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Fundos de investimento

Com R$ 50 bi em ativos, SPX tem bateria de novos fundos para 2021

Gestora tem novos produtos em crédito, imobiliário e private equity para lançar em 2021

Leonardo Linhares, sócio e gestor na SPX: plano de novos produtos contempla até venture capital em 2022 (SPX/Divulgação)
Leonardo Linhares, sócio e gestor na SPX: plano de novos produtos contempla até venture capital em 2022 (SPX/Divulgação)
GV

Graziella Valenti

24 de maio de 2021 às 17:05

A SPX, uma das maiores gestoras independentes de recursos do Brasil, vive uma ebulição. E não é apenas pela parceria com a Carlyle, não. Caminhando para ser global, com mais de R$ 50 bilhões sob gestão, a casa terá pela frente novos fundos na área de crédito, imobiliário e private equity. Tudo isso em 2021. “E para 2022 também queremos ter uma célula de venture capital. Parece muito natural e complementar”, conta o sócio e gestor Leonardo Linhares, em entrevista exclusiva ao EXAME IN.

“É tudo um processo. Nada acontece do dia para a noite. Em 2019, já estávamos com essa visão estratégica de internacionalizar mais as atividades. E também achamos que era hora de partir para novas verticais”, completa ele, que estará amanhã no CEO Conference 2021, evento anual organizado pelo BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).

O objetivo, segundo Linhares, é que a SPX seja tão relevante nesses novos negócios quanto é hoje em suas operações mais tradicionais, os fundos multimercado e de ações. Mas o sócio, egresso do BBM em 2012, prefere não comentar valor para cada uma das carteiras nem o agregado esperado.

Todas essas novas frentes têm equipe dedicada para desenvolver os produtos e gerir os investimentos. Em crédito, o primeiro fundo foi lançado em dezembro de 2019. Daí, a pandemia colocou tudo — no planeta inteiro, aliás — em espera. A nova carteira vai ser bastante exposta ao mercado global de títulos.

A gestora já investe globalmente. Na casa, sempre imperou a ideia da diversificação, inclusive regional. Tanto que foi aberto um escritório em Londres, em 2016, e outro nos Estados Unidos, em 2017. Agora, a ideia é que, com o crescimento, a captação, hoje bastante concentrada no Brasil, tenha mais recursos de investidores institucionais, wealth managements e fundos soberanos estrangeiros. “Já temos relacionamentos fora e o Carlyle vai nos dar uma boa visibilidade para isso”, comenta. A absorção dos fundos e do time da operação do grupo americano no Brasil trouxe US$ 780 milhões para dentro da SPX, o equivalente à fatia de investidores brasileiros no portfólio.

Em sua primeira entrevista desde o anúncio da parceria, Linhares disse que o fundo inaugural de private equity da SPX será lançado neste ano, com aporte dos sócios, como sempre ocorre em todas as frentes de negócios, mas sem dinheiro do Carlyle. No acordo, ficou combinado que em transações de grandes tíquetes, o fundo internacional terá opção de participar. “Isso é muito bom porque nos permitirá fazer movimentos grandes se surgirem boas oportunidades. O drama de todo fundo é evitar concentração excessiva. Então ter o Carlyle para coinvestir vai ser estratégico.”

A frente imobiliária também está em vias de trazer novidades. Rodrigo Godinho, sócio responsável pela área de relações com investidores, explicou que a joint venture com a Cyrela Commercial Properties (CCP) foi assinada há 15 dias e que os contatos com clientes acabaram de começar a ocorrer. Com o acordo, Pedro Daltro, ex-CEO da CCP, vai comandar a sociedade.

No mês passado, a SPX lançou também um fundo previdenciário long bias, sob a gestão de Linhares, voltado para investidores qualificados (com mais de 1 milhão de reais investidos). O fundo SPX Long Bias Previdenciário busca replicar a mesma estratégia do carro-chefe da casa nesse segmento, o SPX Falcon. “Estamos nos apropriando bastante das melhorias na legislação previdenciária observadas nos últimos anos para oferecer produtos mais diversificados, de mais alta qualidade para os investidores”, comenta Godinho.

