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Gestores de fundos

Com R$ 2,4 bi em crédito privado, Ibiuna opera em menor nível de risco à espera de correção

"Muitos fundos, inclusive os líquidos, estão comprando ativos abaixo da própria taxa de administração", afirma a gestora Vivian Lee

Vivian Lee, gestora de crédito da Ibiuna Investimentos: "Tenho dito há meses que os ativos estão caros, mas continuo sendo surpreendida, pois os spreads seguem diminuindo" (Leandro Fonseca/Exame)
Vivian Lee, gestora de crédito da Ibiuna Investimentos: "Tenho dito há meses que os ativos estão caros, mas continuo sendo surpreendida, pois os spreads seguem diminuindo" (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 19 de outubro de 2024 às 08:09.

Gestora de crédito privado da Ibiuna Investimentos, Vivian Lee tem mantido seus fundos em uma posição defensiva, diante de retornos potenciais cada vez menores e riscos crescentes. A categoria de fundos de crédito privado continua atraindo grandes volumes de capital, com estudos internos da Ibiuna indicando uma captação próxima de R$ 300 bilhões em 2024 em fundos voltados para dívidas corporativas.

Essa grande alocação de recursos tem levado a uma redução significativa dos spreads, especialmente para emissores de alta qualidade. O spread é a diferença entre o retorno de um ativo de crédito privado, como uma debênture, e os títulos públicos. Em alguns casos, emissões de empresas com alta nota de crédito chegam a ter spreads negativos, oferecendo ao investidor apenas o benefício da isenção de imposto de renda.

"Tenho dito há meses que os ativos estão caros, mas continuo sendo surpreendida, pois os spreads seguem diminuindo", afirma Lee. Entre as maiores gestoras independentes do país, a Ibiuna tem R$ 18 bilhões sob gestão, sendo R$ 2,4 bilhões em crédito privado.

O fechamento dos spreads impulsionou o rendimento dos fundos de crédito recentemente, mas a expectativa é de que os retornos futuros sejam mais modestos, devido ao menor espaço para valorização. A boa performance recente, as altas taxas de juros e mudanças regulatórias que levaram ao desmonte de fundos exclusivos estão entre os fatores que explicam a forte captação.

"Para os ativos de maior qualidade de crédito, atingimos patamares muito agressivos. Muitos fundos, inclusive os líquidos, estão comprando ativos abaixo da própria taxa de administração", alerta Lee.

Ela acredita que esses preços não são sustentáveis a longo prazo. "Além de não haver mais margem para novos fechamentos de spreads, os investidores estão buscando retornos maiores em títulos de longo prazo, o que aumenta os riscos."

Para se proteger, Lee tem aumentado a posição de caixa e focado em ativos de vencimento mais curto, que são menos sensíveis a uma eventual abertura dos spreads. "Estamos operando nos menores patamares de risco."

Embora veja os preços atuais como insustentáveis, Lee não identifica um gatilho iminente para a abertura dos spreads. Porém, com pouco espaço para novas quedas, a lógica e o histórico de surpresas do mercado brasileiro sugerem que uma correção é provável.

Outra estratégia adotada por Lee para mitigar riscos é diversificar internacionalmente e incluir ativos estruturados no portfólio. Aproximadamente 15% dos fundos estão alocados em títulos de emissores latino-americanos e 12% em fundos estruturados locais.

"O mercado de crédito é muito cíclico. Já vimos algumas vezes ajustes por evento de crédito ou por fluxos. Estamos nos preparando para um movimento de ajuste, que não sabemos exatamente quando vai acontecer, mas que deve acontecer em algum momento."

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Guilherme Guilherme

Formado pela Universidade Metodista de São Paulo. Cobre mercado financeiro na Exame desde 2019. Também trabalhou na revista Investidor Institucional e participou do 9º Focas de Jornalismo Econômico do Estadão.

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