 milhões de barris e produção de 80 mil barris diários em 2024, com potencial para gerar aproximadamente US$ 2,1 bilhões em receitas. A título de comparação, a PetroRio — a junior oil mais que negocia a premio em relacao as concorrentes — produz 100 mil barris/dia e tem 800 milhões em reservas. As sinergias operacionais viriam na forma de redução de custos de exploração e manutenção com eliminação de estruturas sobrepostas das duas companhias.
A PetroReconcavo também ganharia mais competitividade, aponta a Maha, já que hoje utiliza uma estrutura de escoamento da 3R. Essa estrutura — formada por terminal, refinaria e unidade de processamento — seria tombada para a nova empresa combinada.
“Com a transação de desmembramento onshore completa, a PetroReconcavo está pronta para se transformar em um gerador significativo de fluxo de caixa e pagador de dividendos, estabelecendo-se com uma posição distintiva no mercado de petróleo e gás brasileiro”, defende a Maha em sua proposta.
A carta observa que tanto 3R quanto PetroReconcavo têm experimentado um desempenho aquém do esperado de suas ações nos últimos meses. A PetroRecôncavo está negociando 43% abaixo de sua máxima histórica, enquanto a 3R está negociando 45% abaixo de sua máxima histórica.
O Gerval, family office dos Gerdau, é o maior acionista da 3R, com 8% do capital. Depois de quase uma hora em leilão, as ações da 3R operam esta manhã em alta de mais 10% e as da PetroReconcavo, 12%.
Saiba antes. Receba o Insight no seu email
Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade
Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado
Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.