Tudo isso é otimismo com o Brasil, Leo?

“Mesmo com o cenário maisde  curto prazo, entendemos que é hora de o Brasil mudar de patamar. E não acreditamos que vamos voltar para os patamares de juros do passado. Todo esse aumento da dívida tem um espelho que é o aumento da poupança do brasileiro também. Então, existe sim um aumento da profundidade do mercado nacional, com os investidores em busca de novos produtos.” Para ele, isso só muda se houver alguma quebra institucional mais forte. Do contrário, é a tendência de longo prazo, ainda que alguns sustos no caminho.

No mais, Linhares afirma que a SPX nesse momento está muito mais próxima das avaliações de senso comum, na qual todas as atenções estão para a inflação americana, se é temporária ou mais estrutural. “O pior é que nada disso deve clarear nos próximos três meses. Teremos de aguardar um tempo maior para começar a ter resposta.”

Mercado não está barato

“De forma geral, os ativos não estão baratos, mas não estamos pessimistas. Queremos ver mais dados”. Com destaque para os indicadores de salários. “Nossas pesquisas apontam que já tem ocorrido aumentos de salários nos Estados Unidos. É hora de acompanhar esses números. Achamos que o FED já sinaliza esse ano uma redução nos programas de estímulos, mas nada muito diferente do que o mercado está trabalhando”.

Para ele, os excessos que têm ocorrido são em alguns mercados individuais, não de maneira generalizada. “Não é uma bolha. Se não tivermos muitas surpresas na parte de política monetária, não tem porque termos grandes mudanças de movimentos.”

O grande problema, para ele, é chegar daqui uns meses e o FED apontar que a inflação não é transitória. “O mundo está muito alavancado, com muita dívida e precificou um cenário benigno na parte de juros e política monetária”.

Palpite pessoal

Reforçando que é uma visão pessoal, Linhares afirma que seu viés é inclinado a acreditar que parte da inflação desse momento vai sim ser incorporada de forma estrutural. Alguns fatores de longo prazo — na verdade, longuíssimo — levam o especialista a crer nesse cenário.

“Por anos, a globalização atuou pela redução de custos. Agora, vivemos um movimento contrário. Muitas cadeias globais construídas estão voltando a ser nacionalizadas”, pontua. Além disso, ele acredita que haverá uma tendência de aumento de salários no curto e médio prazo pressionando também a favor da inflação. “Toda discussão de demografia aponta para isso”, comenta.

Ele elenca uma série de eventos: desde a inserção da mulher no mercado de trabalho, ao longo das últimas décadas, o que ampliou a mão-de-obra disponível, até o atual envelhecimento da população global. “Esse envelhecimento não só reduz o número de trabalhadores disponíveis, ele também amplia a necessidade de serviços para atender essa parcela da população.”

E o Brasil nesse contexto?

“Estamos desperdiçando uma enorme oportunidade de estar voando.” Para Linhares, se a questão na saúde tivesse sido mais bem conduzida, a economia estaria melhor, a inflação menos pressionada, o real mais valorizado e o país, com mais credibilidade.

Segundo ele, a preocupação já está em 2022. Neste ano, a queda da dívida bruta de 89% para 86% do PIB deve ajudar a salvar um pouco o clima. Mas, ano que vem, o risco orçamentário volta com tudo.

Nesse momento, o tema atual do mercado local é reabertura da economia e o crescimento que vem com ela. No seu entendimento parte importante da rotação que migrou recursos dos ativos de risco e crescimento no longo prazo para negócios mais old economy já ocorreu, mas o desfecho vai depender da inflação americana. “De novo, eu não estou diferente do senso comum dessa vez.”

 

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