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EXCLUSIVO: Gigante de US$ 72 bi e concorrente da WEG, suíça ABB pisa no acelerador

Em entrevista exclusiva, CEO da multinacional diz que plano é crescer – o que inclui potenciais M&As no Brasil

Bjorn Rosengren: CEO global da ABB ressalta planos de crescimento para o próximo ciclo de três anos (ABB/Divulgação)
Bjorn Rosengren: CEO global da ABB ressalta planos de crescimento para o próximo ciclo de três anos (ABB/Divulgação)
Karina Souza

Karina Souza

11 de dezembro de 2023 às 17:12

Em meio a um desarranjo nas cadeias de fornecimento global na pandemia, nos últimos anos a WEG ganhou participação no Brasil -- e em menor grau, fora do país -- em cima das concorrentes internacionais, tanto em motores de baixa tensão quanto em equipamentos para o setor elétrico. 

Mas, agora, depois de um ciclo de três anos focado em aumento de margem, a ABB – líder global nesses setores – acredita que está com a casa arrumada e quer colocar voltar a colocar pé no acelerador.  Em entrevista exclusiva ao Exame IN, Bjorn Rosengren, CEO global da companhia, trouxe o novo mote para o próximo ciclo: o foco estará mais em expansão, orgânica e inorgânica. 

A conversa antecipa parte do plano estratégico que deve ser revelado no próximo dia 30, data em que a companhia fará seu Capital Markets Day na Itália. 

Segundo o executivo, serão realizadas de cinco a dez aquisições por ano, no mundo todo, pelos próximos três anos – incluindo o Brasil. O país ainda é um peixe pequeno para a multinacional, respondendo por cerca de US$ 500 milhões anuais em faturamento, ou metade da receita gerada na América Latina. Em perspectiva, a região inteira corresponde a 4% da receita global da ABB. 

No Brasil, 80% das vendas são geradas a partir da demanda do mercado local e são atendidas principalmente pelas fábricas instaladas no país. Os principais clientes estão na indústria, em setores como mineração, papel e celulose, automotivo, alimentos e bebidas, construção civil, utilities e outros. 

O restante das vendas se divide entre a demanda de serviços de engenharia, também locais, e exportação de produtos para outros países na América Latina e para os Estados Unidos. 

Os produtos fabricados aqui pertencem às divisões de automação de processos (softwares de controle de produção, medição e análise, por exemplo) e de eletrificação (soluções para baixa e média tensão, incluindo infraestrutura de carregamento elétrico, inversores, subestações, interruptores e painéis). A ABB ainda tem, globalmente, outras duas divisões: robótica e motores. 

Daqui para frente, a companhia não deve promover mudanças radicais na forma como opera no Brasil, mas sim dedicar esforços para encontrar parceiros de negócios capazes de ampliar a presença no país, dentro dessas áreas. “Estamos em uma busca ativa por aquisições. Queremos estar cada vez mais próximos dos nossos clientes na jornada de busca por mais sustentabilidade”, diz Rosengren.

Desde a eclosão da pandemia, em 2020, os clientes de fabricantes de equipamentos anteciparam encomendas, de olho em garantir a oferta num momento de quebra das cadeias de produção global. Nesse movimento, eles passaram a dividir as encomendas entre mais de um player – o que acabou favorecendo a WEG no Brasil.

Além da busca por fornecedores mais próximos, a companhia brasileira se beneficiou de sua flexibilidade industrial e da verticalização para ganhar espaço. 

Fontes que acompanham o papel apontam que o diferencial da WEG está no fato de a empresa ter uma das plantas mais eficientes do mundo em motores de baixa tensão, capaz de atender o Brasil e a Europa, além de uma planta no México e uma na China. 

Na pandemia, conseguiu redirecionar a produção do México para atender ao Brasil e liberou o país para atender a Europa, o que permitiu o ganho de market share, enquanto outros players do setor tiveram mais dificuldade de realizar movimentos similares.

Preços em queda

Em 2020, quando Rosengren assumiu a ABB, a companhia divulgou ao mercado metas de crescimento anual para 2023. Entre os principais pontos, estavam contemplados: crescimento de 4% a 7% em receita ao ano (em 2020, a empresa teve queda de 7% no indicador), a evolução da margem EBITDA de 11,1% para 15% e fazer com que o ROIC (retorno sobre capital empregado) saísse de 10,3% para um patamar de 15% a 20%. 

“Nos dez anos anteriores, a ABB havia falhado em entregar o que prometia. Por isso, conquistar a confiança dos investidores foi a prioridade número um, e estamos felizes de ter atingido as metas traçadas”, diz o CEO.

Agora, a fase dois, de olho em crescimento, virá em um ambiente mais desafiador. O preço das commodities caiu, as cadeias de produção se normalizaram e a busca por fornecedores mais baratos tem se acirrado, em escala global.

Isso já fica claro no balanço da empresa. Há um decréscimo de receita desde o início do ano: no primeiro trimestre, foram US$ 9,4 bilhões, cifra que decresceu progressivamente até chegar a US$ 8 bilhões no terceiro trimestre. Para os últimos três meses do ano, a projeção é que a receita fique em um patamar similar.

A WEG teve um comportamento similar, ainda que com uma queda em menor proporção graças à demanda resiliente nas Américas, principalmente fora do Brasil. A receita líquida, que foi de R$ 7,6 bilhões no primeiro trimestre, passou para R$ 8,1 bilhões no segundo e foi de R$ 8 bilhões no terceiro trimestre. 

No meio desse cenário de desaquecimento, ambas têm buscado uma diversificação maior do mix, em meio à acomodação dos custos de matéria-prima, de olho em mitigar o efeito da receita menor sobre a margem Ebitda. A redução, ainda assim, parece inevitável. 

Uma análise feita pelos analistas Daniel Gasparete, Gabriel Rezende e Luiz Capistrano, do Itaú BBA, mostra que a margem Ebitda das empresas do setor chegou ao pico de 22% no primeiro trimestre de 2022 e deve terminar 2024 em 19%. O patamar, ainda assim, fica acima do registrado no pré-pandemia, de 17%. Esse cenário mais duro, de normalização da demanda, deve se manter até o final de 2024, projetam.

A estratégia da multinacional suíço-sueca para reagir a isso é reforçar o portfólio voltado à demanda por eficiência energética. “O Brasil tem uma das matrizes energéticas mais verdes do mundo. Isso nos dá muitas oportunidades para investimentos, tanto na oferta de geração de energia, com eletrificação, quanto em automação de processos para empresas que querem minimizar a pegada de carbono”, diz o CEO. 

Fora do país, a demanda também existe, para além do momento de curto prazo mais desafiador. Ainda nas contas do Itaú BBA, se a região fizesse um ‘upgrade’ de seus motores industriais — saindo dos que têm maior consumo e menor eficiência para os mais modernos — a economia seria próxima ao consumo da Holanda.

Um ponto que pode contribuir para esse tipo de investimento é o RePowerEU, iniciativa que surgiu como resultado da invasão da Rússia à Ucrânia e que visa acabar com a dependência de combustíveis fósseis antes de 2030. 

Algumas oportunidades concretas já começaram a surgir para a ABB, como resultado desse cenário. Em outubro, a companhia anunciou que vai prestar serviços de engenharia focados em distribuição para a maior planta de hidrogênio verde da Dinamarca, que terá capacidade de produção de 90 mil toneladas por ano. 

Fora da região, a ABB também vai prestar serviços para uma usina de produção de hidrogênio verde na Arábia Saudita, aponta o CEO. “Todas as indústrias precisam se tornar mais eficientes em energia. Há uma ampla gama de oportunidades em hidrogênio, baterias, energia solar e aço verde, por exemplo, e em todas elas a ABB está presente. Mesmo que o mercado de curto prazo esteja ruim, vemos grandes projetos surgindo com potencial de crescimento global”, diz.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.